
Indígena, vítima da escravidão.
Ana Bastarda foi uma mulher indígena cuja história se tornou notável por seu testamento, datado de 1676. Nele, ela se identificava como filha da índia Simoa e de Eliador Eanes, descrevendo-se como “pobre, solteira forra e liberta”. No documento, Ana fazia um apelo ao vigário para acolher sua filha, Mariana, em sua casa, com o propósito de “ensinar e doutrinar no amor e serviço de Deus”. Além de Mariana, Ana era mãe de Mateus, filho de Inácio do Prado, com quem vivia.
Segundo Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, autores do Dicionário Mulheres do Brasil, a condição de mãe solteira era comum entre mulheres empobrecidas no período colonial. No caso de Ana, essa situação era agravada por sua origem indígena e pelo fato de ter sido, em algum momento, escravizada. Mesmo livre, Ana enfrentava uma realidade de extrema pobreza e uma constante ameaça à sua liberdade, resultado de uma sociedade marcada por um sistema colonial racista e opressor.
Nesse contexto, o testamento de Ana Bastarda não foi apenas um registro legal, mas também um instrumento para afirmar sua condição de mulher livre e tentar garantir algum nível de segurança para seus filhos em um ambiente profundamente desigual. A coragem de Ana ao ditar seu testamento reflete sua resistência e determinação em lutar pelos poucos direitos que poderia reivindicar em meio a uma ordem colonial que sistematicamente desumanizava os povos indígenas.
Palavras-Chave/TAG: #revolta #escravidao #colonialidade #justiça #resistencia
Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil e Mulheres Negras do Brasil por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Cia das Letras, 1995.
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.