• Ana Montenegro (1915 – 2006)

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5 de junho de 2025 por 

Jornalista, cronista, militante feminista comunista e primeira mulher em exílio durante a Ditadura Militar de 1964.

Ana Lima Carmo, nasceu no dia 13 de abril de 1915, na cidade de Quixeramobim, sertão do Ceará, filha de Sila Vaughness Correia Lima e Paul Elpídio Vaughness. Ana Lima Carmo, mais conhecida pelo nome literário Ana Montenegro, foi uma mulher nordestina reconhecida por seu ativismo comunista, para além de sua carreira literária tornando-se uma ativista incansável pelos direitos das mulheres. Se mudando desde cedo para o Rio de Janeiro, Ana teve sua militância iniciada desde a juventude. Destaca-se, porém, sua participação em diversas iniciativas promovidas pelos movimentos de esquerda a partir a redemocratização do país em 1945. Filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro em julho de 1945, teve sua ficha de filiação assinada por Carlos Marighella, à época dirigente do partido. Exemplificando seu ativismo, devemos nos lembrar que Ana fundou a União Democrática de Mulheres da Bahia, em 1945 – organização em que atuou até 1964, quando se exilou para se proteger contra a opressão dos militares.

Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil em Dicionário Mulheres do Brasil revelam que a carreira literária de Ana se iniciou ao lado de seu ativismo: “Entre os anos de 1944 e 1947 trabalhou nos periódicos O Momento e Seiva, ambos editados em Salvador (BA), para onde havia se mudado.” Seus escritos em periódicos como Momento Feminino, Correio da Manhã, Imprensa Popular e suas contribuições como cronista e redatora revelam um pensamento aguçado, crítico e profundamente comprometido com a transformação do cotidiano das mulheres. Mesmo no exílio, entre México e Europa, Ana não abandonou a militância. Pelo contrário: internacionalizou suas lutas, atuando na FDIM – Federação Democrática Internacional das Mulheres e denunciando as violências do regime militar brasileiro.

Ana Montenegro também participou da fundação da Federação de Mulheres do Brasil – organização ligada ao PCB à época; da Liga Feminina do Estado da Guanabara, criada em 1959, e do Comitê Feminino Pró-Democracia. Teve papel ativo na criação do jornal Momento Feminino, editado por cerca de 10 anos, a partir de 1947, pelo movimento de mulheres comunistas. Colaborava então com jornais cariocas como Correio da Manhã e Imprensa Popular. Participou ativamente da Comissão Feminina de Intercâmbio e Amizade e da Liga de Defesa Nacional Contra o Fascismo. De 1959 a 1963, foi cronista das revistas Problemas e Estudos Sociais e da Rádio Mayrink Veiga. No ano seguinte, assumiu o cargo de redatora da revista Mulheres do Mundo Inteiro, editada em francês, alemão, espanhol, árabe, inglês e russo. Assinava seus artigos com o pseudônimo de Ana Montenegro, nome que adotou depois definitivamente.

Nesse sentido, citamos novamente Schuma e Érico, pois relembram a atuação de Ana Montenegro neste período: “Dentro do PCB, participou da Frente Nacionalista Feminista desde meados dos anos 1950 até o golpe militar de 1964. Com a ascensão dos militares ao poder, foi a primeira mulher a ser exilada, passando a residir no México, de onde seguiu para a Europa. De 1964 a 1979, foi membro da Comissão da América Latina pela Federação Democrática Internacional das Mulheres.”

De volta ao Brasil, Ana ainda atuou no Fórum de Mulheres de Salvador e na Comissão de Direitos Humanos da OAB/BA – Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Bahia, além de no Conselho Nacional dos Direitos Das Mulheres entre 1985 e 1989, onde atuou como conselheira. Em homenagem à sua extensa atuação comunista, foi fundado o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, filiado à FDIM – Federação Democrática Internacional de Mulheres, tendo a própria Ana Montenegro militado na FDIM em suas décadas de comunismo.

Nos anos 1980, Ana publicou Ser ou não ser feminista e Mulheres – participação nas lutas populares, logo após retornar de seu exílio em 1979, com a redemocratização do Brasil. Já em 1998 publicou Tempo de exílio, refletindo sobre sua trajetória fora do país.

Em 30 de março de 2006, Ana faleceu. Seu caixão foi baixado para a cremação estando coberto pela bandeira vermelha do PCB – Partido Comunista Brasileiro, reflexo de seu comprometimento com o comunismo no Brasil e no mundo. Foi assim que pôde rever Miguel, filho de Ana com seu marido Alberto Carmo. Ana teve 2 filhos durante seu casamento, e infelizmente teve que se despedir de Miguel durante seu exílio, quando o rapaz faleceu. O velório de Ana Montenegro aconteceu na Câmara Municipal de Salvador, que viveu as últimas décadas de sua vida na Bahia, na presença de familiares, amigos e admiradoras de Ana. Amigos, companheiros de luta e familiares discursaram lembrando a vida, a luta política e em prol das mulheres, crianças e idosos. Sua partida ocorreu apenas 1 ano após Ana Montenegro ter sido uma das 100 brasileiras indicadas para receber o Prêmio Nobel da Paz, em 2005, em reconhecimento de sua extensa luta pelos Direitos Humanos. Dentre as incontáveis homenagens à brilhante intelectual e ativista que nos inspira, importa lembrarmos também da Medalha Tomé de Souza, em 1995, e do Prêmio Nacional de Direitos Humanos, em 2002, refletindo o trabalho de Ana Montenegro em organismos internacionais como a Unesco e a ONU durante seu exílio, assim como sua atuação no Brasil antes e depois do período exilada.

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

Palavras-Chave/TAG: #feminismo #classismo #literatura #lutadeclasse #comunismo #exilio #arte #esquerda

REFERÊNCIAS:

  • Produções acadêmicas:

SCHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Érico Vital. Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade, biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

  • Sites:

Amigos e familiares se despedem de Ana Montenegro. Salvador: A Tarde, 31 de março de 2006. Disponível em: Amigos e familiares se despedem de Ana Montenegro. Acesso em 15 mai 2025.

ANA MONTENEGRO (ANA LIMA CARMO). Alba – Assembleia Legislativa da Bahia. Disponível em: Assembleia Legislativa da Bahia. Acesso em 15 mai 2025.

Ana Montenegro, PRESENTE! PCB – Partido Comunista Brasileiro, 2 de abril de 2018. Disponível em: Ana Montenegro, PRESENTE! – PCB – Partido Comunista Brasileiro. Acesso em 15 mai 2025.

Quem foi Ana Montenegro? Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, 13 de abril de 2018. Disponível em: Quem foi Ana Montenegro? – Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro. Acesso em 15 maio 2025.

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