• Ana Rosa Kucinski Silva (1942 – 1974)

  • Voltar
7 de fevereiro de 2025 por 

Ativista política e vítima da ditadura militar.

Ana Rosa Kucinski Silva, nasceu em 12 de janeiro de 1942, na cidade de São Paulo, filha de Ester e Maker Kucinski, judeus vindos da Polônia. Professora universitária do Instituto de Química da USP – Universidade de São Paulo, casou com Wilson Silva, formando um casal de ativistas. Eles militavam na ALN – Ação Libertadora Nacional, organização de maior expressão no período mais conturbado da ditadura, segundo Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil em Dicionário Mulheres do Brasil. Trata-se de organização dissidente do PCB – Partido Comunista Brasileiro, fundada por Carlos Marighella, que promoveu a articulação de grupos armados visando à realização de operações nas cidades para angariar fundos e finalmente promover a guerrilha rural contra aqueles que perseguiam os contestadores ou colaboravam com a opressão da ditadura. Infelizmente, o casal de militantes desapareceu em 22 de abril de 1974, e nunca mais foi encontrado.

Schuma e Érico destacam a dor das famílias em busca de Ana Rosa e Wilson. Eles impetraram vários habeas-corpus, mas todos foram negados, pois a prisão do casal não era admitida. Essa informação é controversa, pois o general Golbery do Couto e Silva chegou a reconhecer, em dezembro de 1974, que Ana Rosa estava presa numa instituição da Aeronáutica. A família de Ana Rosa também pediu ao Departamento de Estado dos EUA – Estados Unidos da América para que solicitassem ao Brasil informações sobre o paradeiro do casal. A resposta recebida foi a de que Ana Rosa estaria ainda viva, presa em local desconhecido, enquanto Wilson estaria morto. Mesmo assim, Ana Rosa e Wilson nunca apareceram, suas famílias não puderam enterrar seus corpos e os militares nunca reconheceram as mortes.

Segundo a página virtual da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, pesquisas feitas pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos nos arquivos do antigo DOPS/SP localizaram apenas uma ficha sobre Ana Rosa, dizendo “presa no dia 22 de abril de 1974”, e só. Sobre todo o ocorrido, Bernardo Kucinski, irmão de Rosa, testemunhou para o livro Desaparecidos Políticos: “A morte já é um sofrimento suficiente, por assim dizer. Um sofrimento brutal. Agora, a incerteza de uma morte, que no fundo é certeza, mas formalmente não é, é muito pior. Passam-se anos até que as pessoas comecem a pensar que houve morte mesmo. E os pais, principalmente, já mais idosos, nunca conseguem enfrentar essa situação com realismo”. Em entrevista à Veja, Bernardo também revelou que a família foi extorquida em 25 mil cruzeiros por informações sobre Ana – e elas se mostraram falsas.

Ex-sargento e ex-agente do DOI-CODI/SP – Departamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna de São Paulo, Marival Dias Chaves foi entrevistado pela Veja, e mencionou Ana Rosa. Na reportagem de Expedito Filho, de 18 de novembro de 1992, ele relata que um “cachorro” (um ex-militante que prestava serviço aos órgãos de repressão política durante a ditadura como agente infiltrado) delatou o casal, que foi levado para a casa de Petrópolis. Marival acredita que seus corpos foram despedaçados, pois a Casa de Petrópolis ocultava corpos com esquartejamento. É doloroso pensar que este foi o fim de uma brilhante cientista, bacharel em Química pela USP desde 1967, que se tornou professora da instituição na qual se formou. O brilhantismo de Ana Rosa também se percebe na obtenção de seu doutorado em Filosofia em 1972, também na USP. Ana Rosa procurou realizar seus sonhos na academia e na política, buscando formar novos químicos de excelência para o Brasil, assim como buscando a construção de uma sociedade livre, sem a ditadura e suas vítimas.

Em sua memória, Ana Castro publicou o livro Kaddish (Prece por uma desaparecida), baseado nos depoimentos de amigos e colegas de Ana Rosa. São 200 páginas que descrevem Ana Rosa como uma pessoa direta no convívio, por vezes dura, mas afável com aqueles de quem gosta, conforme revelado por Vitor Nuzzi na reportagem Uma prece por Ana Rosa, que tem história resgatada em livro. Vitor relembra que, no ritual judaico, Kaddish é uma oração feita logo depois do sepultamento – infelizmente… Ana Rosa Kucinski nunca foi sepultada por seus familiares.

No dia em que desapareceu, Ana Rosa avisou seus colegas sobre seus planos e saiu do Instituto de Química da USP. Ia almoçar com seu marido no Centro. Quando seus colegas perceberam sua ausência, houve estranheza, e foi então que a família de Ana Rosa foi avisada. Seu irmão conta que ela estava muito nervosa no dia anterior. A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo relembra que o AI-5 havia abolido o habeas-corpus para crimes políticos, de forma que a impetração foi ineficaz para localizar Ana Rosa. Em homenagem a Ana Rosa Kucinski, o Memorial da Resistência de São Paulo traz a página Ana Rosa Kucinski, apresentando uma pequena biografia. Apesar de ainda hoje a CNV – Comissão Nacional da Verdade considerar Ana Rosa como desaparecida, não foi assim que a USP compreendeu a situação. Isso porque Ana Rosa foi declarada como demitida por abandono de emprego, mesmo que todos soubessem que ela foi vítima de seqüestro junto de seu marido. Após a Comissão da Verdade da USP analisar, rever e solicitar a retificação do caso por parte da atual Congregação do Instituto de Química, a presidente em exercício fez veemente defesa da anulação da medida do período da ditadura, e por unanimidade a Congregação anulou a decisão anterior e aprovou um pedido de desculpas formal à família de Ana Rosa. Isso ocorreu em 22 de abril de 2014. Anos antes, em 1995, o processo de desligamento por abandono de cargo já havia sido anulado, pois ela foi reconhecida como desaparecida política.

Palavras-Chave/TAG: #ditadura #judaismo #liberdade #militancia #comunismo #resistencia #comissaodaverdade

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

  • Sites:

Ana Rosa Kucinski. Comissão da Verdade do Estado de São Paulo. Disponível em: ANA ROSA KUCINSKI SILVA – Comissão da Verdade (al.sp.gov.br). Acesso em 17 dez 2023.

Ana Rosa Kucinski. Memorial da Resistência de São Paulo. Disponível em: Ana Rosa Kucinski – Memorial da Resistência (memorialdaresistenciasp.org.br). Acesso em 17 dez 2023.

NUZZI, Vitor. Uma prece por Ana Rosa Kucinski, que tem história resgatada em livro. RBA – Rede Brasil Atual. Disponível em: Uma prece por Ana Rosa Kucinski, que tem história resgatada em livro – Rede Brasil Atual . Acesso em 17 dez 2023.

Categoria: Biografias - Comentários: Comentários desativados em Ana Rosa Kucinski Silva (1942 – 1974)