
Ativista política e vítima da ditadura militar.
Anatália de Sousa Alves Melo nasceu em 09 de julho de 1945, na comunidade de Mombassa, município de Martins, que depois de desmembrado, tornou-se Frutuoso Gomes, no Rio Grande do Norte. Filha de Maria Pereira de Melo e Nicácio Loia de Melo estudou na cidade de Mossoró, onde conclui o curso científico no Colégio Estadual, além de participar de atividades comunitárias local. Tornou-se uma ativista política integrante da organização armada de esquerda PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, dissidência do PCB – Partido Comunista Brasileiro. Com força no Rio de Janeiro e Nordeste, o PCBR começou a planejar operações armadas para implantar a revolução socialista a partir de abril de 1969.
Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil em Dicionário Mulheres do Brasil revelam que com o aumento da repressão o PCBR passou a funcionar na clandestinidade. Este foi o mesmo ano em que Anatália se casou com Luís Alves Neto. O casal mudou-se para Recife e passou a integrar o PCBR, justamente na época em que a resistência armada ao governo militar estava crescendo. A Zona da Mata canavieira em Pernambuco era uma área conflagrada, uma região que desde 1950 tem o movimento camponês com intensa mobilização a partir das Ligas Camponesas. Infelizmente, as Ligas Camponesas foram reprimidas após a instalação do regime militar. Diante disso, a estratégia do PCBR de Anatália era reacender a luta no campo nordestino. Foi por isso que ela e seu marido foram desenvolver trabalho político por lá.
Trágico que seu interesse pela construção de um Brasil mais justo e igualitário a levou a ser alvo da ditadura militar. No dia 17 de dezembro de 1972, o casal foi preso e levado ao DOPS – Departamento de Ordem Política e Social de Recife, onde foram barbaramente torturados. A versão oficial da morte de Anatália é suicídio, mas seu corpo foi encontrado carbonizado no dia 22 de janeiro de 1972, dentro de uma cela. Na reportagem Ex-presos reconhecem locais em que funcionaram o DOI-CODI e o DOPS no Recife, José Adeildo Ramos desabafa e revela que foi obrigado a ver o corpo de Anatália num banheiro da delegacia, e relembra: “Disseram que ela havia se enforcado e ateado fogo na própria saia. Não teria como alguém se matar daquela maneira”. A reportagem revela que a Comissão da Verdade de Pernambuco comprovou a falta de verossimilhança na versão para a morte de Anatália. Foi comprovado que ela foi torturada e estuprada, e que por este motivo seu corpo foi parcialmente queimado.
Em homenagem a Anatália, Esdras Marchezan publicou a reportagem Anatália, presente! Ditadura nunca mais!, mantendo viva a sua memória, relembrando também que em 2014 a justiça autorizou a confecção de um novo atestado de óbito de Anatália, a pedido da família, reconhecendo sua morte como homicídio. A Comissão da Verdade de Pernambuco disponibiliza relatório que diz ter Anatália falecido em 22 de janeiro de 1973, além de falar sobre sua história. Na reportagem Documentário que resgata histórias da Ditadura no Recife, de 2017, foi veiculado sobre o filme Autora 1964, dirigido pelo cientista político italiano Diego Di Niglio. Rodado entre 2015 e 2016, o filme é construído a partir de relatos atuais de vítimas e parentes afetados pela repressão, enquanto no segundo plano o documentário reconta passagens de figuras célebres, dentre as quais Anatália de Sousa. De fato, um filme imperdível, que conta inclusive com uma composição gráfica feita a partir do prontuário do DOPS-PE, demonstrando como era o rosto de Anatália naquela época, em sua juventude.
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Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
- Sites:
Ex-presos reconhecem locais em que funcionaram o DOI-CODI e o DOPS no Recife. CNV – Comissão Nacional da Verdade. Disponível em: Ex-presos reconhecem locais em que funcionaram o Doi-Codi e o DOPS, no Recife – CNV – Comissão Nacional da Verdade (memoriasreveladas.gov.br). Acesso em 17 dez 2023.
MARCHEZA, Esdras. Anatália, presente ! Ditadura nunca mais !. Saiba Mais: 31 de março de 2019. Disponível em: Anatália, presente ! Ditadura nunca mais ! (saibamais.jor.br). Acesso em 17 dez 2023.
PESSOA, Breno. Documentário que resgata histórias da Ditadura no Recife tem exibição gratuita no São Luiz nesta segunda-feira. Diário de Pernambuco: 11 de setembro de 2017. Disponível em Documentário que resgata histórias da Ditadura no Recife tem exibição gratuita no São Luiz nesta segunda-feira | Viver: Diario de Pernambuco. Acesso em 17 dez 2023.
Processo nº 168/01. Secretaria da Justiça do Estado de Pernambuco, Comissão da Verdade de Pernambuco. Disponível em: 5596e4d8-8beb-4ef0-93a8-00c4ab942e43-Anatalia_Melo_Alves-proc.168.01.pdf (comissaodaverdade.pe.gov.br). Acesso em 18 dez 2023.