• Carolina Maria de Jesus (1914 -1977)

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14 de junho de 2023 por 

Escritora, compositora, poeta, ex-catadora de papel.

Carolina Maria de Jesus nasceu no dia 14 de março de 1914, em uma comunidade rural de Sacramento, Minas Gerais. Filha de Maria Carolina e João Cândido, com quem não conviveu. Era descendente de escravizados e, apesar da educação precária, alfabetizou-se, era apaixonada por livros e tinha o hábito de fazer anotações sobre as situações que vivenciava. Carolina Maria de Jesus foi muito influenciada por seu avô, a quem chamava de “Sócrates africano”.

Durante sua adolescência, peregrinou por diversas cidades no interior de São Paulo, acompanhando sua mãe e trabalhando como empregada doméstica. Após a morte de sua mãe, mudou-se, em 1937, para a capital paulista, exercendo diversas funções: empregada doméstica, auxiliar de enfermagem e artista de circo. O contato mais intenso com os livros ocorreu na casa do médico Euríclides Zerbini, quando trabalhava como empregada doméstica.

Em 1948, desempregada e grávida de João José, seu primeiro filho, foi morar na favela do Canindé, às margens do rio Tietê. Depois, teve mais dois filhos, José Carlos e Vera Eunice. Morando na favela, retirava seu sustento e o de seus filhos da atividade de catadora de lixo.

Nos momentos de folga, era uma leitora voraz e continuava a manter o hábito de escrever sobre sua vida e a respeito daqueles que a rodeavam. Em 1955, passou a registrar essas experiências cotidianas em um diário.

Em maio de 1958, um encontro modificou a sua vida. Um repórter chamado Audálio Dantas foi cobrir uma reportagem na favela do Canindé. Durante a reportagem, ele tomou conhecimento dos relatos escritos por Carolina, que narravam os dramas e o cotidiano dela, de sua família e das pessoas com quem ela convivia. Interessado, Audálio teve acesso aos seus escritos e, de imediato, percebeu o material fenomenal que tinha em mãos.

Sem a autorização de Carolina, o jornalista publicou trechos do diário no jornal Folha da Noite. A publicação de fragmentos dos escritos acabou atraindo grande atenção dos leitores. Com isso, Audálio revisou os diários de Carolina e os enviou para uma editora, que os publicou em agosto de 1960, com o título Quarto de Despejo.

A originalidade da obra escrita por Carolina Maria de Jesus deveu-se ao impacto de uma narrativa acerca dos processos de resistência que os moradores de favela realizavam rotineiramente, razão pela qual o livro fez enorme sucesso não só no Brasil, mas também no exterior. O livro tornou-se best-seller, sendo traduzido para 16 idiomas e vendido para, aproximadamente, 40 países.

Nesse livro, Carolina expõe a realidade dos moradores de favelas e os processos de luta por moradia. O livro impacta pela lucidez e crueza com que a escritora retrata as experiências cotidianas desses moradores em uma das cidades mais ricas do país. Carolina recebia 10% do valor de capa na venda de seus livros e o jornalista 5%.

Com o sucesso da obra, Carolina mudou-se para Santana, bairro de classe média em São Paulo. Se, por um lado, o livro escrito por Carolina atingiu uma grande projeção, por outro, ela sofreu discriminação e exclusão por ser uma mulher negra letrada e apreciadora de livros. Em outras palavras, a imbricação da raça e do gênero atravessavam a corporalidade e a subjetividade de Carolina, tornando-a marginal diante do próprio sucesso e do prestígio da sua obra.

Em novembro de 1961, foi editado seu segundo livro, Casa de Alvenaria: Diário de um ex-favelada, que não teve o mesmo sucesso do primeiro. No mesmo ano, incomodada com o racismo dos vizinhos, mudou-se para Parelheiros, periferia da zona sul de São Paulo.

Em 1963, publicou os livros Pedaços da Fome e Provérbios. Apesar de sua grande obra, no início da década de 1970, Carolina enfrentou o ostracismo. Mas, em 1976, com a reedição do livro Quarto de Despejo, as atenções se voltaram novamente para a escritora.

Carolina Maria de Jesus faleceu em 13 de fevereiro de 1977. É uma das escritoras mais lidas do Brasil, tendo influenciado escritoras como Conceição Evaristo.  Sua obra retrata a realidade da pobreza e das assimetrias raciais no Brasil de forma poética e ímpar.

Além dos já citados, deixou os livros Maria, Ra-re-ri-ro-rua, A vedete da favela, Pinguço, Marcha, Acende o fogão, O pobre e o rico, Simplício, O malandro, Moamba, As granfinas, A Maria veio, Quem assim me vê cantando e Macumba. Entre as obras não publicadas, estão dois cadernos manuscritos: o primeiro intitulado Um Brasil para os brasileiros: contos e poemas, e outro do mesmo gênero literário, porém sem título. Estas obras estão guardadas no acervo do Instituto Moreira Salles. Ainda foi publicada, em 1986, obra póstuma denominada Diário de Bitita.

Em 2021, recebeu o título de Honoris Causa da UFRJ, ano em que foi relançado pela editora Companhia das Letras o livro Casa de Alvenaria.

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Ana Laura Becker de Aguiar, Elaine Gomes e Schuma Schumaher.

Palavras-Chave/TAG: #escritora #catadoradepapel #favelada #Antirracista #CarolinaMariadeJesus #favela

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

SILVA, Eliane da Conceição. Carolina Maria de Jesus e a literatura marginal: uma questão de gênero. Século XXI, Revista de Ciências Sociais, v.9, no 1, p.21-52, jan./jun. 2019.

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

  • Sites:

Carolina Maria de Jesus. IMS – Instituto Moreira Salles. Disponível em: Sobre Carolina Maria de Jesus – Instituto Moreira Salles (ims.com.br). Acesso em 22 out 2021.

Carolina Maria de Jesus. Literafro – O portal da literatura afro-brasileira, UMFG – Universidade Federal de Minhas Gerais. Disponível em: Carolina Maria de Jesus – Literatura Afro-Brasileira (ufmg.br). Acesso em 29 out 2021.

Carolina Maria de Jesus ganha título de doutora Honoris Causa da UFRJ. G1: 2021. Disponível em: Carolina Maria de Jesus ganha título de Doutora Honoris Causa da UFRJ | Rio de Janeiro | G1 (globo.com). Acesso em 19 abr 2022.

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