Compositora, maestrina e abolicionista.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga, Chiquinha Gonzaga, nasceu na Freguesia de Sant’Ana, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 17 de outubro de 1847. Era filha de Rosa Maria Lima, alforriada, e do militar José Basileu Neves Gonzaga, branco, de família tradicional ligada à Corte, parente de Duque de Caxias.
O nascimento de Chiquinha Gonzaga foi marcado pelo preconceito e conservadorismo da época, pois a família de seu pai foi contra o casamento com a sua mãe, e Francisca nasceu bastarda, longe do pai, que estava em Pernambuco. Somente em março de 1848, quando retornou ao Rio de Janeiro, José Basileu conheceu a filha e assumiu a paternidade.
Chiquinha Gonzaga teve acesso a uma boa educação, seguindo os padrões da época para as mulheres, aprendendo a escrever, a calcular, o catecismo e alguns idiomas. Seu pai também contratou aulas de piano e educação musical para que Chiquinha se adequasse às demandas do seu tempo, quando os bailes eram frequentes na Corte, tendo como professor o renomado maestro Elias Álvares Lobo. Aos 11 anos, apresentou ao piano uma loa ao Menino Jesus, sua primeira composição, com versos de seu irmão.
Aos 16 anos, Francisca casou-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, parceiro escolhido por seu pai. O noivo tinha 24 anos e era filho de português, tendo herdado os negócios do pai, proprietário de terras e de criações de gado. De presente de casamento do pai, Chiquinha recebeu um piano. Chiquinha engravidou logo após o casamento, sendo mãe aos 16 anos. Em 1864, seu filho João Gualberto nasceu. No ano seguinte nasceu sua filha, Maria do Patrocínio. O piano continuou a ser o grande companheiro de Chiquinha Gonzaga, que passava horas tocando. Isso despertava os ciúmes do marido, que enxergava o piano como o elemento desestruturador da casa.
No contexto da guerra do Paraguai, em 1865, Jacinto precisou viajar para o acampamento do Passo da Pátria, na Foz do rio Paraguai, e obrigou Chiquinha a ir com ele para afastá-la do piano. No entanto, Chiquinha conseguiu um violão para acompanhá-la. As brigas entre o casal eram constantes e o marido exigiu que a mulher escolhesse entre a música e ele. Chiquinha respondeu que não possuía vida sem harmonia e, com isso, voltou para o Rio de Janeiro com seu filho. Porém, logo depois, descobriu que estava grávida mais uma vez e voltou para Jacinto.
Não levou muito tempo para que Chiquinha decidisse sair de casa e deixar o marido novamente. Sua família a condenou pela atitude, seu pai proibiu que seu nome fosse falado em casa e impediu que ela visitasse os outros dois filhos.
Depois de sair de casa e ser renegada pela família, em 1869, Chiquinha foi acolhida por pessoas do círculo musical boêmio do Rio de Janeiro, em especial o flautista Joaquim Antonio Calado, músico popular da cidade que a cortejava. Joaquim introduziu Chiquinha Gonzaga à música popular e dedicou a ela sua primeira música editada, a polca Querida por todos.
No entanto, Chiquinha apaixonou-se e casou-se com João Batista de Carvalho, amigo da família Gonzaga. Os dois tiveram uma filha, Alice Maria, mas a relação durou pouco. Quando saiu de casa foi novamente acolhida por Joaquim Calado e a partir de então ingressou definitivamente no universo musical.
Chiquinha Gonzaga entrou para o Choro de Calado, ou Choro Carioca, onde tocava piano e seu filho, João, tocava clarineta. O grupo era muito conhecido e com isso Chiquinha foi ficando cada vez mais conhecida. A primeira composição de sucesso de Chiquinha, a polca batizada de Atraente, foi composta nesse ambiente do Choro e publicada pela editora de Calado. Chiquinha foi pioneira, sendo a primeira profissional do piano ligada ao Choro, tocando em bailes e recebendo por isso. Com a fama vieram também comentários maldosos sobre ela frequentar saraus, pagodes, entre outros locais considerados masculinos.
Na década de 1880, o teatro musicado fazia muito sucesso e Chiquinha aproveitou para escrever e a musicar peças. Arthur Azevedo não a contratou para musicar seu libreto, Viagem ao Parnaso, por acreditar que uma mulher não seria capaz de realizar esse tipo de trabalho. No entanto, Chiquinha insistiu e em 1885 musicou um libreto da opereta A Corte na Roça que foi muito elogiado. Sua estreia no teatro musicado marcou o início de uma carreira de sucessos. Alguns exemplos de sucesso da época são a música da peça A Filha de Guedes e a valsa Valquíria.
Além de sua carreira musical, Chiquinha também se dedicou às campanhas sociais. Era ativista da abolição e ajudava a arrecadar dinheiro para comprar alforria para os escravizados. Depois da abolição da escravatura, compôs um hino em homenagem à princesa Isabel.
Chiquinha ainda se envolveu na campanha republicana e protestou contra a monarquia. Após ser proclamada a República, Chiquinha ficou desiludida e propagou severas críticas ao governo de Floriano Peixoto no episódio da Revolta da Armada. Nesse período compôs a cançoneta Aperte o botão que foi considerada desrespeitosa pelo governo, que decretou ordem de prisão contra Chiquinha, entretanto, ela não chegou a ser presa.
No final do século XIX, Chiquinha era muito conhecida pela sua divulgação do maxixe, gênero musical que surgiu a partir do esforço dos músicos de Choro em adaptar as músicas aos requebros que eram incluídos nos passos da dança de salão. Com a proximidade do cordão carnavalesco Rosa de Ouro, Chiquinha compôs Ô Abre Alas, música feita especialmente para o carnaval e que até hoje é muito ouvida e cantada.
Chiquinha Gonzaga foi à Europa algumas vezes e morou em Portugal, onde elaborou peças teatrais, organizou espetáculos e compôs algumas músicas, sendo seu talento reconhecido pela imprensa internacional.
Aos 52 anos, Chiquinha conheceu João Batista, jovem de 16 anos, o qual era apresentado como seu filho. Os dois se conheceram ainda no Rio de Janeiro, quando João foi promovido a diretor de harmonia e trabalhava com a maestrina na organização dos concertos. Foi nesse período que começou o romance entre os dois e que durou até o fim da vida de Chiquinha, mas que sempre foi ocultado pela história da maternidade.
Em 1917, Chiquinha fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), primeira entidade de classe a defender os direitos autorais no Brasil. A sede da entidade abriga um busto de Chiquinha Gonzaga, sócia iniciadora, fundadora, efetiva, remida, conselheira e patrona.
Nos últimos anos de sua vida, Chiquinha ia diariamente ao SBAT, onde era reverenciada pelos autores. A maestrina faleceu em casa, no dia 28 de fevereiro de 1935, na antevéspera do Carnaval.
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Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Ana Laura Becker, Elaine Gomes, Schuma Schumaher e Sofia Vieira.
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
- Sites:
CHIQUINHA GONZAGA. Biografia. Disponível em: Biografia – ChiquinhaGonzaga.com. Acesso em 19 jun 2023.