• Joselina da Silva (séc. XX – 16 de junho de 2025)

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11 de julho de 2025 por 

Socióloga, pesquisadora, escritora e militante do feminismo negro e lésbico.

Joselina da Silva foi uma brilhante intelectual brasileira. Aquariana, nascida em 27 de fevereiro, em Duque de Caxias (RJ), filha do erveiro e Babalorixá Manoel Baiano e de dona Dorva, atravessou a vida como quem risca o chão com firmeza e fé, deixando marcas profundas nos campos da raça, do gênero, da educação e da espiritualidade afro-diaspórica.

Numa entrevista para o Baobá Genealógico sobre Memória das Professoras Negras Joselina reconhece o papel fundamental que a avó teve na sua vida “sou da geração em que se aprendia a ler com a avó….. foi possível chegar na escola, aos 06 anos de idade, sabendo ler e contar até cem”. Nunca mais parou de estudar, de pesquisar, de produzir e de contribuir para o pensamento acadêmico antirracista e para o movimento de mulheres negras. Mulher negra de axé, Ekedi de Ogum, Joselina admite que foi sua mãe que a colocou e a manteve no caminho da fé e das tradições religiosas.

Joselina da Silva começou a participar de atividades do Movimento Negro, no final da década de 1970, quando o Brasil vivia sob o regime militar. Envolvida com a construção do feminismo negro foi, ao lado de outras lideranças, uma das organizadoras I Encontro Nacional de Mulheres Negras, ocorrido em 1988, na cidade de Valença (RJ), assim como participou, em 1992, da construção do 1º Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana. Na academia graduou-se no curso de Letras, especializou-se em Sociologia Urbana e tornou-se doutora em Ciências Sociais, em 2005, cuja tese foi União dos Homens de Cor: uma rede do Movimento Negro após o Estado Novo.

Foi integrante do Conselho Consultivo do premiado livro Mulheres Negras do Brasil, publicado em 2007, pela Redeh e Ed. Senac. Joselina passou os últimos anos trabalhando como professora da UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Doutora em Ciências Sociais pela UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Pós-Doutora pela PUCP – Pontifícia Universidade Católica do Peru, contribuiu enormemente como coordenadora do NBLAC – Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de Estudos em Relações Raciais, Gênero e Movimentos Sociais, onde desenvolveu o Projeto de Pesquisa Preservação e conservação: arquivo dos Jornais da Imprensa Negra do Núcleo. Entre 2006 e 2015, integrou o corpo docente do campus Cariri da UFC – Universidade Federal do Ceará, no curso de Biblioteconomia e posteriormente foi redistribuída para a UFRRJ.

Joselina desenvolveu as seguintes linhas de pesquisa no decorrer de sua carreira: (i) Relações Raciais, Gênero, Movimentos Sociais e Religiões Afro-Brasileiras, (ii) Gênero e relações raciais, (iii) A boa filha à casa torna: a narrativa das vítimas de tráfico de mulheres, e (iv) Negros do Nordeste: movimentos sociais após a III Conferência Mundial contra o Racismo. as relações raciais e a Xenofobia (Durban, 2001). Merece destaque o projeto Doutoras professoras negras: o que nos dizem os indicadores oficiais, feito entre 2009 e 2015, coordenado por Joselina. Destaca-se que a página Gênero e Número publicou sobre sua pesquisa, revelando que menos de 3% dos docentes da pós-graduação são negros, e, muitos, sofrendo racismo institucional cotidianamente.

Na imensidão da diáspora, do Rio de Janeiro a Ceará, da Colômbia aos Estados Unidos, Joselina construiu pontes, espalhou sementes, organizou ideias e afetos. Seu legado está vivo nas lutas do movimento negro, feminista e de mulheres negras – tanto nas ruas quanto nas páginas dos livros, artigos e coletâneas que nos deixou. Sua voz está na força da pesquisa que virou o livro União dos Homens de Cor (UHC): rede do Movimento Social Negro, após o Estado Novo e na beleza rebelde da coletânea Encantaria: contos afrolésbicos – onde se expressou sob o pseudônimo Jhô Ambrósia, brilhantemente refletindo sobre amor sáfico e a vida das mulheres lésbicas negras.

Em Movimento Negro Brasileiro: escritos sobre os sentidos de democracia e justiça social no Brasil, que organizou com Amauri Mendes Pereira, publicou o ensaio Encruzilhadas por todo percurso: individualidade e coletividade no movimento negro de base acadêmica, de Alex Ratts. O próprio autor relembra este momento importante de sua vida, em memória de Joselina. Segundo Alex Ratts, mais recentemente, foi Joselina quem o relembrou da potência de Corpos negros educados: notas acerca do movimento negro de base acadêmica, encorajando-o a republicá-lo. Alex revela: “Ambos os textos vão para uma coletânea na qual eu a queria como prefaciadora.” Além disso, é uma das autoras do livro Experiências da Emancipação (Selo Negro, 2011).

Joselina encarou a vida com coragem. Em sua memória, a Fundação Palmares, a UFCA – Universidade Federal do Cariri e o MIR – Ministério da Igualdade Racial, Movimentos de Mulheres Negras e Feminista e amiga/os publicaram notas de pesar frente à passagem de Joselina ao Orum. Referência nos mundos negros, feministas e LGBT+, ela segue entre nós. Reverenciada. Rememorada. Lida. Presente.

Texto escrito por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

Palavras-Chave/TAG: #sociologia #cienciassociais #feminismonegro #feminismolesbico #memoria #mulheres #feminismo #professorasnegras

REFERÊNCIAS:

  • Produções acadêmicas: 

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: Redeh/Senac Nacional, 2007.

  • Sites:

BRASIL. Agência Gov. MIR manifesta pesar pela morte da professora Joselina da Silva. Brasília, DF: 16 de junho de 2025. Disponível em: MIR manifesta pesar pela morte da professora Joselina da Silva — Agência Gov. Acesso em 18 jun 2025.

FERREIRA, Lola. Menos de 3% entre docentes da pós-graduação, doutoras negras desafiam racismo na academia. Gênero e Número, 20 de junho de 2018. Disponível em: Gênero e Número. Acesso em 18 jun 2025.

Joselina da Silva. CNPQ – Centro Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Disponível em: Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Joselina da Silva). Acesso em 18 jun 2025.

Joselina da Silva. São Paulo: Grupo Editorial Summus. Disponível em: Joselina da Silva – Grupo Editorial Summus. Acesso em 18jun 2025.

Joselina da Silva [c.1955-2025].alexratts, Instagram. Disponível em: Instagram. Acesso em 18 jun 2025.

Nota de Pesar: Joselina Silva. UFCA – Universidade Federal do Cariri, 16 de junho de 2025. Disponível em: Nota de Pesar: Joselina Silva – Universidade Federal do Cariri. Acesso em 18 jun 2025.

Nota de pesar pelo falecimento da professora Joselina da Silva. Fundacaopalmares, Instagram, 16 de junho de 2025. Disponível em: Instagram. Acesso em18 jun 2025.

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