Manifesto dois anos da Campanha do Levante Feminista contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio, 25 de março de 2023.
O sistema patriarcal tem na violência contra as mulheres o seu método de sustentação e avanço.
Seja simbólica ou física, seja verbal ou corporal, a violência é a estratégia mais básica do patriarcado na sustentação dos privilégios. Ela faz parte do machismo estrutural.
Na forma de assédio, de estupro, de abuso sexual e psicológico, de espancamento e tortura, a violência é um fato incontestável no cotidiano das mulheres. Banalizar essa prática de homens é uma forma de lançar a cada dia mais e mais mulheres no sofrimento, na insegurança e na injustiça.
No extremo da violência está o feminicídio, crime que se configura quando uma pessoa é assassinada pelo fato de ser mulher. Isso quer dizer que o sistema submete todos os corpos femininos para os fins da sua manutenção, sejam cis, trans, negros, pardos, brancos, indígenas, discapazes ou corpos diversos em geral.
Infelizmente, uma verdadeira epidemia de feminicídios toma conta do país. A violência liberada e autorizada pelo governo fascista levou a um surto de matança que precisa ser estancado.
Falamos em cultura do assédio, em cultura do estupro, mas precisamos entender que há, também, uma cultura do feminicídio. A matança de mulheres não apenas está autorizada, como está estimulada na esfera pública com o avanço da extrema-direita.
Motivos domésticos e familiares levam homens a matar mulheres. Motivos políticos levam homens ao assassinato de mulheres ativistas. Em todos os casos, o assassinato de mulheres é torpe e praticado em cem por centro dos casos, por homens.
Essa monstruosidade faz parte do sistema patriarcal que, infelizmente, se intensifica quando as mulheres são vistas pelos homens como carne ou inimigas que devem ser abatidas.
De fato, a triste constatação a ser feita é que toda mulher está ameaçada de morte no sistema patriarcal.
A matança de mulheres configura um crime contra a humanidade, embora os Estados e os governos não tenham como norma incluir as mulheres como parte da humanidade.
As mulheres são tratadas como se não fizessem parte da humanidade. Contudo, elas são incluídas como alvo, estando todas na mira das armas do patriarcado.
Por isso, os direitos das mulheres precisam passar a ser vistos hoje como direitos humanos.
Por que a luta feminista é também a luta antirracista e anticapacitista. A luta feminista é a luta pela vida, luta pelo direito de viver, ou seja, pelo direito de não ser assassinada.
No universo feminista da luta, falamos das mortas e das sobreviventes, estas que carregam nos seus corpos as marcas da violência e do abandono, inclusive do Estado.
E por isso, devemos nos perguntar: Diante da matabilidade programada, quem ainda se choca com a morte de uma mulher por um homem hoje? Será que as pessoas percebem que as mulheres tem o direito à vida e aos seus próprios corpos?
Dizer que 4 mulheres são mortas a cada dia no Brasil por feminicídio já não comove ninguém. Somos uma fila de prisioneiras com uma sentença de morte nas costas. Os corpos das assassinadas se acumulam, seus filhos choram. O horror foi incorporado na sociedade machista de tal forma que quase ninguém se importa com esse fato.
Tendo em vista que o Brasil é o país que mais mata mulheres trans e lésbicas, o quinto em assassinatos de mulheres cis, o tema do feminicídio precisa ser central nas políticas de Estado, por que acabar com a matança de mulheres é algo central para uma sociedade democrática. Para além da indignação e do discurso, são necessárias medidas concretas para pôr fim aos feminicídios que não cessam de se repetir produzindo injustiça, terror, órfãos e sequelas psicológicas, físicas e sociais nas mulheres sobreviventes.
O Levante Feminista Contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio é uma Campanha pelo direito à vida das mulheres que começou oficialmente em 25 de março de 2021, com o slogan Nem Pense em Me Matar. Desde aquela data, organizações, articulações, coletivos, instituições, parlamentares do campo progressista, dos movimentos LBTQIA+, e entre nós, mulheres negras, indígenas, brancas, quilombolas, ribeirinhas, das águas, das florestas, movimentos de pessoas com deficiência, antiproibicionistas, de diversas regiões do Brasil, se mobilizam para sensibilizar a sociedade e os poderes constituídos quanto à tragédia do feminicídio no Brasil.
A Campanha visa contribuir para alterar o cenário misógino que leva ao feminicídio, chamando a atenção da sociedade para esse crime, denunciando a omissão do Estado e exigindo a proteção da vida das mulheres. O que precisamos nesse momento é de programas consistentes de enfrentamento à cultura patriarcal e racista que leva ao extermínio de mulheres, especialmente as mulheres negras, mais afetadas pelo extermínio.
É imprescindível a união coletiva para lutar por uma verdadeira reforma no Sistema Judiciário e nos órgãos de segurança pública, pela inclusão no âmbito escolar da temática dos direitos humanos, gênero e raça na expectativa de desmontar de vez as ideologias patriarcais capitalistas, racistas e capacitistas que sustentam a violência contra nós, mulheres, em nome de uma noção arcaica de família.
Nem Pense em nos Matar!!!
Nem Pense em nos Calar!!!
Levante Feminista Contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio!