Ativista antifascista, arquiteta, designer, cenógrafa, editora e ilustradora
Achillina Bo, mais conhecida como Lina Bo Bardi, nasceu em Roma (Itália) em 05 de dezembro de 1914. Estudou arquitetura na Universidade de Roma na década de 1930, mas foi em Milão que começa ganhar notoriedade. No período da II Guerra Mundial enfrentou momentos difíceis e escassez de serviços, tendo inclusive seu escritório bombardeado pelas forças inglesas.
Em Milão trabalhou com o arquiteto Gió Ponti, líder do movimento pela valorização do artesanato italiano e diretor das Trienais de Milão e da revista Domus. O Escritório de Arte revela que a jovem Lina Bo Bardi: “Em pouco tempo ela própria passa a dirigir a revista e a atuar politicamente integrando a resistência à ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e colaborando com o Partido Comunista Italiano – PCI, então clandestino. Ainda em Milão, funda, ao lado do crítico Bruno Zevi (1918 – 2000), a revista A-Cultura della Vita.” Segundo Schuma Schumaher e Érico Vital Brasil, Lina se naturalizou brasileira em 1951, após anos de contribuição à cultura brasileira.
Segundo a página Archtrends, Lina conheceu o jornalista Pietro Bo Bardi na época em que fundou a revista A-Cultura della Vita. Em 1946, Lina casou-se com o jornalista e logo depois, resolveram viver no Brasil, fugindo da repressão de seu país natal. Mesmo se apaixonando pelo Rio de Janeiro, Lina se mudou com Pietro para São Paulo, pois ele havia sido convidado para fundar e dirigir o MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. O MASP foi inaugurado em 1947, sendo o primeiro museu moderno brasileiro. No fim da década de 1950, Lina Bo Bardi foi convidada para criar a nova sede do MASP, concluída em 1968. Segundo o IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil: “Lina se mantinha leal à ideia de que, para superar a crise da arquitetura moderna, os arquitetos deveriam adotar a economia de meios, a modéstia, a referência à natureza e a responsabilidade para com usuários e o lugar. E foi assim que, por muito tempo, insistiu em que o volume suspenso do Masp fosse opaco e recoberto com plantas e seixos nos fechamentos verticais. Foi a limitação construtiva dada a pesada carga de tal fechamento que levou gradualmente à alternativa de caixilhos de vidro hoje existente apagou a imagem prevista por Lina Bo Bardi para o museu.” De fato, ainda que a ideia inicial de Lina tenha perdido alguns elementos, sua visão continua a tocar multidões com o edifício que é definitivamente um de seus maiores projetos.
Em 1948, Lina fundou o Studio d’Arte Palma, focando na produção manufatureira de móveis de madeira compensada e materiais brasileiros populares. Não à toa, anos depois, projetando as instalações do MASP, criou a primeira cadeira moderna do Brasil, uma cadeira dobrável de madeira e couro para o auditório. Entre 1950 e 1954, Lina e Pietro dirigiram a revista Habitat. A publicação trazia crítica de arte e arquitetura que inovava no Brasil da época. No meio tempo, em 1951, Lina projetou a famosa Casa de Vidro, sua própria casa. Ao final de 1950, Lina também idealizou a escada icônica do MAM Bahia – Museu de Artes Modernas da Bahia. A página Arte queAcontece revela que Diógenes Rebouças havia convidado Lina para realizar diversas palestras na cidade. Dona Lina, como era chamada lá, ficou em Salvador até 1964, dirigindo o MAM Bahia.
Poucos sabem, mas Lina Bo Bardi quase construiu uma sede do MASP no litoral de São Paulo, em São Vicente. Infelizmente, por falta de verba, não foi possível construir o museu projetado por Lina em 1951. Sua ideia de construir um museu à beira mar, todo aberto, com arquitetura e paisagem se integrando, foi a base para a construção de sua casa, mais tarde apelidada de Casa de Vidro – e reverenciada até hoje como uma construção renomada do modernismo mundial. Outra obra relevante da artista foram a restauração do Solar do Unhão, em Salvador (BA), construção do século XVI que havia se tornado patrimônio histórico nos anos 1940. A página Arch Daily destaca que estes projetos foram influenciados no primitivismo e no brutalismo, uma inovação no repertório artístico de Lina. Schuma Schumaher e Érital Brazil revelam que Lina Bo Bardi foi pioneira da arquitetura industrial no Brasil justamente por suas obras deste período, entre 1977 e 1986, quando fez importante trabalho de restauração de uma fábrica do início do século, na cidade de São Paulo, que passou a abrigar o Centro Cultura de Lazer – SESC Pompéia, assim como o Palácio das Indústrias para o conjunto/sede da nova Prefeitura de São Paulo, o Teatro Oficina e a Casa do Chame-Chame, construídos em 1984.
Importante destacar que Lina foi brilhante tanto na arquitetura quanto em outras áreas – cenografia, artes plásticas, desenho de mobiliários e design gráfico. Lina partiu deste plano em 20 de março de 1992, quando desenvolvia diversos projetos.
Desde então, a crítica especializada e inúmeras instituições têm feito homenagens à artista. Em 21 de novembro de 2017, a Maison du Brésil produziu a conferência L’Arquitetura Pobre de Lina Bo Bardi – Conférence d’Alessandra Criconia. Já em 2021, na Bienal de Arquitetura de Veneza, Lina Bo Bardi recebeu o Leão de Ouro Especial, pelo conjunto de suas obras. Naquela oportunidade, Hashim Sarkis – curador da Bienal que recomendou Lina Bo Bardi para o prêmio – afirmou que Lina Bo Bardi incorpora de forma mais adequada o tema da 17ª Bienal de Arquitetura de Veneza, que se traduz “Como viveremos juntos: “Lina Bo Bardi também exemplifica a perseverança da arquiteta em tempos difíceis, sejam guerras, conflitos políticos ou migração, e sua capacidade de permanecer criativa, generosa e otimista durante todo o processo. […] Acima de tudo, são seus pujantes edifícios que se destacam em termos de projeto e na forma como unem arquitetura, natureza, vida e comunidade. Em suas mãos, a arquitetura se torna verdadeiramente uma arte social que convoca as pessoas.” Entre maio e dezembro de 2024, o Instituto Bardi realiza o Muitas Lina|s, brilhante ciclo de encontros sobre a arquiteta. Ruth Verde Zei, uma das curadoras, afirma sobre a intelectual: “Lina que não é só uma, mas muitas, impossíveis de esgotar. A cada mês um olhar, abrindo possibilidades, revelando uma pequena parte da riqueza e pluralidade da nossa visão contemporânea sobre a eternidade de Lina Bo Bardi.”
Desta forma, é sempre um excelente convite revisitar a vida e obra de Lina Bo Bardi, para conhecermos um pouco mais sobre esta mulher incomparável e multidimensional.
Texto escrito por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.
Palavras-Chave/TAG: #arquitetura #urbanismo #design #feminismo #masp #história #arte #urbanismo #mulheres #brutalismo
REFERÊNCIAS:
- Produções acadêmicas:
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
ZANON, Roberto; MANTOVANI, Cristhian Ribeiro; ANJOS, Marcelo França dos. “Arquitetura Pobre” brasileira de Lina Bo Bard. 5° Simpósio de Sustentabilidade e Contemporaneidade nas Ciências Sociais, TEDx Centro Universidade FAG – Fundação Assis Gurgacz, 21 a 23 de junho de 2017. Disponível em: 594c0755d1b82.pdf (fag.edu.br). Acesso em 28 out 2024.
- Sites
5 mulheres pioneiras que desenharam a história da arquitetura no Brasil. FTC MAG, 26 de agosto de 2024. Disponível em: 5 mulheres pioneiras que desenharam a história da arquitetura no Brasil – FTCMag (followthecolours.com.br). Acesso em 26 out 2024.
BARATTO, Romullo. Lina Bo Bardi, entre o moderno e o primitivo. Arch Daily Brasil, 26 de outubro de 2024. Disponível em: Lina Bo Bardi, entre o moderno e o primitivo | ArchDaily Brasil. Acesso em 28 out 2024.
FRAGA, Emerson Fonseca. Lina Bo Bardi: A mulher que marcou a Arquitetura brasileira. CAU/BR – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, 1 de março de 2020. Disponível em: Lina Bo Bardi: A mulher que marcou a Arquitetura brasileira | CAU/BR (caubr.gov.br). Acesso em 28 out 2024.
GERMANO, Beta. Conheça 10 curiosidades sobre Lina Bo Bardi. Arte Que Acontece, 21 de maio de 2021. Disponível em: Conheça 10 curiosidades sobre Lina Bo Bardi – Arte Que Acontece. Acesso em 28 out 2024.
L’Arquitetura Pobre de Lina Bo Bardi – Conférence d’Alessandra Criconia Maison du Brésil, 21 de novembro de 2017. Disponível em: 21/11/2017 – 19h – A arquitetura pobre de Lina Bo Bardi. Conferência de Alessandra Criconia – Maison du Brésil (maisondubresil.org). Acesso em 28 out 2024.
LIMA, Zeuler. Lina Bo Bardi: Em busca de uma arquitetura pobre. IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil, dezembro de 2014. Disponível em: IAB Tocantins: Lina Bo Bardi: Em busca de uma arquitetura pobre. Acesso em 28 out 2024.
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Lina Bo Bardi: saiba mais sobre uma das maiores arquitetas do século 20. Archtrends Portobello, 18 de setembro de 2023. Disponível em: Lina Bo Bardi: Conheça sua história e principais obras – Portobello Blog (archtrends.com). Acesso em 28 out 2024.
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