Quilombola e líder política
Mariana Crioula é uma figura emblemática na história do Brasil, conhecida por sua liderança na insurreição de 1838, que lutou pela liberdade e resistência contra a escravidão. Foi uma mulher negra brasileira cujo papel foi fundamental para a comunidade quilombola da região do atual município de Vassouras, estado do Rio de Janeiro.
Mariana Crioula viveu em Pati de Alferes, distrito da vila de Vassouras, região do Vale do Paraíba, tendo sido escravizada para exercer as funções de mucama e costureira de Francisca Xavier, escravocrata proprietária de fazendas cafeeiras. Casada com José, homem negro escravizado que trabalhava forçosamente nas lavouras. Escravizados em funções diferentes, José vivia na senzala, enquanto Mariana vivia na Casagrande.
Em 1838, Mariana Crioula emergiu como líder durante a insurreição de Pati de Alferes, também conhecida como revolta de Manuel Congo. Liderados por Manoel Congo, Mariana e aproximadamente 300 escravizados fugiram para formar um quilombo após matarem o feitor de uma fazenda vizinha. Mariana destacou-se como a “rainha” do quilombo, junto ao “rei” Manoel Congo.
A Guarda Nacional mobilizou cerca de 160 homens para perseguir aqueles que resistiam àquilo que o artigo 7º, c, do Estatuto de Roma define como crime contra a humanidade: a escravidão. Em 11 de novembro de 1838, após perseguição, 20 escravizados foram mortos, e 22 capturados, incluindo Mariana Crioula e Manoel Congo. Durante o julgamento, enquanto Manoel Congo foi condenado à execução, Mariana Crioula foi absolvida, com apoio dos capturados que não a reconheceram como líder perante o julgamento pelos seus algozes.
Mariana Crioula foi oficialmente reconhecida como Heroína do Estado do Rio de Janeiro pela Lei nº 5.899, de 24 de fevereiro de 2011. Seu nome foi dado ao Espaço Criarte Mariana Crioula (ECMC), um núcleo do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) focado na educação popular na Ocupação Manuel Congo. Criado em 2008, o ECMC tem como objetivo a educação de crianças e jovens, promovendo a formação política e social.
Outras homenagens incluem a criação de uma sala na Câmara Municipal de Vassouras, o filme “Ngangula, o Ferreiro de Paty” de Pedro Sol, e o documentário “Mariana Crioula – Um grito de resistência” de Ricardo Andrade Vassíllievitch. Ricardo também produziu as peças “A saga de Manuel Congo e Mariana Crioula, os heróis da resistência” e “Mariana Crioula, um grito de resistência”. Um quadro retratando Mariana Crioula, feito pelo artista Ubiratan Lima, foi doado para a Secretaria de Cultura de Vassouras em 2018.
Mariana Crioula continua a ser lembrada como uma figura de resistência e coragem, simbolizando a luta contra a escravidão e pela liberdade no Brasil.
Palavras-Chave/TAG: #mulhernegra #política #escravidão #colonialidade
Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil e do Mulheres Negras do Brasil por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.
REFERÊNCIAS
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- Sites:
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