Segunda esposa do Marechal Hermes da Fonseca (1913 – 1914). 9ª primeira-dama.
Após o falecimento de Orsina da Fonseca, em novembro de 1912, o Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca, meses depois de viuvez, pediu Nair de Teffé em casamento, durante uma estada em Petrópolis com sua família, em janeiro de 1913.
Nair de Teffé, nasceu em Petrópolis (RJ), em 10 de junho de 1886. Era filha de Joana Cristina von Hoonholtz e Antônio Luiz von Hoonholtz, barões de Teffé. Tinha dois irmãos mais velhos, Oscar e Álvaro.
Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, em Dicionário Mulheres do Brasil, revela que Nair de Teffé foi apresentada à sociedade aos sete anos de idade, em Roma, durante as comemorações da Independência, em 07 de setembro de 1893. Seu pai ocupava, então, o cargo de Ministro Plenipotenciário do Brasil. Aos nove anos de idade foi estudar em um internato de freiras, na França. Foi lá que começou a fazer as primeiras caricaturas, dando mostras de sua veia satírica. Posteriormente, estudou em quatro outros conventos localizados no sul da França, completando seus estudos em Paris. Gostava de fazer charges de pessoas da alta sociedade: damas, cavalheiros, políticos, diplomatas, nobres e artistas, assinando-os com o nome de RIAN, anagrama do seu prenome. Foram estas, ao que tudo indica, as primeiras caricaturas feitas por uma mulher brasileira na história do desenho nacional.
De volta ao Brasil, tornou-se amiga íntima de Laurinda Santos Lobo, a “marechala da moda”. Passou a colaborar com os periódicos cariocas A Careta, O Malho, Vida Doméstica, Fon-Fon, Revista da Semana, Excelsior e Gazeta de Notícias, além da Gazeta de Petrópolis. Também colaborou com várias revistas francesas. Em 1912, começou a estudar canto com uma ex-cantora chamada Pallermine. Nair foi censurada pela professora por ter cantado no Jeremias Cafée Restaurante. Nesse mesmo ano expôs suas caricaturas pela primeira vez nos salões do Jornal do Commercio.
Em janeiro de 1913, durante uma estada em Petrópolis com sua família, foi pedida em casamento pelo presidente da República, Hermes da Fonseca, que havia recentemente perdido a esposa, Orsina da Fonseca. No dia 06 de setembro daquele ano, o noivado tornou-se público em uma festa no palácio Monroe. No dia seguinte Nair foi apresentada ao mundo oficial e diplomático como a noiva do presidente da República, em pleno Campo de Santana, no palanque presidencial armado para o desfile militar de 07 de setembro. Anunciou-se então o casamento para 08 de dezembro daquele ano. A cerimônia realizou-se em Petrópolis, no Palácio Rio Negro.
A nova (e nona) primeira-dama do Brasil promoveu no Palácio do Catete numerosos saraus, apresentados por artistas que tocavam ritmos e instrumentos populares. Dentre as lendárias noites promovidas pela primeira-dama, destaca-se a famosa noite do “Corta-jaca”, na qual a maestrina Chiquinha Gonzaga executou o maxixe de sua composição nos salões do palácio presidencial. Anos depois, Nair escreveu suas memórias, revelando que na sessão do dia 11 de novembro de 1914, Rui Barbosa inseriu nos anais do Senado “a sua costumeira verborragia” (palavras da primeira-dama) contra o governo e a primeira-dama pela promoção da noite do “Corta-jaca” no Palácio do Catete”.
Sobre essa noite, Nair escreveu, anos depois: “Naquele tempo, a música popular brasileira (o xote, o maxixe e as modinhas) ainda não havia explodido na sua autêntica manifestação folclórica. Predominavam as valsas, polcas, canções e trechos de óperas e operetas, cantadas em alemão, italiano, francês e outros idiomas. Eu mesma só cantava músicas estrangeiras. Catulo, depois do estrondoso sucesso alcançado no recital realizado no Palácio do Catete, pediu-me para interpretar alguma música nossa. Não havia partitura para piano e violão das músicas de nossos compositores daquela época. Catulo falou com Chiquinha Gonzaga (…) que compôs especialmente para mim o famoso Corta jaca, com partitura para violão e piano. Tive como mestre de violão, o professor Emílio Pereira. (…) Preparada por ele, caprichei um repertório bem brasileiro e convidei os nossos amigos para um recital de lançamento do Corta jaca. Chiquinha Gonzaga não compareceu porque estava adoentada. Lancei o Corta jaca entre os aplausos alegres dos convidados. Foi uma noite ‘prafrentex’! No dia seguinte, foi aquele Deus nos acuda… a turma do ‘contra’ usou o Corta jaca numa girândola de pilhérias sediças e bombásticas, contra mim e o marechal, numa campanha injusta e abominável sob a ‘batuta’ do oráculo do civilismo. As críticas eram envolvidas em escabrosas piadas de mau gosto. O movimento da música popular brasileira, de ontem e de hoje, deve a Catulo da Paixão Cearense, poeta e seresteiro, o ingresso nos salões da sociedade a partir do Corta jaca de Chiquinha Gonzaga. A nossa música tem as suas origens e raízes nas danças e cânticos dos escravos. Sua adoção na sociedade era quase impossível. (…) Rui Barbosa aproveitou o lançamento do Corta jaca, para inserir nos anais do Senado, a sua costumeira verborragia, na sessão do dia 11 de novembro de 1914, babando contra mim, a sua orgulhosa catilinária de insopitável ódio ao governo. As pedras que ele me atirou não me atingiram. Elas (…) só serviram para assinalar a luta que enfrentei contra os preconceitos de então.”
Pouco depois de deixar o Catete, com o término do mandato de Hermes da Fonseca, Nair sofreu um acidente que lhe causou esmagamento da cabeça do fêmur. Fez tratamento na Europa. Depois do mandato presidencial, Hermes da Fonseca, pressionado pelo amigo Pinheiro Machado, candidatou-se ao Senado com o intuito de derrotar o candidato de Rui Barbosa. Quando seu amigo foi assassinado, Hermes da Fonseca renunciou e partiu para a Europa com Nair e os pais dela.
Retornaram ao Brasil em 1920, quando Hermes da Fonseca foi eleito presidente do Clube Militar. Quando o marido foi preso, dia 03 de julho de 1922, a mando do presidente Epitácio Pessoa, Nair pediu para ser presa junto com ele, mas não foi atendida. Hermes conseguiu um habeas corpus em 06 de janeiro de 1923. O velho militar morreu logo em seguida. Com a morte do marido, Nair deprimiu-se e perdeu o entusiasmo pelas artes. Começou a participar de festas de caridade. Só voltou a fazer caricaturas em 1926. Pouco tempo depois, perdeu, também, o pai e a mãe. Sentindo-se sozinha, decidiu adotar três crianças, Carmem, Tânia e Paulo, com as quais foi morar em um sítio em Pendotiba, Niterói.
No final dos anos 70, embora muito idosa, ainda encontrava ânimo para participar das comemorações do 08 de março, organizadas pelo movimento feminista de Niterói. Escreveu seu livro de memórias quando estava com 88 anos. Faleceu em 10 de junho de 1981.