• Narcisa Amália de Campos (1852 – 1924)

  • Voltar
12 de setembro de 2023 por 

Poetisa e jornalista.

Narcisa Amália de Campos nasceu em São João da Barra, região norte do estado do Rio de Janeiro, em 3 de abril de 1852. Filha de Narcisa Inácia de Campos e Jacome de Campos, uma professora primária e um poeta, mudou-se com seus genitores ainda jovem para Resende. Na nova cidade, casou-se com o artista ambulante João Batista Silveira muito jovem (não há consenso sobre a idade que tinha, mas estima-se que entre os 11 e os 14 anos). Logo em seguida, o casamento entre Narcisa e João não vingou, resultando em uma separação que causou muitos transtornos a Narcisa, reflexo da mentalidade da época.

Narcisa foi uma célebre poetisa e jornalista brasileira – de fato, uma das primeiras mulheres a se profissionalizar como jornalista. Ela publicou seu primeiro e único livro de poesia em 1872. Intitulada Nebulosas, a obra foi positivamente criticada nos meios literários brasileiros.

Dentre seus admiradores, conta o imperador D. Pedro II, leitor que decidiu encontrar Narcisa durante visita a Resende. Na ocasião, após manifestar o desejo de conhecer a escritora pessoalmente, D. Pedro II caminhou até a padaria onde Narcisa morava e trabalhava, para ouvir os poemas sendo declamados pela própria autora. D. Pedro II teria inclusive solicitado a Narcisa que lhe concedesse alguma de suas inéditas poesias. Reconhecida por seus pares, Narcisa seguiu produzindo poesias e textos sobre diversas temáticas, dentre as quais a defesa do direito das mulheres, a abolição da escravidão e a defesa da República. Ela também colaborava com os jornais A Imprensa e A República, além de ter dirigido o periódico A Gazetinha: folha dedicada ao belo sexo, todos publicados em Resende.

Enquanto vivia em Resende, Narcisa se casou com Francisco Cleto da Rocha, proprietário de uma padaria na cidade. Narcisa inclusive conciliava sua produção intelectual com as atividades domésticas, o que nos demonstra o desafio der perseverar na produção literária a despeito das responsabilidades machistas atribuídas unicamente às mulheres dentro de relações matrimoniais de sua época.

Após o fim de seu segundo casamento, Narcisa se mudou para o Rio de Janeiro, passando a viver de seu trabalho, ensinando e escrevendo para jornais e revistas. A despeito de ter publicado apenas um livro em toda a sua carreira, Narcisa era conhecida e admirada pelos meios literários. A misoginia da sociedade fez com que alguns críticos tenham a acusado de não ser a verdadeira autora de Nebulosas – acusação que se provou infundada a partir da publicação de um estudo aprofundado, em 1949, dando crédito a Narcisa pela sua obra 25 anos após seu falecimento.

Sobre o fim do seu segundo casamento, é possível que Narcisa tenha se visto obrigada a sair de Resende pois o ex-marido, por ciúmes, teria começado a difamá-la. Inclusive, Francisco teria sido uma das pessoas a acusar Narcisa de não ser a autora de Nebulosas. Soma-se a isso o fato de que Narcisa era uma mulher que se divorciou duas vezes, tendo experienciado agressões públicas ao longo de sua vida em detrimento de suas escolhas, caminho que representou, assim como a outras mulheres de sua época, uma contrariedade às tentativas de silenciamento e de controle social comumente impostos às mulheres.

Narcisa Amália se destaca como uma das principais figuras feministas do Brasil devido à sua notável contribuição como poeta, tradutora de francês e, significativamente, como a primeira jornalista mulher do país. Ela se dedicou a pautas feministas, escrevendo artigos impactantes como “A emancipação da mulher” e “A mulher no século XX”, que provocaram desconforto na sociedade conservadora brasileira da época. No entanto, enfrentando preconceitos e críticas, Narcisa interrompeu sua carreira literária e voltou-se para o ensino em uma escola em Resende. Ela faleceu aos 72 anos, em 24 de junho de 1924, cega e paralítica, na cidade do Rio de Janeiro.

Em sua homenagem, a Câmara Municipal de São João da Barra instituiu o Diploma Mulher Cidadã Narcisa Amália, em 2013, por ocasião do Dia Internacional da Mulher. Trata-se de uma honraria concedida a mulheres de diversas profissões que se destacaram na cidade. Em 6 de abril de 2022, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura também promoveu o Café Literário em homenagem a Narcisa Amália – desta vez, celebrando os 170 anos da pensadora.

Autora de poemas que fazem desde alusão ao Projeto de Constituição elaborado pelos membros da Constituinte de 1813, como em Vinte e Cinco de Março, até saudação à independência da nação, como em Sete de Setembro, Narcisa Amália contribuiu largamente para o desenvolvimento dos debates socioculturais brasileiros de seu tempo. Sua poesia era vigorosa e engajada e sua obra alcançou enorme repercussão, principalmente após a publicação de Nebulosas.

A despeito dos ataques sofridos após a sua ascensão pública, seguiu articulando formas de transformar a sociedade brasileira, compartilhando seu talento e seu ponto de vista, que pode ser notado neste trecho, citado por Gisele Barbosa, de uma carta escrita por Narcisa ao jornalista Alfredo Sodré: “como há de a mulher revelar-se artista se os preconceitos sociais exigem que o seu coração cedo perca a probidade, habituando-se ao balbucio de insignificantes frases convencionais?”. Narcisa nos mostra o seu posicionamento frente à consciência (e às memórias das violências) do patriarcado de seu tempo: a autora decide articular seus conhecimentos e questionar a realidade com o fim último de produzir tempos em que mulheres sejam livres de violências – inclusive, livres para se revelarem artistas.

Palavras-Chave/TAG: #feminismo #jornalismo #poesia #colonialidade #racismo #misoginia

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

BARBOSA, Gisele Oliveira Ayres. Aspectos sociais e políticos da poesia de Narcisa Amália. ANPUH – XXII Simpósio Nacional de História: João Pessoa, 2003. Disponível em: ASPECTOS SOCIAIS E POLÍTICOS NA POESIA DE NARCISA AMÁLIA (anpuh.org.br). Acesso em 19 fev 2023.

CAMPOS, Rosa Amália de. Nebulosas. 1872. Disponível em: Nebulosas – Narcisa Amália – Folioscópio Páginas 1-38 | FlipHTML5. Acesso em 19 fev 2023.

ROMEIRO, Catarina da Silva. Para o conhecimento das mulheres que escreveram: o caso de Narcisa Amália. Faculdade de Letras, UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: CSRomeiro.pdf (ufrj.br). Acesso em 19 fev 2023.

SCHUMAHER, Schuma; VITAL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

SILVA, Olga Mattos de Lima e. Trajetória da poetisa Narcisa Amália de Campos: 1872-1924. IV Seminário Internacional Brasil no Século XIX: 4 e 6 de outubro de 2021. Disponível em: Olga Mattos de Lima e Silva.pdf / Início / | seo2020 (seoseminario2020.wixsite.com). Acesso em 19 fev 2023.

SILVA, Marcelo Medeiros da; VILELA, Josivânia da Cruz. Vozes de outrora: a poesia de autoria feminina no Brasil do entresséculo (XIX/XX). IPOTESI – Revista de Estudos Literários, v. 23, nº. 1, p. 98-112: Juiz de Fora, janeiro a junho de 2019. Disponível em: VOZES DE OUTRORA: A POESIA DE AUTORIA FEMININA NO BRASIL DO ENTRESSÉCULO (XIX/XX) | IPOTESI – REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS (ufjf.br). Acesso em 19 fev 2023.

  • Sites:

Câmara homenageia mulheres com o Diploma Narcisa Amália. Câmara Municipal São João da Barra, Notícias: São João da Barra, 05 de agosto de 2021. Disponível em: Câmara homenageia mulheres com o Diploma Narcisa Amália – Câmara de SJB (camarasjb.rj.gov.br). Acesso em 19 fev 2023.

Café literário homenageia 170 anos de Narcisa Amália. Prefeitura de São João da Barra, Notícias: São João da Barra, 31 de março de 2022. Disponível em: Café literário homenageia 170 anos de Narcisa Amália (sjb.rj.gov.br). Acesso em 19 fev 2023.

Categoria: Biografias - Comentários: Comentários desativados em Narcisa Amália de Campos (1852 – 1924)