• Raimunda Gomes da Silva (1940 – 2018)

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15 de maio de 2024 por 

Quebradeira de coco e líder sindical.

Dona Raimunda Quebradeira de Coco foi uma trabalhadora rural e ativista política notável por articular a proteção de direitos de mulheres quebradeiras de coco no Brasil, bem como de trabalhadoras rurais em geral.

Dona Raimunda nasceu e cresceu em Novo Jardim, Maranhão, como parte de uma família de agricultores, tendo 10 irmãos. Casou-se aos 18 anos e teve 6 filhos – inclusive, após 14 anos de casamento, Dona Raimunda encerrou o matrimônio para viver sozinha e criar seus filhos. Posteriormente, casou-se e adotou seu sétimo filho, órfão de um líder sindical assassinado aproximadamente em 1990.

Em 1991, Dona Raimunda e companheiras fundaram a Associação Regional das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (Asmubip). Através da organização, tais mulheres passaram a se encontrar para discutir a segurança jurídica de seus direitos humanos, inclusive trabalhistas, ameaçados pela desvalorização dessa classe de mulheres trabalhadoras. Segundo a ONU Mulheres Brasil, em reportagem de 2018: “Logo, em 1992, criaram o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que hoje é atuante nos estados do Pará, Tocantins, Piauí e Maranhão.”

Segundo a ONU Mulheres Brasil, Dona Raimunda aprendeu, aos 20 anos, a assinar seu nome para se tornar “porta voz de 400 mil trabalhadoras rurais extrativistas, em defesa do meio ambiente e dos direitos das mulheres”, tendo inclusive sido responsável pela Secretaria da Mulher Trabalhadora Rural Extrativista do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Reflexo de sua trajetória histórica, o Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Tocantins (UFT), em seu Curso de Pedagogia, aprovou a concessão do título de Doutora Honoris Causa “à quebradeira de coco Dona Raimunda Gomes da Silva”, nos termos da Resolução do CONSUNI nº. 5/2009.

Importante lembrar que a militância de Dona Raimunda na defesa das mulheres e do meio ambiente a levou participar do Tribunal de Boas Práticas de Proteção ao Meio Ambiente, organizada pela REDEH, noFórum Não Governamental de Huairou – evento paralelo à IV Conferência Mundial sobre as Mulheres, Desenvolvimento e Paz realizada em 1995, na China.

Mencionamos aqui algumas homenagens à líder sindical. Dona Raimunda recebeu o Diploma Bertha Lutz, do Senado Federal, em 2003. O prêmio é destinado a mulheres que contribuíram de forma relevantes na defesa dos direitos das mulheres no Brasil. Já em 2017, Dona Raimunda recebeu o Diploma Mulher-Cidadã Guilhermina Ribeira da Silva, da Assembleia Legislativa do Tocantins.

Em relação a registros videográficos, há o filme Raimunda, a quebradeira, dirigido por Marcelo Silva, em parceria com a TV Palmas e a Fundação Padre Anchieta (TV Cultura). O documentário de 52 minutos retrata a vida e as conquistas de Dona Raimunda através de seu trabalho e de sua organização político-sindical. Ainda, há o filme Dona Raimunda, quebradeira de côco – Depoimento histórico, gravado por Sérgio Lelis, que conta com Lino Rocha como entrevistador. O longa-metragem de 2 horas “é uma junção simplificada de arquivos brutos, visando aproveitar todo o registro do depoimento histórico de Dona Raimunda”, conforme pelo Canal Educachico.

Dona Raimunda do Coco faleceu em 7 de novembro de 2018. Segundo a Agência Patricia Galvão, seu corpo foi velado “na casa onde morava, no povoado Sete Barracas, a cerca de oito quilômetros do município de São Miguel do Tocantins, norte do estado. Ela lutava contra diabetes e já tinha perdido a visão por causa da doença.” A prefeitura de São Miguel decretou luto oficial de 3 dias e ponto facultativo no dia de seu falecimento. Podemos lembrar de Raimunda do Coco e suas companheiras através das palavras de Schuma Schumaher e Érico Vital Brasil em Mulheres Negras Brasileiras: “O protagonismo desempenhado pelas mulheres rurais e quilombolas na árdua luta para preservação, titulação e desenvolvimento sustentável de suas comunidades, se expressa na representatividade de Vanete Almeida, de Serra Talhada (PE), à frente da coordenadoria do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central de Pernambuco e da Secretaria Executiva da Rede de Mulheres Rurais da América Latina e do Caribe e da extrativista Raimunda Gomes da Silva. Grande liderança na região do Tocantins, dona Raimunda do Coco, como ficou nacionalmente, foi uma das fundadoras da Associação das Quebradeiras de Coco, em 1992”.

Desde 8 de dezembro de 2011, no assentamento Sete Barracas, no município de São Miguel do Tocantins, Dona Raimunda tem sido eternizada através do Memorial Raimunda Gomes da Silva, construído com ajuda da própria enquanto viva, ainda que com resistência. O memorial guarda o acervo pessoal de Raimundo, assim como prêmios, poesias e músicas que foram feitos em sua homenagem.

Palavras-Chave/TAG: #racismo #colonialidade #trabalhorural #artesanato #desigualdadesocial #exploração #quebradeirasdecoco #mulherrural #trabalhadorasrurais #mulheresdocampo #marchadasmargaridas

Texto Adaptado do verbete contido no Mulheres Negras do Brasil por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

EURILIO, Lucas. Dona Raimunda, Projeto trabalha valorização da cultura das quebradeiras do Bico. Gazeta do Cerrado. 2019. Disponível em: Inspirados em Dona Raimunda, Projeto trabalha valorização da cultura das quebradeiras do Bico | Gazeta do Cerrado

Fundação Universidade Federal do Tocantins. Resolução do Conselho Universitário (CONSUNI) nº 05/2009. Disponível em: Alfresco » 05-2009 – Honoris Causa Dona Raimunda.pdf (uft.edu.br)

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRASIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Senac Editora: Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: Mulheres Negras do Brasil 9788574582252 – DOKUMEN.PUB. Acesso em 23 nov 2022.

  • Sites:

Agência Patrícia Galvão. Morre Dona Raimunda Quebradeira de Coco. 2018. Disponível em: Morre Dona Raimunda Quebradeira de Coco (agenciapatriciagalvao.org.br)

COTRIM, Maju. Filme “Raimunda, a quebradeira” é uma das atrações da mostra internacional de cinema negro. Gazeta do Cerrado. 2020. Disponível em: Filme “Raimunda, a Quebradeira” é uma das atrações da amostra internacional de cinema negro | Gazeta do Cerrado

Folha do Bico. SÃO MIGUEL: Dona Raimunda ganha memórial e novo documentário. 2011. Disponível em: SÃO MIGUEL: Dona Raimunda ganha memórial e novo documentário | Folha do Bico

LELIS, Sérgio; ROCHA, Lino. Dona Raimunda, quebradeira de côco – Depoimento histórico. Canal Educachico. 2016. Disponível em:  (142) Dona Raimunda, quebradeira de côco – Depoimento histórico – YouTube

ONU Mulheres Brasil. Desenvolvimento Rural: a história de Dona Raimunda, a quebradeira de cocos e de paradigmas. 2018. Disponível em: Desenvolvimento Rural: a história de Dona Raimunda, a quebradeira de cocos e de paradigmas – ONU Mulheres

TV Brasil. Raimunda, a Quebradeira. 2014. Disponível em: Raimunda, a Quebradeira | DOC TV | TV Brasil | Notícias (ebc.com.br)

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