A definição do Dia Internacional das Mulheres é revestida de muitas explicações. A origem da data remete-nos as lutas operárias e socialistas do século XIX e início dos XX, por melhores condições de trabalho, assim como direito das mulheres à igualdade no mundo público.
É comum atribuir a origem do dia 08 de março ao trágico incêndio ocorrido na fábrica de tecidos Triangle Shirtwaist Company, em 1911, na cidade de New York, no qual morreram 129 tecelãs. Depoimentos da época contam que no espaço, além de substâncias inflamáveis como fardos de algodão, os patrões mantinham as portas da fábrica fechadas a chave o tempo todo por medo que as trabalhadoras pudessem roubar alguma coisa, dificultando a saída na hora do incêndio. A essa versão, espalhada aos quatro ventos, foi agregada outras variantes embaralhando datas e fatos.
No entanto, pesquisas mais recentes desmistificam essa versão, atribuindo a origem do Dia Internacional da Mulher às lutas operárias que marcaram o final do século XIX, somadas às lutas sufragistas, em distintos países, e pelo esforço do movimento de mulheres socialistas. A proposta de uma data unificada, dedicada à luta pelos direitos das mulheres, foi feita por Clara Zetkin, em 1911, durante a II Conferência Internacional da Mulher Socialista, realizada em Copenhague, na Dinamarca.
Embora essa proposta tenha sido abraçada pelos movimentos de mulheres de diversos países, as mobilizações aconteceram em datas diferenciadas. Somente em 08 de março de 1917, com a deflagração da greve das trabalhadoras russas por melhores condições de trabalho, milhares de mulheres saíram às ruas numa potente manifestação contra os baixos salários, escassez de produtos essenciais à sobrevivência e contra a guerra -, movimento que foi o estopim para o início da Revolução Russa – essa data é comemorada mundialmente. Inclusive Trotsky, na “História da Revolução Russa”, destacou que não se podia imaginar que o Dia da Mulher pudesse inaugurar a Revolução Russa.
No Brasil, nesse mesmo ano, em junho de 1917, as mulheres operárias da indústria têxtil do Cotonifício Rodolfo Crespi, sediada em São Paulo, entraram em greve por melhores condições de trabalho e em protesto por seus salários serem muito inferiores aos de seus companheiros do sexo masculino. A violenta repressão contra as manifestações em apoio ao movimento grevista causou a indignação popular e levaram à primeira greve geral de trabalhadores do Brasil.
Porém, demorou 58 anos para que a Organização das Nações Unidas (ONU) passasse a celebrar a data, dando início nas celebrações do dia 08 de março em 1975, ano em que foi declarado o Ano Internacional da Mulher. No entanto, dois anos depois, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução proclamando que o Dia Internacional da Mulher pode ser celebrado pelos países membros em qualquer data do ano, de acordo com as suas histórias e tradições nacionais. Desde então, mulheres do mundo inteiro fazem no dia 08 de março diversas manifestações para reafirmar suas lutas de resistência contra a exploração capitalista e contra todas as formas de violência: de gênero, racial e de classe. Esse reconhecimento não aconteceu milagrosamente, ele faz parte de todo um processo histórico, marcado pela luta do movimento feminista, ao longo dos séculos.
De forma crescente, nas últimas décadas, para além da mobilização dos movimentos de mulheres que aproveitam essa data para reflexões e coletivamente denunciarem as desigualdades de classe, gênero e étnico-raciais, assim como, fortalecer a luta pela legalização do aborto, superar a violência contra as mulheres, brigar por maior participação política, igualdade salarial, lutar contra o racismo, etc. Para outros, infelizmente, o dia é uma data comercial, oportunisticamente festiva, apropriada pelo sistema capitalista, que envolve desde anúncios de cervejas, faixas em postos de gasolina à entrega de flores e bombons para as mulheres, distorcendo sua natureza histórica e de militância.
* Elaborado por Cris Odara e Schuma Schumaher.
Para saber mais:
Ana Isabel Álvarez Gonzalez. As origens e a comemoração do dia internacional das mulheres. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
Eva Alterman Blay – 8 de Março: Conquistas e Controvérsias em https://www.scielo.br/j/ref/a/zSfcjFQPyGjGDwpR53pQcxc/?format=pdf&lang=pt
Maria Lygia Quartim de Moraes https://sp.unifesp.br/noticias/dia-internacional-da-mulher-entenda-mais-sobre-essa-data; www.mulher500.org.br; https://www.un.org/en/observances/womens-day/background;
TROSTSKY, Leon. A História da Revolução Russa v.1. Tradução: E. Huggins. Brasilia: Senado Federal, 2017.