• Luiza Bairros (1953-2016)

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14 de junho de 2023 por 

Socióloga, escritora, ativista do movimento negro, ministra, professora e intelectual.

Luiza Helena de Bairros nasceu em Porto Alegre, em 27 de março de 1953, na região conhecida antigamente como Colônia Africana e cresceu em um bairro próximo, mas um pouco mais valorizado, chamado Menino Deus. Era filha de uma dona de casa, Celina Maria de Bairros, e de um militar, Carlos Silveira de Bairros, e tinha um irmão mais velho. Estudou em uma escola pública de Porto Alegre.

Na universidade, engajou-se na luta política, atuando em diretórios acadêmicos, mesmo em plena ditadura militar. A militância estudantil permitiu que ela tivesse contato com bibliografias antirracistas, como manifestos dos Panteras Negras e textos acerca de movimentos sociais estadunidense.

Formou-se em Administração Pública e Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1975, aos 22 anos de idade. Tornou-se mestra em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Sociologia pela Michigan State University.

Em 1979, concluiu uma especialização em Planejamento Regional pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, onde também participou da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Nesse encontro, aproximou-se de integrantes do Movimento Negro Unificado (MNU), especificamente, com o movimento da Bahia. Em agosto do mesmo ano, mudou-se para Salvador, cidade que passou a adotar como lar.

Na Bahia, casou-se com Jônatas Conceição da Silva, poeta, professor e também militante do movimento negro. A partir de então, centrou seus esforços na luta política dentro do grupo de mulheres do Movimento Negro Unificado, movimento criado por Lélia González, que exerceu forte influência em Luiza Bairros.

Em 1981, Luiza Bairros criou, em conjunto com Ana Célia da Silva, Maria do Amparo, Teresa Alfaya e outra, o Grupo de Mulheres do MNU-BA. Sua militância feminista se deu, portanto, a partir do movimento negro, e não do diálogo com o movimento feminista hegemônico branco. Essa trajetória fez com que Luiza Bairros apresentasse um outro olhar para o feminismo, assim como para o movimento negro, bastante dominado pelas lideranças masculinas. Participou do III Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, em Bertioga, São Paulo, em 1985, abordando a importância de o feminismo começar a olhar para o que existe de diferente e de contraditório dentro do movimento, lembrando que a maioria das mulheres na região não é branca. Em 1988, foi uma das lideranças presentes no I Encontro Nacional de Mulheres Negras, realizado em Valença, interior de São Paulo.

No processo de redemocratização do país, seu nome foi apontado para ser lançado como deputada estadual da Bahia pelo Partido dos Trabalhadores, com o apoio do movimento feminista. No entanto, sua candidatura não foi para frente.

Sua atuação e liderança fez com que as mulheres negras ganhassem proeminência no movimento negro. Em 1991, Luiza Bairros foi eleita como a primeira coordenadora nacional mulher do MNU, onde permaneceu até 1994, quando saiu para realizar seu doutorado. Na sua gestão, a questão de gênero passou a ganhar mais espaço dentro do movimento negro.

Sua vida profissional, acadêmica e pessoal esteve voltada às questões de raça, gênero e ao combate ao racismo, tornando-se referência em pesquisas acerca de políticas públicas para a população afrodescendente e grande intelectual brasileira sobre esses temas. Foi uma das intelectuais a desmistificar a ideia de o Brasil ser um paraíso racial.

Foi professora da Universidade Católica de Salvador e da Universidade Federal da Bahia. Desenvolveu ampla pesquisa sobre a dinâmica de raça, sexo e trabalho. Participou da coordenação do projeto “Raça e Democracia nas Américas: Brasil e Estados Unidos”, fruto da cooperação entre o Centro de Recursos Humanos (CRH) da Universidade Federal da Bahia e a National Conference of Black Political Scientists/NCOBPS.

Entre 2001 e 2003, participou da preparação e do acompanhamento das proposições feitas na III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, na África do Sul. Atuou, ainda, na pré-implementação do Programa de Combate ao Racismo Institucional para os Estados de Pernambuco e Bahia junto ao Ministério do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional, entre os anos de 2003 e 2005. Integrou, de 2005 a 2007, a coordenação do programa de combate ao racismo institucional nas prefeituras de Recife e Salvador, na condição de consultora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais, resultante dessa experiência, foi Pecados no paraíso racial: O negro no mercado de trabalho na Bahia – 1950 a 1980, pela UFBA.

Em 2008, assumiu como titular a pasta da secretaria estadual da Promoção da Igualdade Racial da Bahia, onde ficou até 2010. E, em 2011, recebeu o convite da presidente Dilma Rousseff para ser ministra da Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (Seppir), cargo que ocupou até janeiro de 2015.

Como ministra, foi responsável por elaborar o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), que tinha como objetivo criar políticas públicas para a população negra. Durante a sua gestão, uma das principais leis de promoção e emancipação da população negra foi editada – a Lei nº 12.711/2012 –, cujo intuito era assegurar o ingresso de negras e negros ao ensino superior por meio das cotas raciais.

Em razão da sua atuação no combate à discriminação e à intolerância e na promoção de oportunidades para o povo negro, recebeu diversas medalhas e prêmios. Entre elas: a medalha Zumbi dos Palmares, em 2011, pela Câmara Municipal de Salvador; o título de cidadã baiana, em 2013, pela Assembleia Legislativa da Bahia; e o Diploma Bertha Lutz, em 2016.

Escreveu diversos artigos sobre racismo e sexismo, como: Nossos feminismos revisitados, Lembrando Lélia Gonzalez, O negro na força de trabalho, A mulher negra e o feminismo, entre outros.

Em 12 de julho de 2006, faleceu em Porto Alegre, em razão do agravamento de sua saúde por causa de um câncer no pulmão.

Palavras-Chave/TAG: #LuizaBairros #ativista #feminismonegro #negra #resistência #política #movimentossociais 

Elaboração: Ana Laura Becker, Elaine Gomes e Schuma Schumaher

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

BORGES, Rosane. O traço e a marca de Luiza Bairros: um arquivo para o Dia Internacional da Mulher Negra. Blog da Boitempo: 2016. Disponível em: O traço e a marca de Luiza Bairros: um arquivo para o Dia Internacional da Mulher Negra – Blog da Boitempo. Acesso em 20 jun 2023.

PINTO, Ana Flávia Magalhães, FREITAS, Felipe da Silva. Luiza Bairros, uma “bem lembrada” entre nós 1953-2016. Salvador: Afro-Ásia, n. 55, pp. 213-254, 2017. Disponível em: Luiza Bairros – uma “bem lembrada” entre nós, 1953-2016 | Afro-Ásia (ufba.br). Acesso em 20 jun 2023.

SCHUMAHER, Schuma, CEVA, Antonia. Mulheres no Poder: Trajetórias na Política a partir das lutas sufragistas do Brasil. Rio de Janeiro. Edições de Janeiro, 2015.

  • Sites:

CULTNE – VIII Encontro Feminista Latino Americano e do Caribe – Luiza Bairros -1985. Cultne. Disponível em: CULTNE – VIII Encontro Feminista Latino Americano e do Caribe – Luiza Bairros -1985 – YouTube. Acesso em 08 nov 2021.

Luiza Bairros. Geledés. Disponível em: Quem é Luiza Bairros – Geledés (geledes.org.br). Acesso em 08 nov 2021.

Luiza Bairros. Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano, Mulher 500 anos atrás dos panos. Disponível em: Luiza Bairros (1953 – ) – Mulher 500 Anos Atrás dos Panos. Acesso em 08 nov 2021.

Luzia Helena de Bairros. CPDOC/FGV. Disponível em: Luiza Helena de Bairros | CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (fgv.br). Acesso em 08 nov 2021.

POMPEU, Fernanda. Luzia Bairros. Fernanda Pompeu Digital. Disponível em: Luiza Bairros (1953-2016) – Fernanda Pompeu DigitalFernanda Pompeu Digital. Acesso em 08 nov 2021.

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