Doutora em Antropologia Social, pesquisadora de combate ao neonazismo e consultora em estudos sobre deficiência.
Adriana Abreu Magalhães Dias é uma das maiores referências em pesquisa sobre neonazismo no Brasil. Ela se formou em Ciências Sociais pela UNICAMP onde seguiu estudando até concluir seu doutorado. Destacou-se já em sua pesquisa de monografia pioneira sobre nazismo. Graduou-se em 2005, finalizou o mestrado em 2007 e defendeu sua tese de doutorado em 2018 sobre: Observando o ódio: entre uma etnografia do neonazismo e a biografia de David Lane.
Segundo escreveu Suely Kofes, sua orientadora e amiga, em seu obituário: “As suas pesquisas acadêmicas, monografia, dissertação e tese, são imprescindíveis para estudo das concepções e ações neonazistas e sobre pesquisas antropológicas na Internet. Quem faz antropologia neste campo de estudos no Brasil precisa necessariamente reconhecer seu pioneirismo e a importância de suas pesquisas”.
Adriana Dias foi responsável por encontrar uma carta assinada por Jair Bolsonaro em sites nazistas, publicada em 2004. Sua descoberta foi publicada pelo jornal The Intercept Brasil e muito contribuiu para revelar o perfil e a compreensão sobre o bolsonarismo e sua associação com o neonazismo. Segundo ela própria destacou em entrevista concedida em agosto de 2021: “A partir da descoberta dessa carta, olho todos os finais de entrevista desse governo por outra ótica. Ele tem de fato um vínculo [com os neonazistas] desde 2004″.
Inegável a importância desta contribuição para a análise da realidade brasileira contemporânea. O trabalho de pesquisa de Adriana Dias identificou mais de 300 células neonazistas no Brasil, reunindo entre 4 e 5 mil pessoas. Inclusive, Adriana publicamente alertou sobre este problema em 2019, a partir de entrevista para a Deutsche Welle. Nesta oportunidade, ela afirmou: “A sociedade brasileira está nazificando-se. As pessoas que tinham a ideia de supremacia guardada em si viram o recrudescimento da direita e agora estão podendo falar do assunto com certa tranquilidade”.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania publicou nota de pesar do seu falecimento. Nela, o Ministério reconhece Adriana Dias como figura importante na composição da nova gestão presidencial, tendo sido colaboradora do grupo de transição do governo Lula, atual presidente.
Adriana Dias foi também uma militante anticapacitista que atuou pela acessibilidade das pessoas com deficiência. Matheus Pichonelli, amigo da pesquisadora, relembra da perspectiva compartilhada por Adriana através de sua vivência enquanto mulher com deficiência, doutora e pesquisadora: “No auge da pandemia, ao observar como a morte havia sido banalizada por Jair Bolsonaro, segundo quem o vírus seria fatal ‘apenas’ para uma minoria sem ‘histórico de atleta’, a pesquisadora, que sofria com uma osteogênese imperfeita e militava em defesa de pessoas com deficiência, se indignou: ‘Lutei muito para chegar onde cheguei, apesar dos meus problemas respiratórios e da minha doença crônica óssea, que dificulta muito a intubação respiratória. Eu tenho doutorado pela Unicamp, combate ao neonazismo no Brasil, lutei muito pelo direito das pessoas com deficiência, das mulheres, contra o racismo. Escrevi mais de 60 leis, entre municipais, estaduais e federais, em vertentes de direitos humanos diversos. Tudo foi conquistado com muito esforço. E está sendo dito que minha vida é eliminável.’ Ela apontava o capacitismo como um ponto de conexão entre o enfrentamento da crise sanitária e a ascensão nazista”.
Espalhada a notícia do falecimento da nossa querida Adriana Dias, em 29 de janeiro de 2023, além da academia, diversas organizações e imprensa fizeram publicações em sua homenagem. Dentre elas, destacamos a Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa com Deficiência, o Conselho Nacional de Saúde, a Associação Juízes para a Democracia, o Portal G1, a Carta Capital, o Correio Brasiliense, o Brasil de Fato e o Portal C3.
Palavras-Chave/TAG: #antifascismo #capacitismo #democracia #feminista #antropologia #pesquisa #racismo #colonialidade
Elaborado por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
DIAS, Adriana Abreu Magalhães. Os anacronautas do teutonismo virtual: Uma etnografia do neonazismo na Internet. UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas: Campinas: 2007. Disponível em: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (diaadia.pr.gov.br). Acesso em 18 fev 2023.
- Sites:
Associação Juízes para a Democracia. Nota de Pesar: Adriana Dias. 30 de janeiro de 2023. Disponível em: AJD Portal – Nota de Pesar: Adriana Dias. Acesso em 18 fev 2023.
Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa com Deficiência. Morre Adriana Dias, ativista pelos direitos das mulheres com deficiência e pesquisadora referência sobre as consequências do nazismo. São Paulo: 30 de janeiro 2023. Disponível em: Morre Adriana Dias, ativista pelos direitos das mulheres com deficiência e pesquisadora referência sobre as consequências do nazismo – Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa com Deficiência (camarainclusao.com.br). Acesso em 18 fev 2023.
Carta Capital. Morre Adriana Dias, pesquisadora que descobriu carta de Bolsonaro a neonazistas. São Paulo: 29 de janeiro de 2023. Disponível em: Morre Adriana Dias, pesquisadora que descobriu carta de Bolsonaro a neonazistas – Sociedade – CartaCapital. Acesso em 18 fev 2023.
Correio Brasiliense. Morre Adriana Dias, referência na pesquisa sobre neonazismo no Brasil. Brasília: 29 de janeiro de 2023. Disponível em: Morre Adriana Dias, referência na pesquisa sobre neonazismo no Brasil (correiobraziliense.com.br). Acesso em 18 fev 2023.
DIAS, Adriano. Morre a antropóloga Adriana Dias. Portal C3: 29 de janeiro de 2023. Disponível em: Morre a antropóloga Adriana Dias – Portal C3. Acesso em 18 fev 2023.
Escavador. Adriana Abreu Magalhães Dias. Disponível em: Adriana Abreu Magalhães Dias | Escavador. Acesso em 18 fev 2023.
KOFES, Suely. Obituário Adriana Abreu Magalhães Dias. UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e História: Campinas, 31 de janeiro de 2023. Disponível em: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Adriana Abreu Magalhães Dias (unicamp.br). Acesso em 18 fev 2023.
PEREIRA, Larissa. Pesquisadora da Unicamp que estudou grupos neonazistas no Brasil e integrou grupo de transição do governo morre aos 52 anos. Portal G1: Campinas, 30 de janeiro de 2023. Acesso em 18 fev 2023.
PICHONELLI, Matheus. Morre Adriana Dias, antropóloga que mapeou a ascensão neonazista no Brasil. UOL TAB: 30 de janeiro de 2023. Disponível em: Morre Adriana Dias, antropóloga que mapeou a ascensão neonazista no Brasil – 30/01/2023 – UOL TAB. Acesso em 18 fev 2023.
PIRES, Thalita. Morre Adriana Dias, uma das maiores pesquisadoras do neonazismo no país. Brasil de Fato: São Paulo, 29 de janeiro de 2023. Disponível em: Morre Adriana Dias, uma das maiores pesquisadoras do | Geral (brasildefato.com.br). In CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria. São Paulo: 30 de janeiro de 2023. Disponível em: Morre Adriana Dias, uma das maiores pesquisadoras do neonazismo no país (cfemea.org.br). Acesso em 18 fev 2023.
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