Ex-diplomata, escritora, jornalista, dramaturga, tradutora e historiadora.
Cecília Prada é uma das maiores jornalistas e escritoras da história brasileira. Tornou-se a 7ª mulher a alcançar o cargo de diplomata através do concurso público do Itamaraty, tendo aberto mão do cargo a pedido de seu ex-marido, Sérgio Paulo Rouanet. Sérgio realizou tal pedido a fim de beneficiar sua carreira, pois o Itamaraty não permitia o casamento dos funcionários consulares. Conforme exposto em entrevista a Matheus Pichonelli à Universa UOL: “Ele me pediu para não estragar a carreira dele. E eu, como se vê, não estraguei”. Cecília exerceu a carreira no cargo de Cônsul, como terceira secretária, até novembro de 1958. Além de diplomata, também foi diretora da União Brasileira dos Escritores.
Segundo a reportagem A ex-diplomata de quase 90 anos que luta há décadas para ser readmitida no Itamaraty, de Talita Marchao, pela BBC News Brasil, Cecília Prada buscou retomar seu cargo na diplomacia através de décadas. Dentre os episódios, destaca-se a candidatura ao cargo de diretora do Instituto de Estudos Brasileiros de Montevidéu. Apesar de ser diplomata formada e professora, com experiência no serviço público, teve sua aprovação retirada em função de sua idade em 2001, 70 anos, estar enquadrada na aposentadoria compulsória dos quadros de pessoal do Itamaraty. Recorreu à Justiça, mas Cecília Prada ainda assim foi impedida de exercer o cargo. A reportagem também traz luz ao fato de que Cecília Prada foi uma das primeiras jornalistas formadas no Brasil, o que nos permite refletir sobre a relevância de seu pioneirismo no jornalismo, na diplomacia e na literatura do Brasil e do mundo.
Formada tanto em Letras Neolatinas, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, quanto em Jornalismo, pela Fundação Cásper Líbero, em 1951, também cursou Dramaturgia, Direção e Crítica pela The New School for Social Research, parceira da The Gene Frankel Theater Workshop, em Nova York, EUA. Cecília tornou-se mestra em Literatura Hispano-Americana pela Universidade de São Paulo (USP) em 1983. Segundo Elfi Kürten Fenske, Cecília Prada era fluente em 6 línguas e traduziu mais de 35 livros em inglês, espanhol, francês, italiano e latim.
Cecília Prada publicava artigos literários e fazia reportagens para A Gazeta desde os seus 18 anos. Cecília também foi professora de português até aproximadamente seus 27. Tal aconteceu em 1956, quando iniciou sua carreira diplomática. Também trabalhou em pesquisas para o jornal O Globo, a partir de 1972, e por um ano exerceu o cargo de editora de cultura do jornal O Estado de S. Paulo. Ainda em relação ao jornalismo, foi repórter e subeditora de Cultura da revista Visão, a partir de 1976. Em 1977, iniciou suas críticas teatrais na revista IstoÉ. À época, já era membro da Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca). Também trabalhou com a TV Cultura por 2 anos, redigindo toda a parte literária do Telecurso de Segundo Grau. Em sequência, em 1984, assumiu o cargo de leitora de Literatura e Cultura Brasileira no Instituto Universitário Bérgamo, Itália, por ação do Ministério das Relações Exteriores visando a divulgação de relevantes escritores brasileiros. Após o período na Itália, tornou-se editora do noticiário internacional da TV Gazeta. Destaca-se que atualmente a intelectual é membro da Academia Campinense de Letras (ACL).
Em relação ao reconhecimento público da obra de Cecília Prada, destacamos que a autora foi reconhecida das seguintes formas: Prêmio Revelação de Autor, em 1978; Menção Honrosa do Prêmio José do Rego de Ficção, em 1965; Menção Honrosa do Prêmio Governador do Estado de São Paulo, em 1962; Prêmio do 1º Concurso de Contos de A Gazeta, em 1949; Revelação de Autor, em 1978, pela Apca, em função do livro O caos na sala de jantar; e Prêmio Esso de Reportagem 1980. Em relação ao último, o prêmio de jornalismo foi conferido em função da matéria denunciando a Clínica de Repouso Congonhas, publicada pela Folha de São Paulo em 1979. O prêmio foi criado em 1959, tendo sido Cecília Prada a primeira mulher a recebe-lo em função através de reportagem solo e com alcance nacional. Segundo Elfi Kürten Fenske, até 2012 apenas duas mulheres foram premiadas na categoria.
Conforme informa em sua página no LinkedIn, Cecília Prada é jornalista veterana que publicou 13 livros entre 1955 e 2013. Dentre suas 7 obras jornalísticas, a autora destaca: Menores no Brasil: a loucura nua – reportagem ganhadora do Prêmio Esso (edições em 1981 e 1998); A pena e o espartilho (mulheres e literatura), pela Editora UNISINOS-RS, de 2010; e Profissionais da solidão (escritores), pela Editora SENAC-SP, em 2013. Já em relação a seus 6 livros de ficção, a autora destaca: O caos na sala de jantar, pela Editora Moderna; Estudos de interiores para uma arquitetura da solidão, de 2004; e Faróis estrábicos na noite, de 2009.
Cecília assina cerca de 150 artigos publicados em revistas dos EUA, de Portugal e de países escandinavos. Inclusive, o artigo “Primórdios da imprensa no Brasil” foi pauta de entrevista concedida à ABC News de Sidney, Austrália. Inclusive, desde 1997 colabora com matérias assinadas sobre assuntos culturais, principalmente Literatura Brasileira e História, para a revista Problemas Brasileiros, da Federação do Comércio (Fcesp-Sesc/SP).
Em 2020, a Academia Campinense de Letras patrocinou a publicação do livro Nós, que nem ao menos somos deuses. A antologia apresenta 35 de seus melhores contos, em homenagem aos 90 anos da autora, bem como 70 anos de dupla atividade cultural – qual seja, jornalismo e literatura.
Em fevereiro de 2020, inclusive, Cecília Prada foi indicada por duas academias de letras como candidata ao Prêmio Nobel de Literatura. De fato, a intelectual faz jus à honraria internacional, tendo em vista o enorme impacto cultural e a riquíssima produção literária. Que todo o reconhecimento devido à autora seja feito – ainda que seja pouco em comparação com sua obra e vida.
Em 2022, recebeu uma grande homenagem dos alunos da FECAP – Fundação Escola de Comércio Alvares Penteado, com a nomeação de Cecília Prada ao do CARI (Centro Acadêmico de Relações Exteriores), que assim se manifestou no seu Facebook “Fiquei muito emocionada ao ver um teatro lotado por grupo jovem e entusiasta, que após minha fala meio “quente” de 40 minutos me ovacionou de pé”.
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Elaborado por: Emilson Gomes Junior
REFERÊNCIAS
- Sites:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Cecília Prada – os itinerários de uma contista e jornalista. Templo Cultural Delfos, setembro/2021. Disponível no link. (acessado em 29/07/2022). Disponível em: Cecília Prada – os itinerários de uma contista e jornalista | Templo Cultural Delfos (elfikurten.com.br)
LinkedIn. Cecília Prada. Profissional independente de Jornais. Campinas, São Paulo, Brasil. Disponível em: (42) Cecilia Prada | LinkedIn
MARCHAO, Talita. A ex-diplomata de quase 90 anos que luta há décadas para ser readmitida no Itamaraty. BBC News Brasil. São Paulo. 2019. Disponível em: A ex-diplomata de quase 90 anos que luta há décadas para ser readmitida no Itamaraty – BBC News Brasil
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