Ativista política e espiritualista.
Laurinda Lacerda Cintra se tornou conhecida como Doninha do Tanque Novo quando se tornou líder política de um vilarejo no município de Poconé, na localidade de Tanque Novo, Mato Grosso, onde nasceu em 19 de março de 1904. Muitas pessoas procuravam Doninha no arraial de Tanque Novo em busca de curas para suas dores e enfermidades. Alguns pacientes acompanhavam Doninha após a cura, formando uma romaria na região.
Segundo Jocimar Jesus de Campos, Doninha passou a ter visões aos 27 anos, dizendo que se eram de Jesus Maria José. Inicialmente, as visões teriam sido atribuídas a Maria da Verdade. Em História e Geografia de Mato Grosso, Marcos Amaral Mendes expõe que “o fascínio exercido por Doninha extrapolou em muito os limites da região mato-grossense, pois atraiu romeiros de outros Estados como Goiás e Bahia. A pacata localidade chegou a receber um fluxo diário de mais de mil pessoas, transformando-se em um pequeno arraial com algumas casas de comércio, vários casebres de palhas, ruas largas e uma igreja.”
Doninha ganhou notoriedade pela sua habilidade em curar doenças através de métodos simples e fé. Em uma ocasião, Gonçalo, um morador local, teria pedido a Doninha que curasse sua irmã doente. Doninha aconselhou Gonçalo a colocar sua irmã de joelhos e rezar. Conforme relatos, a jovem vomitou uma grande quantidade de água e logo se recuperou totalmente. Essa cura milagrosa atraiu muitas outras pessoas de regiões distantes, que vinham em busca dos remédios e tratamentos de Doninha. Os pacientes acreditavam que eram curados por intervenção divina, mediada por Doninha, que se tornou uma figura santa e respeitada na comunidade.
Doninha ganhou destaque não apenas por suas habilidades de cura, mas também por sua resistência ao regime de Getúlio Vargas. Durante a ditadura de Vargas, qualquer grupo que não apoiasse o governo era visto com desconfiança e repressão. Mesmo sob essa ameaça, Doninha continuou a exercer seu trabalho, cuidando de suas irmãs e irmãos, muitos dos quais eram constitucionalistas.
Seu vilarejo foi invadido por forças policiais do governo Vargas, que não tolerava a dissidência. Doninha, que praticava suas curas e atraía multidões através de sua conexão com “Santa Maria da Verdade”, tornou-se um símbolo de resistência. Em novembro de 1933, ela foi presa por três meses, período durante o qual foi espancada e torturada juntamente com seu filho de apenas 11 meses. Seus filhos mais velhos, Manoel e Lourenço, ficaram sob os cuidados de sua amiga, Nhacandí.
A crescente influência de Doninha e a grande quantidade de pessoas que ela atraía incomodavam o governo de Vargas. Mesmo diante da repressão brutal, Doninha permaneceu firme, simbolizando a resistência e a esperança para muitos que viam nela uma líder espiritual e uma figura de luta contra a tirania.
O julgamento de Doninha foi contestado porque o juiz considerou o caso como crime comum, embora as razões para sua prisão fossem de natureza política. Seu caso deveria ter sido julgado pela Justiça Federal. Doninha aguardou o resultado do julgamento presa até agosto de 1934, quando todos os outros indiciados foram libertados. Ela foi considerada inocente, mas isso ocorreu somente após a vitória do Partido da Aliança Liberal nas novas eleições, inclusive no município de Poconé.
Após a abertura do inventário de seu pai, Doninha recebeu como herança uma parte de Tanque Novo, que ela renomeou como Caeté. Em Caeté, continuou recebendo pessoas que buscavam suas curas, embora se sentisse ameaçada e discriminada. Posteriormente, ela e sua família mudaram-se para Cáceres, onde permaneceram por pouco tempo antes de retornarem a Caeté. Doninha continuou suas atividades até sua morte natural em 1974.
Palavras-Chave/TAG: #doninhadotanque #espiritualidade #liberdadereligiosa #mulheresnapolítica #eravargas
Elaborado por: Emilson Gomes Junior
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
DE CAMPOS, Jocimar Jesus. As Narrativas Míticas da Comunidade Quilombola de Morrinhos / Poconé / MT e os Afazeres Escolares. Cuiabá: Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, 2017. Disponível em: DISS_2017_Jocimar Jesus de Campos.pdf (ufmt.br)
MENDES, Marcos Amaral.História e Geografia de Mato Grosso. Cuiabá: Cafarnaum, 2015.
SILVA, Jaqueline Dias. O Falar Poconeano: um Estudo Sobre as Variedades Linguísticas em Uso. Cáceres: Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso, 2016. Disponível em: Jaqueline-Dias-da-Silva.pdf (unemat.br)
GARCIA-WATANABE, Dolores Aparecida. Águas pantaneiras nos ritos, mitos da educação ambiental. Cuiabá: Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, 2005. Disponível em: ( PDF ) Águas pantaneiras nos ritos, mitos e gritos da educação ambiental (livrosgratis.com.br)
VALENTE, Rubens. A esfinge Mato Grosso. In VARGAS, Rodrigo; MEDEIROS, José. Andanças: Reportagens pelos confins de Mato Grosso. Cuiabá: Entrelinhas, 2017.
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- Sites:
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MEDINA, Martins. Estudantes elaboram dicionário Excluídos da História. São Paulo: Jornal Joca, 2020. Disponível em: Estudantes elaboram dicionário Excluídos da História – Jornal Joca
Moraes, Ednilson. Tanque Novo: Doninha do Caeté. Disponível em: http://historiografiamatogrossense.blogspot.com/2011/02/tanque-novo-doninha-do-caete-os.html#; https://bit.ly/vpn_secure
RIBEIRO, Rodivaldo. Líder religiosa, Doninha atraiu multidões e foi insurgente anti Getúlio Vargas. Cuiabá: RDNEWS, 2027. Disponível em: Líder religiosa, Doninha atraiu multidões e foi insurgente anti Getúlio Vargas – saiba | RDNEWS – Portal de notícias de MT
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