Em 22 de dezembro de 2015, a ONU – Organização das Nações Unidas aprovou a instituição do 11 de fevereiro como celebração do Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. O objetivo é promover o acesso integral e igualitário de mulheres e meninas na ciência, estimulando o exercício da autonomia das mulheres e proporcionando a possibilidade de carreiras científicas frutíferas e livres do machismo. Os dados acerca da desigualdade de gênero na Ciência não deixam dúvidas quanto à necessidade e relevância do tema para os dias de hoje.
Ao longo de décadas, o patriarcado reinante propagou a ideia de que as áreas STEM – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (do inglês Science, Technology, Engineering, and Mathematics) eram mais propícias aos interesses dos homens, certamente afastando milhões de mulheres talentosas de contribuir com o progresso humano em todo mundo. Dados da ONU e da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, calculou que mulheres representam menos de 30% dos pesquisadores do mundo, especialmente nas carreiras de STEM. Além das barreiras culturais para a entrada de meninas e mulheres nas Ciências, acrescenta-se a ausência de acolhimento em relação a maternidade, o assédio, a baixa representatividade em cargos de chefia e o Efeito Matilde, no qual otrabalho das mulheres cientistas é minimizado e muitas vezes tratado com menor importância, sem os devidos créditos e, muitas vezes, a descoberta é desviada para colegas homens. Como decorrência, as mulheres nesta área acabam invisibilizadas e passam anos sem receber o reconhecimento que deveriam.
Embora haja avanços na participação das mulheres em diversos campos das Ciências, o caminho para a equidade de gênero e raça ainda é longo. É importante ressaltar que cerca de 75% dos postos de trabalho em 2050 serão nas áreas STEM. Dessa forma, se não houver políticas que garantam o ingresso e a digna permanência de meninas e mulheres nas carreiras científicas estaremos alimentando o sistema que marginaliza e empobrece mulheres em todo o mundo.
A respeito da urgência do tema, notável que a USP – Universidade de São Paulo realizou, em novembro de 2020, o 1º Encontro da Pós-graduação da USP com o tema Elas Fazem Ciência, organizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação em parceria com o Escritório USP Mulheres e a APG USP Capital – Associação de Pós-Graduandos Helenira ‘Preta’ Rezende. O evento contou com 29 atividades. Foram 250 e-pôsteres, premiações de Vídeos e Teses USP, palestras, mesas redondas, workshops para discutir a participação das mulheres na pesquisa, no empreendedorismo, na liderança e na gestão pública-privada, tudo isso com a presença de 20 universidades estrangeiras.
Outra iniciativa interessante é o Dossiê Temático Mulheres e Meninas na Ciência, organizado por Cristiana Araripe Ferreira e Cristiani Vieira Machado. Nesta publicação, a FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz discute temas como a história e as trajetórias das mulheres na Instituição. Destaca-se o texto de Aryella Maryah Couto Correa, nos contando como o PROVOC – Programa de Vocação Científica da FIOCRUZ tornou possível seu sonho em ser cientista. O PROVOC é um programa de iniciação científica em parceria com colégios próximos à Fundação, localizada em Manguinhos, além do Colégio Pedro II.
Necessário lembrar de grandes nomes de mulheres que já deram sua contribuição às pesquisas cientificas, como Marie Curie, a primeira pessoa a receber o prêmio Nobel duas vezes, um em 1903, em Física, ao demonstrar a existência da radioatividade natural, e o outro em 1910, na área de Química, pela descoberta de dois novos elementos químicos. Lembramos também de Nettie Stevens que, em 1905, descobriu os cromossomos X e Y, de Rosalind Franklin, que em 1953, desvendou que o DNA se apresentava em duas formas – hidratada ou desidratada e Françoise Barré-Sinoussi, virologista francesa, que descobriu o vírus causador da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) em 1983.
No Brasil, é bom lembrar que somente a partir de 1879 foi permitido a entrada das mulheres nas universidades. Desde então, são várias as que veem produzindo conhecimento na área cientifica. Destacamos a bióloga Bertha Lutz, reconhecida pela pesquisa sobre anfíbios brasileiros; Graziela Barroso, conhecida como a primeira dama da Botânica no Brasil; Sonia Guimarães, primeira mulher negra brasileira doutora em física e a lecionar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1993, quando a instituição não aceitava mulheres como estudantes; a engenheira Marília Chaves que desenvolveu trabalhos importantes em equações diferenciais e contribuiu para que o Brasil fosse reconhecido, internacionalmente, em matemática e sistemas dinâmicos e na área de nanotecnologia, a engenheira química baiana Viviane Barbosa, que desenvolveu um produto que reduz a emissão de gases poluentes.
Na medicina, entre tantas, destacamos Mayana Zatz, bióloga e geneticista que tem feito cruciais descobertas genéticas sobre a ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica e outras condições genéticas e a farmacêutica baiana Marilda de Souza Gonçalves, estudiosa da anemia falciforme, um problema genético que diminui a circulação de oxigênio no sangue e afeta, particularmente, pessoas afrodescendentes.
A mais conhecida astrônoma brasileira talvez seja Duília de Mello, hoje professora de Física e Astronomia na Universidade Católica de Washington. Como pesquisadora da NASA, descobriu a estrela Supernova SN 1997D. Participou ainda, da descoberta das bolhas azuis (aglomerados de estrelas fora das galáxias), conhecidas como “orfanatos de estrelas” e da descoberta da maior galáxia em espiral já registrada por astrônomos. Já Beatriz Barbuy é uma astrofísica consagrada como umas maiores autoridades no estudo das estrelas antigas, sendo Beatriz responsável por diversas descobertas relevantes na astronomia.
Que essas e tantas outras trajetórias possam inspirar meninas e mulheres a entrar no mundo da Ciência e romper com os entraves que sustentam as desigualdades de gênero e raça nesse campo.
Texto escrito por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher
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REFERÊNCIAS:
- Produções acadêmicas:
Dossiê Temático Mulheres e Meninas na Ciência. FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz, MS – Ministério da Saúde: Rio de Janeiro, 2022. Disponível em: dossie_mulheres_e_meninas_na_ciencia_final_2.pdf (fiocruz.br). Acesso em 28 mar 2024.
- Sites:
11 DE FEVEREIRO – DIA INTERNACIONAL DAS MENINAS E MULHERES NA CIÊNCIA. UFG – Universidade Federal de Goiás: 11 de fevereiro de 2022. Disponível em: 11 DE FEVEREIRO – DIA INTERNACIONAL DAS MENINAS E MULHERES NA CIÊNCIA | SIN (ufg.br). Acesso em 28 mar 2024.
11 DE FEVEREIRO: DIA INTERNACIONAL DAS MENINAS E MULHERES NA CIÊNCIA. UFJ – Universidade Federal de Jataí. Disponível em: Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência 2020 (ufg.br). Acesso em 28 mar 2024.
Conselho do Diploma Bertha Lutz. Senado Federal: Brasília. Disponível em: Conselho do Diploma Bertha Lutz – Órgãos do Parlamento – Senado Federal. Acesso em 28 mar 2024.
Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: 9 de fevereiro de 2024. Disponível em: Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência — Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (www.gov.br). Acesso em 28 mar 2024.
Dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências. USP Mulheres: 12 de fevereiro de 2021. Disponível em: Dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências – USP Mulheres. Acesso em 28 mar 2024.
dra_hanid_neuropediatra. Instagram. Disponível em: Dra. Hanid Gomes | Neuropediatra | Neuroland (@dra_hanid_neuropediatra) • Fotos e vídeos do Instagram. Acesso em 28 mar 2024.
Hanid Fontes Gomes. Escavador. Disponível em: Hanid Fontes Gomes | Escavador. Acesso em 28 mar 2024.
Neuroland. YouTube. Disponível em: (697) Neuroland – YouTube. Acesso em 28 mar 2024.