Ana Rocha – jornalista, psicóloga, mestra em Serviço Social, pós-graduada em Políticas Públicas e Governo; Ex-Secretária de Políticas para as Mulheres da Prefeitura do Rio; ex-assessora de gênero do sindicato dos comerciários do Rio; da Coordenação do Fórum Nacional do PcdoB sobre a Emancipação das Mulheres, atualmente Assessora do Ministério das Mulheres.
Assessora do Ministério das Mulheres, a jornalista e psicóloga Ana Rocha argumenta que “um país desenvolvido e democrático só é possível com maior participação das mulheres”.
Os marxistas analisam a opressão das mulheres a partir de um contexto econômico, político e social, nesse sentido desnaturalizam a opressão das mulheres. Sob essa ótica, a subjetividade das mulheres reflete o contexto e a época em que vivem.
Em tempos de capitalismo em crise, de política neoliberal, com a redução do papel do Estado nas políticas públicas, a onda conservadora prega o papel de cuidadora das mulheres, numa quadra em que as mulheres estão no mercado de trabalho e tornaram-se provedoras. Com isso, cresce o número de mães solo e chefas de família.
No período pós-guerra, quando ao capitalismo interessava a volta das mulheres ao lar para que os empregos fossem ocupados pelos homens que voltavam do campo de batalha, foi criada a figura da Rainha do Lar. A subjetividade das mulheres era povoada de um mal estar difuso. Muitas tinham vivido o gosto da autonomia econômica e de um reconhecimento público por seu trabalho e se viram de repente numa gaiola de ouro. O filme As Horas mostra esse mal estar na história de uma de suas personagens.
E hoje? Como anda a subjetividade das mulheres?
Provedoras e cuidadoras… cobradas para serem belas e competentes, enfrentando sobrecarga, precariedade nos serviços públicos de transporte, moradia e saneamento. Na sua maioria em empregos precários e informais, sem direitos trabalhistas e de saúde.
Nesse contexto, a subjetividade das mulheres é povoada de culpa diante das exigências de ser uma boa mãe e esposa e, ao mesmo tempo, garantir sua autonomia econômica, a sua sobrevivência e de seus filhos, o reconhecimento público, de que não querem abrir mão! Uma inquietação em atender ao chamado do seu tempo, que não é apenas ser bela, recatada e do lar! Mas sim ser o que ela quiser: mãe, trabalhadora, política… dona do seu dinheiro e do seu corpo, livre de violência!
A supermulher, demandada e exigida para os diversos papéis que a realidade impõe, tem por outro lado, adoecido, física e mentalmente.
Digo sempre, se na época de Freud o mecanismo de defesa das mulheres era a histeria, sua reação ao sofrimento com a repressão sexual, o mecanismo de defesa da mulher na atualidade é a Síndrome de Pânico (dentre os diversos tipos de depressão), uma reação à super demanda. Em determinado momento a mulher fica paralisada!
O desafio da atualidade é garantir condições de vida e emprego digno para as mulheres! Isso requer maior desenvolvimento do país. Por outro lado, é imperativo a implementação de políticas públicas de gênero, que reduzam a sobrecarga doméstica e de cuidados. Junto a isso é necessário reforçar a democracia, garantindo maior representação política das mulheres nos espaços de poder e decisão, de forma a interferirem nos rumos do país; uma vida partidária compatível com o cotidiano das mulheres, uma legislação e financiamento que garantam a eleição das mulheres; além de medidas para barrar a violência política de gênero!
Um país desenvolvido e democrático só é possível com maior participação das mulheres! Só com mulheres felizes, livres da fome, do racismo, da violência e da opressão!