• Alzira Soriano (1897-1963)

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25 de maio de 2023 por 

Primeira Prefeita da América do Sul

Alzira Sorianonasceu em 29 de abril de 1897, em Jardim de Angicos (RN). Luisa Alzira Teixeira de Vasconcelos é filha de Margarida de Vasconcelos e de Miguel Teixeira de Vasconcelos, coronel da Guarda Nacional, líder político local e comerciante. Jardim de Angicos era, na época, o centro comercial da região e lugar de passagem para os viajantes do sertão.

Casou-se, no dia 29 de abril de 1914, aos 17 anos, com Tomaz Soriano de Sousa Filho. Em janeiro de 1919, ele faleceu, vítima da gripe espanhola. Eles tinham três filhas: Sônia, Ismênia e Maria do Céu, e Alzira estava grávida de Ivonilde. Viúva aos 22 anos, foi viver com as filhas na fazenda Primavera, próxima à casa de seus pais.

Alzira assumiu a administração da fazenda Primavera, as terras da família, e amadureceu sua visão sobre gestão e política, procurando tomar parte das iniciativas do pai, que continuava a ser um influente líder local. Alzira trabalhou na campanha do pai, que foi prefeito de Jardim de Angicos de 1914 a 1917.

Em 1927 ocorreu a campanha pela concessão do direito de voto às mulheres no Rio Grande do Norte que ganhou força política ao ser promovida pelas sufragistas e apoiada pelo governador Juvenal Lamartine e seus aliados. Lamartine havia sido relator do projeto de Lei do sufrágio feminino no Congresso Nacional, que não foi aprovado no Senado. Com o apoio das feministas, Lamartine tornou-se governador e promulgou a Lei estadual que permitiu o voto eleitoral das mulheres.

Algumas potiguaras fizeram o título eleitoral e surgiu a estratégia de lançar uma candidatura feminina. Cabe ressaltar que nessa época ainda não havia o direito de voto para as mulheres  no Brasil, mas não havia a proibição de sua candidatura. Alzira acompanhou as conquistas femininas no estado e comemorou o registro da primeira mulher eleitora do Rio Grande do Norte, a professora Celina Guimarães Viana, de Mossoró, em novembro de 1927.

As articulações para a escolha de uma candidata mulher para concorrer envolveram Bertha Lutz, líder da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, o governador Lamartine, Alzira Soriano e seu pai. Depois de grandes discussões chegaram à conclusão de que Alzira Soriano deveria se candidatar pelo Partido Republicado à prefeitura de Lages.

A campanha eleitoral foi conturbada, como já se imaginava. Alzira sofreu inúmeras ofensas pessoais vindas de seus adversários, que diziam que mulher pública é prostituta, enquanto outros falavam com seus familiares que não ficava bem uma mulher de família entrar para a política. No entanto, a candidatura foi um sucesso: Alzira obteve 60% dos votos válidos do município. O adversário, sentindo-se humilhado, saiu não apenas da cidade, mas também do estado.

A eleição de Alzira chegou a repercutir na imprensa internacional: o jornal The New York Times publicou uma nota no dia 08 de setembro de 1928, na qual atribui a eleição da primeira mulher a um cargo eletivo no Brasil à influência do movimento sufragista americano. De fato, Bertha Lutz era uma das líderas do movimento feminista pan-americano e possuia interlocução com as sufragistas norte-americanas, assim como latino-americanas e caribenhas. A posse na prefeitura de Lages, no dia 1º de janeiro de 1929, teve grande cobertura da imprensa. No discurso de posse, Alzira Soriano demonstrou habilidade política e a sua percepção de que o papel da mulher na sociedade estava mudando de forma definitiva. Segundo publicado na Tribuna da Justiça, Alzira Soriano teria dito: “Determinaram os acontecimentos sociais do nosso querido Rio Grande do Norte, na sua constante evolução da democracia, que a mulher, esta doce colaboradora do lar, se voltasse também para colaborar com outra feição na sua obra político-administrativa”. Ainda destacou que: “As conquistas atuais, a evolução que ora se opera, abrem uma clareira no convencionalismo, fazendo ressurgir a nova faceta dos sagrados direitos da mulher”.

Alzira ficou no cargo por quase dois anos e seu governo ficou marcado pela construção de escolas e obras de infraestrutura, como estradas que ligavam a sede do município aos distritos, e melhorias na iluminação pública e gás.

Com a vitória da Revolução de 1930, Alzira deixou a prefeitura. Embora tivessem oferecido o cargo de interventora municipal, decidiu fazer oposição ao governo de Getúlio Vargas que, a seu ver, afrontava a democracia. No último dia de sua gestão levou as filhas para fazer visitas a  apoiadores com o intuito de agradecer o apoio recebido durante sua administração. Pretendia visitar, também, seus adversários para dialogar, porém muitos se recusaram a recebê-la.

Em seguida, Alzira decidiu mudar para Natal, onde tinha escolas melhores para as filhas. Permaneceu na capital até 1939, quando resolveu voltar para a fazenda Primavera, em Jardim de Angicos, participando das articulações com os líderes locais. Com isso, seu nome continuou ligado à política e, após a redemocratização do país em 1945, Alzira Soriano se candidatou à vereadora pela União Democrática Nacional (UDN) e virou líder da bancada. Foi reeleita à Câmara Municipal nas eleições seguintes.

Em 1961, Alzira descobriu um câncer no útero em estágio avançado. Com isso, passou o último ano de sua vida entre Natal, a fazenda Primavera e o Rio de Janeiro, alternando internações em hospitais e o repouso em casa. Alzira faleceu em Natal, no dia 28 de maio de 1963, deixando seu pioneirismo como um grande legado para a história da participação política das mulheres, que até hoje continuam lutando para eliminar o preconceito de gênero na sociedade.

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Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Ana Laura Becker, Schuma Schumaher e Sofia Vieira.

REFERÊNCIAS:

  • Produções acadêmicas:

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

SCHUMAHER, Schuma, CEVA, Antonia. Mulheres no Poder: Trajetórias na Política a partir das lutas sufragistas do Brasil. Rio de Janeiro. Edições de Janeiro, 2015.

  • Sites:

Alzira Soriano. Tribuna da Justiça, 14 de novembro de 2020. Disponível em:  A história de coragem de Alzira Soriano, a primeira prefeita eleita no Brasil | Tribuna da Justiça (tribunadajustica.com.br). Acesso em 19 jun 2023.

LAGO, Rudolfo. Carta à minha bisavó, Alzira Soriano. Congresso em Foco, UOL: 08 de março de 2023. Disponível em: Carta à minha bisavó, Alzira Soriano – Congresso em Foco (uol.com.br). Acesso em 19 jun 2023.

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