• Anatomia como destino: o discurso médico como estruturante dos valores patriarcais

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11 de abril de 2024 por 

Liliane Brum Ribeiro

Pelas veredas da história – os caminhos que sigo.

Diferentes áreas do conhecimento tentam, desde a antiguidade, explicar as diferenças entre os corpos de homens e mulheres, grande parte hierarquizando-as, como a filosofia, a religião e a medicina, seja ontologicamente como os Gregos o faziam, seja biologicamente com o advento da ciência moderna no século XVIII.  Religião e medicina se constituem como instituições sociais que adquirem centralidade na construção de uma “ordem natural” baseada nos órgãos das mulheres e/ou no que a tradição apontava.

A proposta deste texto é refletir sobre o lugar que o saber médico assume como estruturante na construção e na naturalização da dominação, opressão e exploração das mulheres, como já vêm demonstrando largamente vários autores e autoras, principalmente feministas, que estudam gênero, particularmente na interseccionalidade das áreas de saúde e corporalidade.

Tais debates desvelam circunstancias históricas chaves para a compreensão sobre as complexas e contraditórias relações entre os saberes médicos, da antiguidade à contemporaneidade, que mantêm como base comum a ideia de diferenças binárias em que o corpo das mulheres é apresentado como o diferente, um outro corpo nos pares de opostos.

Essarelação do corpo das mulheres como objeto de escrutínio médico e de prescrição social obviamente é resultadoda visão de estranhamento dos corpos das mulheres, construindo argumentos para explicar as diferenças em relação a seus próprios corpos (masculinos), considerados então os corpos perfeitos.

Esse meu olhar indagador segue também na ‘esteira’ de Foucault (1998) ao tratar o modo como a biomedicina, histórica e culturalmente, teve e tem se mantido como instituição central para o controle e disciplinamento dos corpos, contribuindo para sua docilização. Mas, também de Carole Pateman (1993), ao afirmar que por trás do contrato social desenha-se um contrato sexual. Para a autora, a medicina tem centralidade para que esse contrato sexuado se constitua como base das relações sociais.

Assim, a proposta deste texto é evidenciar a centralidade do saber médicocomo estruturante do lugar das mulheres nas sociedades patriarcais.

Corporificando diferenças, diversificando argumentos.

Como iniciei afirmando, temos um processo histórico e cultural associado à própria busca por hierarquizar e naturalizar as diferenças entre o organismo feminino e masculino que, desde a Antiguidade, intriga as práticas médicas encarregadas perante a sociedade de explicá-las. A associação aqui apresentada entre organismo feminino e práticas médicas, é encontrada em alguns autores que tornam evidente a existência de um discurso construído sobre a ideia de diferenças inatas, como nos exemplos abaixo.

Entre os séculos III e IV a.C., as escolas de medicina de Alexandria foram as responsáveis por impulsionar os estudos sobre a anatomia humana, realizando grandes avanços no período. Tais estudos eram possíveis pela prática da dissecação dos corpos, única forma para verem os órgãos e buscar explicações para o que acontecia num corpo. Entre seus principais expoentes estava o médico Claudio Galeno (129 d.C a 201 d.C.), que popularizou o conhecimento de Hipócrates (460-377 a.C) – “pai” da medicina -, sobre o funcionamento do organismo saudável, junto a filósofos como Platão (428-348 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C).

Laquer (2001), autor que se dedicou especialmente a escrutinar os tratados de medicina dos gregos ao Sec XVIII (data do nascimento da medicina de estrutura científica, com invenção de novas tecnologias como o microscópio, que tornou visível o invisível), demonstra como os tratados médicos da antiguidade descreviam, através de imagens de dissecações dos corpos, diferenças entre homens e mulheres que se dariam por possuírem diferentes graus de perfectibilidade. Tal explicação ficou conhecida Como a Teoria do Calor do Corpo, e afirmava que a diferença entre o corpo do homem e da mulher era dada pela quantidade de calor que um corpo possuía. Era o calor do corpo que definia se a criança nascia menino ou menina. Isso porque, se ao nascer o bebê tivesse menos calor no corpo seria um corpo fraco, imperfeito, sem força para externalizar seus órgãos. Portanto, menina. Se tivesse mais calor no corpo nasceria menino e teria seus órgãos externalizados, numa apoteose da natureza. Os corpos perfeitos! Assim, mulheres eram homens invertidos pela incapacidade de sua natureza.   

Essa explicação é presente também na filosofia de Aristóteles, afirmando que o calor menor do corpo das mulheres, que as fazia manter o escroto (mais tarde denominado útero) para dentro, criava um local de temperatura adequada para a gestação. Já Plínio – o Velho (23 a 79d.C), filósofo que escreveu a primeira Enciclopédia da história, explicava o sangue menstrual como um veneno fatal que matava insetos, definhava plantas, murchava flores, apodrecia as frutas e cegava navalhas. A relação sexual com uma mulher menstruada poderia ser fatal para o homem.

Portanto, nas explicações filosóficas e médicas da época (que se imbricavam), eventos próprios dos corpos das mulheres, tais como menstrução, gestação e leite materno, e outras, passaram a ser entendidas como resultado desse processo.

Assim, para os gregos, só existia um corpo com diferentes graus de perfectibilidade. E, vale salientar que um homem jamais poderia regredir e se tornar uma mulher, mas as mulheres poderiam, por alguns motivos, atingir um maior grau de perfectibilidade a ponto de externalizar os órgãos com o passar dos tempo e se tornarem homens. Laquer (op. Cit.), mostra que, em tratados de medicina da época, essa era a explicação médica para o hermafroditismo, por exemplo.  

Ainda centenas de anos depois, como conta Mary del Priore no livro chamado Magia e medicina na colônia (2001), o corpo das mulheres era visto, tanto por pregadores da igreja católica quanto por médicos, como um palco nebuloso e obscuro no qual deus e o diabo guerreavam constantemente. a doença era entendida na época como uma advertência divina para curar os desregramentos do espírito das mulheres.

Juntando as histórias de tantos séculos, lembro de minha adolescência no interior do RS, ainda nos anos 70 do século XX, muitas dessas concepções seculares se mantinham: “colher flor menstruada? Fazer bolo? Pode saber, murcha na hora!”, “lavar a cabeça menstruada? Nem pensar, pode ficar louca!”… e tantas outras afirmações, que hoje entendemos como “crendices populares”. O divertido era infringir as regras pra provar que não funcionavam.

Mas o interessante aqui pretende ser o ‘lugar’ de imperfeito, fraco, débil e, por vezes até doentio, que ainda hoje persiste em explicações da biomedicina e que se baseiam em argumentos que pretendem ser puramente biológicos, quando todos são carregados dos valores incorporados durante a vida enquanto pessoas construídas em e por um grupo social.

Um exemplo concreto disso é a história da médica Trótula de Salerno (1050 a 1097 d. C), professora da famosíssima Escola de Salerno, que existiu desde o seculo XI na Itália e era considerada a maior referência na área. Seus inúmeros tratados que circularam de forma manuscrita por séculos como referencia nas escolas, desaparece totalmente no final do século XVII, quando os tratados de medicina passaram a ser impressos e publicados. Esse apagamento dela coincide com o nascimento de uma medicina que passou a colocar as diferenças entre homens e mulheres em termos de natureza, gerando argumentos que questionaram a possibilidade de uma mulher ser referência em escolas médicas e passando a atribuir sua existência a mito. Só mais recentemente, através de estudos feministas, a importância de Trótula é recuperada e reinserida na história da medicina.

A passagem da teoria do Sexo Único para a do Dimorfismo Sexual

Entre os anos de 1700 e 1800 começa a ser concebida a ideia de que, diferentemente das explicações que vigoravam até então, a verdade seria que homens e mulheres são diferentes por natureza. Não seres com diferentes graus de perfeição, mas corpos que se formavam com sexos diferentes e isso marcaria definitivamente uma natureza masculina e uma feminina. E, junto à “descoberta” de dois sexos diferenciados, ou seja, que homens e mulheres já nasciam marcados por uma natureza distinta (é a passagem da teoria do sexo único ou do calor do corpo, para a do dimorfismo sexual ou dos dois sexos), também vieram as explicações para essas diferenças. Colado ao corpo das mulheres estaria sua condição. Esse corpo diferente que surge como o outro sexo, já nasceria pela sua especificidade orgânica, com tendência a comportamentos específicos que que seriam determinados por seus órgãos. Novamente as mulheres seriam corpos com tendências a imperfeição, nesse caso comportamental.

Foucault (2002) afirma que foi quando o discurso religioso/moral perdeu espaço, no fim da idade média, que o da biomedicina – como ciência – ganhou consideravelmente. O autor localiza no século XVIII essa passagem, momento em que a medicina começa “a pronunciar sobre o indivíduo um discurso de estrutura científica”.  que gera um outro olhar médico. Esse já não se dirige mais ao corpo concreto, ao doente em sua plenitude, mas a um conjunto de sinais, sintomas, semelhanças e diferenças dos achados, fruto do “virar do avesso” o indivíduo pela medicina classificatória. E, como sabemos, esse indivíduo era preponderantemente feminino, coisa que Foucault não percebia. O novo sexo deveria ser explicado.

Segundo Ligia Bellini (2003), nos tratados médicos do período, as características biológicas das mulheres determinariam seus atributos psicológicos ‘tipicamente femininos’, como a imaginação, inconstância, leviandade, tendência a enganar e a possuir uma ‘moleza de caráter’ e do físico. Portanto, a construção de uma diferença de natureza entre o corpo masculino e feminino já cola nas mulheres determinados atributos anormais que precisariam ser objeto de intervenção médica para serem controlados ou corrigidos.

As leituras aqui apontam que essa mudança radical na interpretação do novo corpo atribuído a homens e mulheres, que passa a ser objeto definidor de comportamentos e, no caso das mulheres, causador de várias patologias. A medicina teria a possibilidade da cura.

Nesse período, por exemplo, os Tratados de medicina preconizavam a retirada do clitóris, do útero ou ovários como forma de curar a considerada exagerada e doentia fogosidade que acometia as mulheres. Com isso, haveria uma correção de comportamentos que violavam as regras de gênero de então. Aqui fica explícita a intervenção da medicina na regulação dos comportamentos e na estruturação do normal e do patológico que constituem as normas patriarcais, incluindo a heteronormatividade como padrão de normalidade, assim como a própria construção do amor romântico e monogâmico.

Para os médicos da época, as mulheres seriam delineadas pela natureza em função da maternidade. Sendo assim, grandes cuidados deveriam ser dedicados com as tendências degenerativas do corpo que alguns comportamentos poderiam produzir. E, respondendo às demandas feministas por educação e profissionalização, enfatizavam que a educação poderia atrofiar os órgãos reprodutivos femininos e masculinizar as mulheres, como afirmou Matus[1]. Ou seja, fugiriam do destino que a natureza atribuiu e isso não podia ser permitido em função do bem-estar social.

Mas, como sinalizavam vários estudos sobre a medicalização do corpo feminino, essas transformações não foram consequência apenas de mudanças científicas, de descobertas de tecnologias que permitiam ver o interior do corpo, germes etc mas, principalmente, de uma revolução epistemológica e sociopolítica e a consequente necessidade de controlar as mulheres. Processos como a Revolução Francesa, o iluminismo e as ideias liberais que nasciam, além do fato das mulheres ingressarem no mundo do trabalho, nas fábricas, além das reuniões nas alcovas para falar sobre suas insatisfações enquanto cidadãs era muito preocupante

A verdade é que, tendo a biologia substituído as hierarquias ordenadas divinamente ou a tradição, eram necessárias outras explicações para a distribuição de poder nas relações entre homens e mulheres. Para legitimar essas explicações baseados na ciência que surgia, nada daria mais credibilidade ao discurso misógino que a envolvia, do que a afirmação de que a medicina seria encarregada de acrescentar, constantemente, “novos e intrigantes detalhes que provam a intransponibilidade da diferença” (ROHDEN, 2002, p. 6). A afirmação é confirmada no trabalho de Elisabeth Vieira (2002), médica que também analisou o tema através do desenvolvimento da ginecologia e da obstetrícia. Para a autora, como o poder político das sociedades capitalistas se opera sobre os corpos, no somático, nada teria mais eficácia nesse empreendimento que a medicina, ‘prática e arte da intervenção’. Assim, diz ela, “construíram-se parâmetros de normalidade restritos para a formação da identidade feminina, limitando as mulheres à função de boa reprodutora e educadora dos filhos” (p.71).

Del Priore (Op. Cit) diz que, já no século XVI, cabia à medicina normatizar o que era entendido como o ‘destino biológico’ da mulher. O ambiente misógino da época, contribuiu à formação de um “saber masculino e um discurso de desconfiança em relação à mulher”, cabendo, portanto, à medicina transformar o corpo feminino em mera fisiologia. Gabrielle Houbre (2003), por sua vez, diz que foi a pretensão iluminista de ‘descobrir toda a verdade sobre a natureza humana” que fez com que os corpos das mulheres fossem submetidos a uma disciplina que determinava as posturas esperadas e convenientes para a sociedade.

Nesse sentido, Rohden (Op. Cit.) afirma que, no século XIX, a ginecologia se converteu em uma ‘ciência da diferença’. Para a autora, a influência da teoria de Darwin inspirou as explicações dos ginecologistas para o funcionamento do organismo feminino, bem como as diferenças entre homens e mulheres. Além de diferenças nas medidas dos crânios, as mulheres seriam dominadas pelas funções sexuais.

Junto a isso, o período de higienização que toma conta do século XIX também elege as mulheres como as responsáveis principais por esse processo, E aqui, também a medicina do séc. XIX, incluindo a psiquiatria, teve papel central na construção dos comportamentos patológicos, na construção da mulher como responsável do cuidado, da educação no lar e, como protagonista do processo higienizador. E a higienização é dos corpos, do ambiente doméstico, da família, mas também dos comportamentos.

Por exemplo, é a criação de uma vagina como complementar ao pênis que abre caminhos para a afirmação da heterossexualidade e a patologização de práticas diferentes do que a natureza haveria formado. Nesse sentido, o papel da mulher como a responsável pela construção de uma nova sociedade limpa, organizada (classificada), menos desviante, ou seja, nos padrões de normalidade, foi um investimento grande da ciência médica do séc. XIX.

O que quero trazer aqui é que a neutralidade da ciência – e, portanto, da medicina – não existe. O saber médico que se consolidou com grande poder nas sociedades ocidentais modernas é um projeto que disciplinará comportamentos garantindo essa nova ordem moral. Nós mulheres aprendemos a viver em sociedade a partir de regras patriarcaisconsolidadas na cultura e internalizadas de tal forma (ou performatizadas como diria Butler e outras/os autoras/es), com grande contribuição do poder médico de nominar, classificar o doente e o patológico e dar sentido aos corpos integrando-os na sociedade e garantindo a harmonia social com a consequente reificação da própria divisão sexual do trabalho.

A teoria de Darwin, sobre a evolução da espécie, atribuía aos machos uma superioridade em relação às mulheres; seria a divisão e especialização das tarefas que teria determinando um desenvolvimento corporal e mental privilegiado no homem. Além de diferenças nas medidas dos crânios, às mulheres era ainda atribuída uma característica especial: eram dominadas pelas funções sexuais.

Provavelmente não é possível escrever a história do corpo do homem e seus prazeres porque o registro histórico foi criado em uma tradição cultural onde essa história não era necessária. E porque o homem sempre foi o corpo óbvio. A questão é: o que fazia (e faz), com que essas diferenças fossem entendidas como fundantes de uma ordem social, determinando comportamentos e formas das mulheres existirem no mundo.

Nesse sentido a afirmação e Simone de Beavouir de que não nascemos mulher, nos tornamos, adquire especial sentido. Toda uma tradição afirmava e afirma até hoje que nosso destino está escrito na natureza humana, mas especificamente no nosso corpo.

Como salienta Adriana Citeli (2001), mesmo aberta a rever certos pressupostos sexistas e racistas, a ciência ainda constitui seus argumentos sobre diferenças sexuais em poderosas metáforas biologizantes, caso de pesquisas realizadas a respeito da diferença de estrutura cerebral entre homossexuais e heterossexuais, descritos por Fauto-Sterling.  

Logicamente tudo isso é muito atravessado pelo sistema capitalista, principalmente a partir do século XIX, mas também pelo sistema racista e pelas teorias evolucionistas que marcam esse período, reforçando os regimes de subordinação e exploração a que somos submetidas enquanto mulheres, seja tratadas como objetos sexuais através da longa história da “obrigação de heterossexualidade”, seja como mães, relegando-nos à esfera doméstica e excluindo da esfera pública.

Aí vocês podem estar se perguntando: o que tem a ver toda essa história de ciência e medicina para falar sobre Patriarcado. Pois então, como disse no início deste texto, a ideia foi justamente mostrar como o sistema patriarcal atua na construção e na naturalização da dominação, opressão e exploração das mulheres através de um sistema de poder constituído por vários saberes, mas com centralidade pelo saber médico. E, não apenas das mulheres, mas de todos os corpos e sexualidades que fogem dos padrões heteronormativos.

Nesse sentido, tal como a religião, a medicina(ou quem domina a arte da cura, como tratavam os escritos dos primeiros séculos),sempre se manteve com poderes estruturantes das regras e normas de comportamento, buscando impor sua visão de mundo e determinando a organização ideal do social, tal como sobre como devemos nos comportar, vestir, falar, como e com quem transar ou não transar, etc. E, enquanto a religião o faz historicamente pelo Divino, a medicina passou do argumento Divino ao biológico, mas sempre colando corpo e comportamento.

É importante afirmar também que a medicina passa do processo de medicalizar o corpo e a sexualidade das mulheres para um projeto medicalizador amplo e altamente mercadológico, gerando comodities na medida que vai se consolidando por dentro do sistema capitalista, avança sobre novas especialidades que geram todo um mercado lucrativo ao seu redor, tornando-se um bem a ser consumido. Trago isso para chamar a atenção para o enorme mercado da saúde voltado às mulheres e suas “especificidades”. Um exemplo é própria indústria da beleza que está diretamente associada ao processo medicalizador, passando a incorpora-la entre suas especialidades surgindo assim a chamada medicina da beleza.  

E, para concluir, gostaria de citar ainda Judith Butler, para quem as normas que regulam o sexo trabalham de forma performativa para constituir a materialidade do corpo  – ou como diz, para ‘materializar o sexo do corpo’ – e que tal materialidade é dada pelo discurso: 

“será igualmente importante pensar sobre como e para que finalidade os corpos são construídos, assim como será importante pensar sobre como e para que finalidade os corpos não são construídos, e, além disso, perguntar, depois, como os corpos que fracassaram em se materializar fornecem o exterior – quando não o apoio – necessário, para os corpos que, ao materializar a norma, qualificam-se como corpos que pesam (Butler, 1999, p. 170).

Enfim, parafraseando Denise Sant’Anna (2000), os médicos continuam num lugar privilegiado pela sociedade na definição de um destino natural para o corpo feminino – mesmo que os caminhos para esse destino natural apareçam intermediados pelas mais diversas técnicas de modificação do corpo e por um discurso permeado pelos valores da autonomia e do individualismo. 
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[1] Rohden, 2001, p. 207

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