• Antonieta de Barros (1901 – 1952)

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11 de setembro de 2023 por 

Professora, escritora, jornalista, primeira deputada negra do Brasil e autora da criação do Dia do Professor.

Antonieta de Barros é uma das mais célebres professoras e políticas da história brasileira, especialmente de Santa Catarina. Nascida em 11 de julho de 1901, na cidade de Florianópolis, filha de Catarina e Rodolfo de Barros, tendo se tornado órfã do pai desde cedo. Criada pela mãe, logo após os seus estudos primários, ingressou na Escola Normal Catarinense. Na década de 1920, iniciou sua carreira jornalística.

Antonieta é reconhecida como heroína da pátria, sendo a primeira deputada negra do Brasil a constar no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O Projeto de Lei 2.940/2020, de relatoria do senador Flávio Arns, foi sacionado em 5 de janeiro de 2023 pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, reconhecendo a intelectual como heroína.

Antonieta de Barros é uma mulher negra filha de uma lavadeira e um jardineiro, o que demonstra o quanto a trajetória de Antonieta rompeu barreiras circunscritas aos preconceitos de sexo e raça.

Ela fundou o jornal A Semana aos 21 anos, sendo responsável pela publicação até 1927. Antonieta foi jornalista e professora de português e filosofia, além de deputada estadual eleita pelo Partido Liberal Catarinense, em 1934, e mais tarde, em 1945, filiada ao Partido Social Democrático – PSD. Também foi integrante da Frente Negra Brasileira e da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino – FBPF. A primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil se dedicou ao engrandecimento da Pátria por meio da educação e da valorização da comunidade negra.

Após fundar o jornal A Semana, passou a dirigir o periódico Vida Ilhoa, também em Florianópolis. Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil também revelam: “Como educadora, fundou, logo após ter se diplomado no magistério, o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até sua morte. Lecionou, ainda, em Florianópolis, no Colégio Coração de Jesus, na Escola Normal Catarinense e no Colégio Dias Velho, do qual foi diretora no período de 1937 a 1945. Na década de 1930, manteve intercâmbio com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) como revela a correspondência trocada entre ela e Bertha Lutz, hoje preservada no Arquivo Nacional”. Os autores destacam que Antonieta se tornou a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil nas eleições de 1934. Similarmente, foi a primeira mulher a participar do Legislativo Estadual de Santa Catarina. Também foi pioneira nas eleições de 1945, tornando-se suplente e, em seguida, assumindo a vaga na Assembleia Legislativa em 1947.

Antonieta de Barros é reconhecida também pelo seu pseudônimo literário, Maria da Ilha, com o qual escreveu o livro Farrapos de Ideias e publicado em diversos jornais e revistas. Antonieta manteve certa regularidade na escrita, tendo publicado pela última vez em fevereiro de 1951, pelo jornal O Estado, pouco antes de seu falecimento. Segundo Caroline Pasa e Cezar Karpinski , destacam que apesar de sua relevância social e política, muitos dos escritos de Antonieta foram perdidos no decorrer dos anos.

O Curso Popular Antonieta de Barros funcionou por décadas para a formação de sucessivas gerações de homens e mulheres negros. Segundo Elizabete Maria Espíndola,  “Os laços de sociabilidade e as relações de solidariedade construídas por ela em sua trajetória, seus esforços em buscar uma formação superior somada a sua experiência como educadora, permitiram a ela, Antonieta, lecionar nas décadas de 30 e 40 nos principais colégios da Capital. Para Antonieta, a educação seria uma das alternativas para promover mobilidade social entre as classes mais pobres, e era no interior dessa classe que estava a população afrodescendente da cidade. Nas suas colunas em jornais, estabeleceu um canal de comunicação com seus leitores. Foi usando dessa estratégia, que ela consolidou seu nome entre o público leitor de uma tímida esfera pública burguesa. Essa via de comunicação com o público contribuiu para sua construção enquanto figura pública, estratégia sabiamente articulada por Antonieta.” Isso demonstra o quanto Antonieta de Barros se importava com a educação, tendo inclusive instrumentalizado sua carreira jornalística e política com o intuito de, a partir de sua posição social conquistada, educar seu público leitor e gerar discussões frutíferas a toda a sociedade.

Um reflexo disso, foi a instituição do Dia do Professor por Antonieta de Barros, que apresentou o projeto de lei, convertido na Lei nº. 145, de 12 de outubro de 1948, em Santa Catarina, sendo oficializada no país inteiro somente 20 anos depois, pelo então presidente João Goulart. Antonieta também introduziu leis para concessões de bolsas de cursos superiores para alunos carentes e concursos para o magistério, elevando a qualidade do ensino público e evitando apadrinhamentos.

Antonieta faleceu em 18 de março de 1952. Em homenagem à política, Karla Leonora Dahse Nunes em Antonieta de Barros: uma história revela que o Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Acadêmicos do Samba fez a história de Antonieta tema carnavalesco, em 1987. O enredo é chamado Um Carnaval Para Professora Antonieta de Barros, e o samba-enredo é intitulado De Letra em Letra Se Constroem Vidas, de composição de Nazareno e Mato Grosso. A autora relembra também as homenagens em comemoração ao centenário de nascimento de Antonieta de Barros, em eventos como seminários, concurso literário, exposição de arte, etc. Nessa toada, a autora cita a criação de uma medalha de mérito e um carimbo comemorativo lançado pela Empresa de Correios e Telégrafos como uma peça de filatelia. Sobre a medalha, Caroline Pasa e Cezar Karpinks descrevem que a Medalha Antonieta Barros foi instituída como prêmio aos melhores trabalhos de jovens comunicadores negros(as). Ademais, a Assembleia Legislativa discutiu projeto apresentado pela Deputada Ideli Salvati que propunha a nomeação de um túnel, em Florianópolis, como Túnel Deputada Antonieta de Barros, que foi inaugurado em 24 de agosto de 2002.

Outra homenagem foi feita pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros – NEAB por meio da instituição do programa Memorial Antonieta de Barros, que tem como objetivo promover a história e a memória das populações afrodescendentes em Santa Catarina, dando visibilidade ao seu papel na história brasileira e fortalecendo essas identidades.

A página Nós Mulheres da Periferia também apresenta web stories divulgando a trajetória inspiradora de Antonieta. O site Hypeness também explora a sua trajetória na reportagem Já ouviu falar de Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita deputada no Brasil?, trazendo as informações de sua vida ao público atual. Ainda, citamos a reportagem Antonieta de Barros: protagonista de uma mudança, publicada pelo Portal Geledés.

Por fim, o Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina – Cun/UFSC aprovou, por unanimidade, a concessão de título Doutora Honoris Causa (in memorian) à professora, reflexo de sua importância para a educação de Santa Catarina e de todo o Brasil.

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

Palavras-Chave/TAG: #educação #magistratura #diadoprofessor #cronista #jornalismo #feminismo #racismo #colonialidade

REFERÊNCIAS:

  • Produções acadêmicas:

DRANKA, Renata Aparecida Paupitz. Antonieta de Barros: Trajetórias Discursivas. Repositório Universitário da Ânima – RUNA: Tubarão, 2003. Disponível em: ANÁLISE DISCURSIVA (animaeducacao.com.br)

ESPÍNDOLA, Elizabete Maria. Antonieta de Barros: educação, cidadania e gênero pelas páginas dos jornais República e O Estado em Florianópolis na primeira metade do século XIX. 6º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional: Florianópolis, 2013. Disponível em: Microsoft Word – Modelo de texto para Fpolis..docx (escravidaoeliberdade.com.br)

FONTÃO, Luciene. Nos passos de Antonieta: escrever uma vida. Congresso Nacional de Educação Básica: Aprendizagem e Currículo – COEB: Florianópolis, 2012. Disponível em: Microsoft Word – Nos passos de Antonieta escrever uma vida.docx (pmf.sc.gov.br)

NUNES, Karla Leonora Dahse. Antonieta de Barros: uma história. Repositório Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina – RIUFSC: Florianópolis, 2001. Disponível em: Antonieta de Barros: um história (ufsc.br)

PASA, Caroline; KARPINSKI, Cezar. A “Maria da Ilha” entre documentos e memória: reflexões sobre os arquivos da deputada estadual Antonieta de Barros (1901-1952). Revista Ágora, vol. 29, n. 58, p. 1-14: Florianópolis, 2019. Disponível em: A “Maria da ilha” entre documentos e memória: reflexões sobre os arquivos da Deputada Estadual Antonieta de Barros (1901-1952) | ÁGORA: Arquivologia em debate (emnuvens.com.br)

RODRIGUES, Raquel Terezinha; FERREIRA, Carla Alexandra. Farrapo de Ideias: Maria da Ilha. Revista Interfaces, vol. 8, n. 3: São Paulo, 2017. Disponível em: 3607 (unicentro.br)

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Senac Editora: Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: Mulheres Negras do Brasil 9788574582252 – DOKUMEN.PUB

  • Sites:

AGÊNCIA SENADO. Primeira deputada negra do Brasil é reconhecida como heroína da pátria. Centro Feminista de Estudos e Assessoria: 6 de janeiro de 2023. Disponível em: Primeira deputada negra do Brasil é reconhecida como heroína da pátria (cfemea.org.br). Acesso em 21 jan 2023.

BUENO, Ney. Livro marca os 120 anos de nascimento de Antonieta de Barros. Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina: Florianópolis, 2021. Disponível em: Agência ALESC | Livro marca os 120 anos de nascimento de Antonieta de Barros

CANIÇALI, Daniela. UFSC homenageia Antonieta de Barros com título de Doutora Honoris Causa. Florianópolis, 2021. Disponível em: Notícias da UFSC

DA SILVA, Andréia Sousa. LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira. O Memorial Antonieta de Barros como veículo de disseminação e produção da informação. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, vol. 11, n. 1, p. 83-96: Santa Catarina, 2006. Disponível em: O Memorial Antonieta de Barros como veículo de disseminação e produção da informação The Antonieta de Barros Memorial as information channel for diffussion and production p.83-96 | Silva | Revista ACB (emnuvens.com.br)

Literafro – O portal da literatura Afro-Brasileira. Antonieta de Barros. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais: Belo Horizonte, 2021. Disponível em: Antonieta de Barros – Literatura Afro-Brasileira (ufmg.br)

Livraria Africanidades. Antonieta de Barros. Africanidades. Disponível em: Antonieta de Barros – Livraria Africanidades (livrariafricanidades.com.br)

Memória Política. Antonieta de Barros. Memória Política de Santa Catarina, 2023. Disponível em: Biografias / Antonieta de Barros / Memória Política de Santa Catarina (alesc.sc.gov.br)

Nós Mulheres da Periferia. Web stories: Antonieta de Barros. Nós Mulheres da Periferia, 2023. Disponível em: Antonieta de Barros: a primeira mulher negra deputada do Brasil | Nós, mulheres da periferia (nosmulheresdaperiferia.com.br)

FALCARI, Gisele Falcari. Antonieta de Barros: protagonista de uma mudança. Portal Geledés, 2015. Disponível em: Antonieta de Barros: protagonista de uma mudança (geledes.org.br)

PAIVA, Victor. Já ouviu falar de Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita deputada no Brasil? Hypeness, 2016. Disponível em: Já ouviu falar de Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita deputada no Brasil? | Hypeness inovação e criatividade para todos

TORRES, Aline. Antonieta de Barros, a parlamentar negra pioneira que criou o Dia do Professor. El País: Florianópolis, 2015. Disponível em: Dia do Professor: Antonieta de Barros, a parlamentar negra pioneira que criou o Dia do Professor | Opinião | EL PAÍS Brasil (elpais.com)

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