Escritora e ensaísta.
Conceição Evaristo é uma célebre escritora brasileira. Radicada no Rio de Janeiro, estreou na literatura em 1990, na série Cadernos Negros, antologia editada pelo Quilombhoje. Conceição Evaristo é graduada em Letras com ênfase em Literatura Brasileira pela UFRJ. Tornou-se mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/Rio. É doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense – UFF, além de vencedora do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura brasileira, com seu livro Olhos D’água, de 2015.
Em 2003, lançou seu primeiro trabalho individual, Ponciá Vicêncio, romance centrado em uma personagem feminina negra e obra muito bem recebida pela crítica literária. Escrito em 1988, o romance, de acordo com os críticos, é uma narrativa contemporânea que apresenta uma linguagem poética. Em novembro de 2007, sua versão inglesa foi lançado em New York, pela HOST Publications, tornando Conceição Evaristo a segunda escritora afro-brasileira, na sequência de Carolina Maria de Jesus, a ter uma obra publicada no estrangeiro. A obra de estreia de Conceição Evaristo foi também indicada entre as leituras obrigatórias para o Vestibular/2007 da UFMG e da CEFET de Belo Horizonte, fato que propiciou uma edição de bolso.
De acordo com a própria Conceição, Carolina Maria de Jesus teve forte influência sobre ela e sua mãe, a qual, seguindo a escrita inaugurada por Carolina, escreveu a miséria de seu cotidiano sob a forma de diário.
Em sua infância, Evaristo foi vítima de trabalho infantil desde seus oito anos, tanto por desempenhar trabalho doméstico (Evaristo acompanhava mãe e tia para pegar roupas sujas de clientes, lavá-las e devolvê-las conforme acordado) quanto por ter cuidado de outras crianças, acompanhando-as para a escola e as auxiliando em suas tarefas de casa. Embora, em sua certidão de nascimento, seja informado que Evaristo nasceu uma criança parda, a escritora afirmou que “sempre soube” que era negra, consciência que esteve ligada à sua condição de classe. De acordo com ela, sua relação com a literatura “passa pela cozinha, pelas cozinhas alheias”, tendo em vista a relação que as mulheres de sua família tiveram com o trabalho doméstico na casa de famílias de importantes escritores(as) mineiros(as), como Otto Lara Resende, Alaíde Lisboa de Oliveira e Henriqueta Lisboa.
Ainda que tenha participado de movimentos sociais em Belo Horizonte, anos antes da Ditadura de 1964, o engajamento político da escritora teve início em 1970, quando se mudou para o Rio de Janeiro. A inserção real de Conceição na discussão sobre a questão racial ocorreu no Rio, a partir de saraus, leituras de poesia e debates em espaços populares, em diálogo direto com seu público-alvo: a população negra (militantes e aqueles(as) que se pretendiam conscientizar para a militância). De acordo com Evaristo, havia ausência da discussão sobre o racismo inclusive em organizações de esquerda, como a Juventude Operária Católica – JOC.
A partir da década de 1990, que coincide com o fim do grupo Negrícia, com a publicação de seu primeiro texto nos Cadernos Negros e com seu ingresso no mestrado, Evaristo passa a ter uma atuação mais significativa dentro da academia. Nesse momento, ela se individualiza na militância, ao mesmo tempo em que ascende no campo intelectual: a autora, principalmente na última década, tem ganhado cada vez mais destaque como escritora negra brasileira, e tornando-se uma das grandes referências na história da literatura negra brasileira.
A respeito de sua escrita, a própria escritora a define como sendo uma escrevivência, ou seja, uma escrita que emerge entre o acontecimento e a narração dos fatos, revelando, nesse cenário, uma subjetividade diante das experiências vivenciadas.
Pela sua trajetória de vida, portanto, Evaristo traz ao espaço literário uma poética da resistência, além de inserir a mulher negra, por meio de suas personagens, em uma posição diferente daquela convencionalmente esperada. Essas personagens desconstroem estereótipos e representam outras formas de ser e estar em sociedade.
Recentemente, foi discutida a entrada de Conceição Evaristo na Academia Brasileira de Letras – ABL. A escritora estava entre os 10 candidatos que não venceram a votação para ingressar na cadeira número sete da ABL, substituindo Nelson Pereira do Santos. Evaristo decidiu desafiar a instituição, aos 71 anos, através de anticandidaturas, causando incômodo ao não praticar bajulação para receber votos favoráveis à sua entrada. Enquanto Cacá recebeu 22 votos e Pedro Corrêa do Lago (neto de Oswaldo Aranha) recebeu 11 votos, Conceição Evaristo recebeu apenas um. Evaristo teria entrado na disputa para expor a falta de representatividade negra e feminina na instituição, e foi bem-sucedida. Mesmo com sua extensa produção, incluindo Olhos D’água, com o qual Conceição Evaristo venceu o Prêmio Jabuti, ainda que não tenha vencido a eleição, é curioso que a intelectual tenha recebido apenas um voto para ingressar na ABL, que um dia contou com outro brilhante autor negro, Machado de Assis.
Em celebração à autora, a edição de novembro de 2022 da Revista Claudia apresenta Conceição Evaristo em sua capa. No subtítulo da reportagem, de Joana Oliveira, a revista nos informa uma prévia: “Uma das vozes mais importantes da literatura brasileira, a escritora abre sua casa para uma conversa sobre sua escrevivência de afeto ao lado da filha, Ainá.”
Conceição Evaristo tem sido homenageada de diversas formas na última década. Foi a homenageada do ano na VII Festa Literária de Maricá e na 5ª Festa Literária Internacional da Mantiqueira, em São Paulo. Ambas no ano de 2022.
A intelectual também tem desenvolvido novos e maravilhosos projetos. A exemplo, o projeto que participa na USPpara estudos de “escrevivências”, em que seleciona três alunos de mestrado da instituição para atuação em atividades coordenadas por ela, nova titular da Cátedra.
Ao lado de Daniel Munduruku, Tércia Montenegro e Talles Azigon, Conceição Evaristo é também curadora da XIV Bienal Internacional, que traz representatividade periférica, indígena e afro-brasileira – evento que, segundo a própria escritora, tem grande relevância pela apresentação de valores locais e internacionais. Além disso, sua obra aparece no documentário Fio de Afeto, longa-metragem dirigido por Bianca Lenti, que acompanha a trajetória de oito mulheres, entre quilombolas, indígenas, ribeirinhas e de grandes centros urbanos, e terá sua primeira exibição no Festival do Rio, com Zezé Motta interpretando alguns textos de Evaristo, incluindo A Noite Não Adormece nos Olhos das Mulheres.
Conceição Evaristo também teve uma participação especial no Festival Revide 2022! Movimentos para imaginar o Amanhãs, do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, momento no qual compartilhou com o público sua vida e sua obra.
A respeito de sua obra, a Literafro apresenta textos selecionados de Conceição Evaristo de forma gratuita aos internautas. Já a página do Escavador com o título Maria da Conceição Evaristo de Brito apresenta informações sobre a trajetória profissional e acadêmica da intelectual. Por fim, Conceição Evaristo possui página oficial no Instagram, de forma que os leitores podem também acompanhá-la na rede social.
Em 2023, Conceição Evaristo abriu a Casa Escrevivência Conceição Evaristo, no Beco João Inácio, Largo da Prainha, região onde viveu Hilário Jovino, responsável pela criação do primeiro rancho carnavalesco da cidade do Rio de Janeiro. Este local é considerado berço da memória e história afro-brasileira, chamada de “Pequena África”.
Texto escrito por: Emilson Gomes Junior, Schuma Schumaher e Elaine Gomes
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REFERÊNCIAS:
- Produções acadêmicas:
BELLESSA, Mauro. ‘Escrevivência’ é tema de evento inaugural da titularidade de Conceição Evaristo na Cátedra Olavo Setubal. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo – IEA USP: São Paulo, 13 de setembro de 2022. Disponível em: ‘Escrevivência’ é tema de evento inaugural da titularidade de Conceição Evaristo na Cátedra Olavo Setubal — Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (usp.br). Acesso em 08 dez 2022.
CRUZ, Adelcio de Sousa. Conceição Evaristo – Insubmissas lágrimas de mulheres. Nandyala: Belo Horizonte, 2011. Disponível em: (PDF) Conceição Evaristo: insubmissas lágrimas de mulheres (researchgate.net). Acesso em 08 dez 2022.
EVARISTO, Conceição. Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita. Z Cultural – Revista do Programa Avançado de Cultura Contemporânea: Rio de Janeiro, agosto de 2005. Disponível em: DA-GRAFIA-DESENHO-DE-MINHA-MÃE-UM-DOS-LUGARES-DE-NASCIMENTO-DE-MINHA-ESCRITA-–-Revista-Z-Cultural.pdf (ufrj.br). Acesso em 08 dez 2022.
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MACHADO, Bárbara Araújo. “Escre(vivência)”: a trajetória de Conceição Evaristo. Disponível em: ANEXO_II-_ARTIGO_SOBRE_CONCEI__O_EVARISTO_E_A_ESCREVIVENCIA.pdf (ufs.br). Acesso em 08 dez 2022.
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