Ialorixá (mãe de santo).
Africana da Costa, mais conhecida como Iá Nassô, é uma das fundadoras do mais antigo terreiro de origem nagô-queto a funcionar continuamente no Brasil. A fundação do terreiro remonta às origens do candomblé no Brasil. As primeiras informações sobre casas de candomblé (lugar de dança) datam do início do século XIX, na Bahia. Nas matas do Urubu, em Pirajá – BA havia um quilombo que se mantinha com a ajuda de uma “casa de fetiche” chamada Casa do Candomblé.
Na tentativa de efetivar a catequização dos negros batizados, a Igreja fundou irmandades e confrarias para reunir negros e negras de uma mesma etnia, com o objetivo de aniquilar as práticas religiosas africanas e os elementos culturais destes povos. Essas confrarias e irmandades, porém, celebravam cerimônias religiosas sincréticas, mantendo suas tradições e costumes africanos.
Iá Nassô era uma escrava alforriada que, no início do século XIX, fazia parte da confraria Nossa Senhora da Boa Morte, que reunia, sobretudo, mulheres nagôs na igreja da Barroquinha, em Salvador- BA. Lá, as mulheres nagôs podiam se reunir e dar continuidade aos cultos e tradições africanas.
O nome Iá Nassô é um título religioso e honorífico, próprio da corte de Alafin de Oió, concedido às mulheres, cujo título traz a atribuição de preparar o culto da principal divindade dos iorubás, Xangô. Uma vez que a designação deve ser reconhecida pelos adeptos do ritual, acredita-se que ela já possuía este título desde a África.
Iá Nassô, juntamente com outras duas negras africanas, Adetá ou Iyá Detá e Iyá Kalá, e dois babalawos, Assiká e Bangboshê Obitikô, fundou, por volta de 1830, o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho da Federação – casa consagrada a Xangô. Com a mudança do terreiro para o Engenho Velho, este passou a se chamar, em sua homenagem, o Ilê Axé Iyá Nassô Oká. Tempos depois, a casa de Iá Nassô influenciou a criação de dois dos mais importantes terreiros de candomblé do Brasil, Ilê Axé Opô Afonjá e Gantois.
Iá Nassô retornou à África, onde faleceu, acompanhada de sua filha de santo e sucessora Marcelina da Silva. Cabe ressaltar que as ialorixás desempenham papel fundamental numa cultura de resistência e preservação das tradições afro-brasileiras.
Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Ana Laura Becker, Elaine Gomes, Schuma Schumaher e Sofia Vieira.
Palavras-Chave/TAG: #mãedesanto #Ialorixá #candomblé
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
CORREIA, Marcos Fábio Rezende. Patrimônios negros, instituições Brancas: uma análise sobre gestão integrada e planos de salvaguarda de terreiros tombados. Salvador: Dissertação de Mestrado Interdisciplinar e Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social do Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia, Escola de Administração, 2017.
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2007.