• Lourdes Maria Bandeira (1949 –2021) 

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11 de setembro de 2023 por 

Pesquisadora, política e ativista feminista.

Lourdes Maria Bandeira ficou conhecida como uma importante acadêmica, estudiosa das relações de gênero e ativista feminista. Conforme exposto por Tânia Mara Campos de Almeida na Bionota LOURDES MARIA BANDEIRA, da página virtual da Sociedade Brasileira de Sociologia, a pesquisadora nasceu em 1949, no município de Ijuí, no interior do Rio Grande do Sul. Graduou-se, em 1973, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e se tornou mestra em Sociologia na Universidade de Brasília – UnB em 1978. Em 1977, tornou-se professora da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Já entre 1978 e 1984, desenvolveu Doutorado na Université de Paris V – René Descartes. Segundo a Bionota supra: “sob a orientação de uma das primeiras mulheres sociólogas da França, a expoente Viviane Isamber Jamati.” Lourdes Maria também concluiu Pós-Doutorado na Universidade do Porto, em 2018.

A brilhante trajetória acadêmica de Lourdes Maria Bandeira seguiu com a realização do Pós-Doutorado na área de Sociologia do Conflito na École des Hautes Études e Sciences Sociales – EHESS, entre 2001 e 2002. Segundo a página do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UnB, na seção Docentes PPGSol, Lourdes Maria se tornou Professora Titular no Departamento de Sociologia da UnB em 2005. A página revela que a docente exerceu as seguintes funções: (i) coordenadora no Núcleo de Estudos e Pesquisas da Mulher – NEPeM; (ii) membro do Conselho de Direitos Humanos da Universidade de Brasília – CDHUnB; (iii) Secretária de Planejamento e Gestão, entre 2008 e 2011, e Secretária Adjunta, entre 2012 e 2015, da Secretaria de Políticas para Mulheres – SPM/PR; (iv) membro do Comitê Editorial da Editora da Universidade de Brasília; e (v) Editora-Chefe da Revista Sociedade e Estado. 

Nos termos das páginas virtuais supramencionadas, Lourdes Maria se tornou Pesquisadora 1B do CNPq. Inclusive, a autora estava envolvida com a ativação do Comitê de Pesquisa Gênero e Sexualidade da Sociedade Brasileira de Sociologia. Neste sentido, a página do PPGSol informa a experiência acadêmica da pesquisadora: “Tem experiência acadêmica e docente, além de publicações e orientações, na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia Urbana e da Cultura – Gênero, Feminismo, Violência de Gênero, e Políticas Públicas. Atua principalmente nos seguintes temas: Conflito e violência nas relações de gênero, cidadania, mulheres, feminismo e políticas públicas.”

Válido destacar a forma na qual Lourdes Maria Bandeira articulou seu conhecimento docente com a política. O texto supramencionado da sociedade Brasileira de Sociologia revela que a ativista feminista “produziu crítica competente e rigorosa das desigualdades de gênero, interseccionadas ao racismo, à LGBTfobia e outras formas de discriminação, contribuindo para lançar o Brasil à vanguarda internacional na implantação da Lei Maria da Penha e políticas públicas para a equidade de gênero, na consolidação das Delegacias de Atendimento Especial às Mulheres e no fortalecimento das Casas Abrigo” durante o exercício de seus cargos na Secretaria de Políticas para Mulheres – SPM. O texto expõe que Maria Lourdes foi uma das idealizadoras da Lei do Feminicídio, tema do seu pós-doutorado na Universidade do Porto. Neste sentido, menciona-se que o trabalho científico resultou no livro Crimes de feminicídio no enquadramento midiático: o que não é nominado não existe.

Importa refletirmos sobre o posicionamento político da renomada pesquisadora. Nas palavras dela “Tornar-me   feminista   foi   menos   uma escolha pessoal e mais um engajamento político. Era estudante de mestrado, e para mim, ingressar no feminismo significou entrar na luta contra a condição de dominação histórica das mulheres, enquanto   sujeitos   coletivos, como na condição individual de ser um sujeito feminino.  Iniciei minha militância em meados da década de 1970, quando se vivia em um contexto político de forte repressão por parte do regime militar. Inicialmente, me engajei no movimento em prol dos Direitos Humanos. Esta experiência foi mais   intensa no período em que trabalhava na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa. Incorporar o pensamento feminista articulado com a militância política foi sem dúvida, para mim, um compromisso para contribuir com as mudanças sociais e políticas que se faziam necessárias, em vários campos; seja nas atividades acadêmicas, com a criação da área de estudos sobre feminismo e mulheres, e mais tarde em gênero, seja atuando na militância, engajada no movimento social”.

Como é possível depreender da resposta acima, a autora desenvolveu sua percepção de mundo através da vivência. Desde sua juventude em Ijuí até seu estabelecimento na academia brasileira no campo da Sociologia, Lourdes Maria experienciou e testemunhou a realidade contrária à vida livre e saudável das mulheres neste país. De fato, impossível estar diante da brutalidade do patriarcado contra corpos femininos e não se mobilizar contra a histórica injustiça. Neste sentido, citamos o parágrafo final à resposta da entrevistadora: “Portanto, entendemos o feminismo como   um pensamento crítico crucial para a transformação social. É também uma postura política contrária à cultura machista que nos legaram como herança histórica nossos colonizadores. Ao mesmo tempo, possibilita entender que a mulher ainda é colocada em   posição inferior em muitas esferas sociais, seja no âmbito do lar, seja no âmbito do mercado de trabalho, nas esferas de poder e de decisão, seja nos olhares que recebem na rua, assim como denunciar que a subjugação feminina ainda é fardo para muitas mulheres”

Dentre as dezenas de orientações acadêmicas realizadas pela Pós-Doutora Lourdes Maria Bandeira, mencionamos o seguinte trabalho: Violência Doméstica contra a Mulher: Quais são os motivos para uma mulher agredida permanecer com seu agressor, trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado à Universidade de Brasília como requisito final de conclusão do Curso Segurança Pública, de 2016. Possível compreender que a presença da Pós-Doutora na academia viabilizou a experiência educacional de diversos jovens pesquisadores com foco na violência de gênero. De fato, através de sua atuação acadêmica e política, Lourdes Maria Bandeira possibilitou que diversas pessoas tivessem contato com a temática, impulsionando incontáveis vidas ao combate contra a desigualdade de gênero e a favor dos direitos das mulheres no Brasil e no mundo.

Lourdes Maria Bandeira realizou diversas publicações ao longo de sua carreira. Mencionamos apenas algumas: (i) Em busca de novos caminhos críticos (Pensamento feminista brasileiro), de 2020, disponível na Amazon; (ii) Violência, Gênero e Crime no Distrito Federal, coletânea de 1999 organizada por Lourdes Maria e Mireya Suárez; (iii) A transversalidade dos crimes de femicídio/feminicídio no Brasil e em Portugal, artigo de Lourdes Maria Bandeira e Maria José Magalhães; (iv) Violência, corpo e sexualidade: um balanço da produção acadêmica no campo de estudos feministas, gênero e raça/cor/etnia, artigo de Lourdes Maria e Marcela Amaral; e (v) Tempos e Memórias: Movimento Feminista no Brasil, de 2010. Em relação a este último, elaborado e distribuído pela Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM, citamos sua apresentação, em benefício daqueles que possam se interessar na leitura do texto gratuitamente distribuído: “É com grande alegria que a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) pública o livro ‘Tempos e Memórias do Movimento Feminista no Brasil’ que apresenta um resgate das histórias de mulheres, ouvidas e escritas, dos fatos, dos acontecimentos, das leis e das políticas públicas implementadas ao longo dos anos. A partir do conhecimento desta trajetória de lutas – com vitórias e derrotas – espera-se que o texto seja pretexto para que outras histórias sejam elaboradas e contadas e que a memória do passado e do presente seja escrita e marcada na história.”

Segundo o texto Lourdes Maria Bandeira da página Escavador, Lourdes Maria Bandeira foi reconhecida pelos seguintes prêmios: (i) Menção Honrosa do Concurso UnB 30 Anos, em 1992; (ii) Mulher Destaque 1999 – Mulheres Ajudando Mulheres, da UnB, em 1999; (iii) Professor Parceiro da Imprensa, da Secretaria de Comunicação da UnB, em 2008; (iv) Parceiro da Imprensa, da UnB, em 2009; (v) Pesquisador Parceiro da Imprensa, da UnB, em 2010, 2011, 2012, 2013, 2016, 2017 e 2018; (vi) Orientadora de Melhor Trabalho por Sessão no 9º Congresso de Iniciação Científica do Distrito Federal, 18º Congresso de Iniciação Científica da UnB; e (vii) Distinção pelos 25 anos de ensino na UnB. A página também menciona que Lourdes Maria organizou os seguintes eventos: (i) Diversidade cultural, cidadania e direitos humanos, de 2006; (ii) VI Encontro Nacional de Rede Brasileira de Estudos e Pesquisas Feministas, de 2008; (iii) II Encontro Internacional Política e Feminismo, de 2008; e (iv) II Seminário Internacional: Enfoques Feministas e o Século XXI – Feminismo e Universidade na América Latina, de 2008.

Outra notável contribuição da brilhante feminista é o texto Nos queremos (todas) vivas, por Lourdes Maria Bandeira, do Blog Pensar o Tempo, da página Bazar do Tempo. No texto, a pesquisadora joga luz nas relações abusivas vivenciadas por mulheres antes e depois da pandemia do coronavírus. A autora descreve que o isolamento social é também uma questão de classe e raça, tendo em vista que no Brasil a pobreza é majoritariamente negra, e que nesta realidade o isolamento social é impossível – tanto pela proximidade excessiva entre as casas, nos casos das favelas, quanto pela necessidade de sair de casa para trabalhar, no caso dos trabalhadores que tenham tal necessidade. A Pós-Doutora também relembra que a violência de gênero ocorre a todas as mulheres, da mesma forma que escapar dessa violência é mais árduo para as mulheres com menos poder econômico.

É possível compreender que dependência econômica, a existência de menores e idosos sob a responsabilidade dessas mulheres, a reação da comunidade em relação a qualquer denúncia e o medo de represálias são fatores relevantes para a permanência de mulheres em situações de violência doméstica. Similarmente, nos indica que a pandemia do coronavírus agravou os episódios de violência doméstica preexistentes ao mesmo tempo que permitiu o surgimento de novos episódios a partir da coabitação forçada de mulheres com seus familiares. Enfim, impossível deixar de notar que a relevância do tema é crucial para o desenvolvimento de políticas públicas no Brasil e no mundo. Desta forma, inegável o pioneirismo de suas observações acadêmicas, absolutamente relevantes para futuras discussões sobre desigualdade de gênero.

Lourdes Maria Bandeira faleceu em 12 de setembro de 2021. Seus familiares informaram à imprensa que a pesquisadora sofreu embolia pulmonar e AVC. A cientista passava por um tratamento contra o câncer. Conforme exposto na reportagem “Morre professora da UnB Lourdes Maria Bandeira, conhecida por pesquisas sobre feminicídio e violência contra a mulher”, o ator Rodolfo Cordón, seu sobrinho, afirmou ao G1 que a pesquisadora foi “uma mulher à frente do seu tempo, uma feminista que abriu o espaço para que a discussão da opressão às mulheres ganhasse relevância.” A reportagem também revela que o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher – NEPeM publicou nota de pesar pelo falecimento da socióloga. Em luto, a UnB notícias publicou a reportagem Morre professora emérita Lourdes Bandeira aos 72 anos, de Thaíse Torres, na qual relembra a trajetória da pesquisadora. Inclusive, menciona que o título de Professora Emérita a Lourdes Maria Bandeira foi aprovado em reunião do Conselho Universitário da UnB em junho de 2021. Ainda que não tenha sido entregue antes de seu falecimento, a professora teve a oportunidade de ver sua aprovação ainda em vida. Enfim, mais uma conquista fruto da formidável e incansável jornada de Lourdes Maria Bandeira em prol da igualdade de gênero.

Palavras-Chave/TAG: #feminismo #desigualdadesocial #racismo #ciências #sociologia #mestrado #doutorado #posdoutorado #misoginia #politicaspublicas #pandemia

Elaborado por: Emilson Gomes Junior

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

ARRUDA, Angela; BANDEIRA, Lourdes Maria; RAGO, Margareth; HELIBORN, Maria Luiza; DA DIAS, Odila Leire Silva. Em busca de novos caminhos críticos (Pensamento feminista brasileiro). Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020. Disponível em: Amazon.com.br eBooks Kindle: Em busca de novos caminhos críticos (Pensamento feminista brasileiro), Arruda, Angela, Bandeira, Lourdes Maria, Rago, Margareth, Heliborn, Maria Luiza, da Dias, Maria Odila Leite Silva. Acesso em 20 jun 2023.

BANDEIRA, Lourdes Maria; AMARAL, Marcela. Violência, corpo e sexualidade: um balanço da produção acadêmica no campo de estudos feministas, gênero e raça/cor/etnia. Porto Alegre: Revista Brasileira de Sociologia, 2017. Disponível em: Violência, corpo e sexualidade: um balanço da produção acadêmica no campo de estudos feministas, gênero e raça/cor/etnia | Revista Brasileira de Sociologia – RBS (sbsociologia.com.br). Acesso em 20 jun 2023.

BANDEIRA, Lourdes Maria; MAGALHÃES, Maria José. A transversalidade dos crimes de feminicídio/femicídio no Brasil e em Portugal. Brasília: Revista da Defensoria Pública do Distrito Federal, v. 1, n. 1, p. 29/56, 2019. Disponível em: 361526.pdf (up.pt). Acesso em 20 jun 2023.

BANDEIRA, Maria Lourdes; MELO, Hildete Pereira. Tempos e Memórias Movimento Feminista no Brasil. Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010. Disponível em: Título e Memórias Feminismos ok.indd (mulheres.ba.gov.br). Acesso em 20 jun 2023.

BANDEIRA, Maria Lourdes; MIREYA, Suárez. Violência, Gênero e Crime no Distrito Federal. Brasília Editora UnB, 1999. Disponível em: Produto | Detalhes | VIOLÊNCIA, GÊNERO E CRIME NO DISTRITO FEDERAL Editora UnB. Acesso em 20 jun 2023.

ROCHA, Lourdes de Maria Leitão. FEMINISMO, RELAÇÕES DE GÊNERO, ÉTNICO-RACIAIS E GERACIONAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES. São Luís: Revista de Políticas Públicas, 2010. Disponível em: Vista do ENTREVISTA ESPECIAL COM LOURDES MARIA BANDEIRA – FEMINISMO, RELAÇÕES DE GÊNERO, ÉTNICO-RACIAIS E GERACIONAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES (ufma.br). Acesso em 20 jun 2023.

SILVA, Lindamar Rosendo da. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – Quais são os motivos para uma mulher agredida permanecer com o agressor?. Brasília: UnB – Universidade de Brasília, 2016. Disponível em: Monografia final – entregue a UNB dia 26.08.2016 2 pdf (mj.gov.br). Acesso em 20 jun 2023.

  • Sites:

ALMEIDA, Tânia Mara Campos de. LOURDES MARIA BANDEIRA. Brasília: SBS Sociedade Brasileira de Sociologia. Disponível em: Lourdes Maria Bandeira – Sociedade Brasileira de Sociologia (sbsociologia.com.br). Acesso em 20 jun 2023.

BANDEIRA, Lourdes Maria. Nos queremos (todas) vivas, por Lourdes Maria Bandeira. Brasília: Bazar do Tempo, 2021. Disponível em: Nos queremos (todas) vivas, por Lourdes Maria Bandeira – Bazar do Tempo. Acesso em 20 jun 2023.

Escavador. Lourdes Maria Bandeira. Disponível em: Lourdes Maria Bandeira | Escavador. Acesso em 20 jun 2023.

G1. Morre professora da UnB Lourdes Maria Bandeira, conhecida por pesquisas sobre feminicídio e violência contra a mulher. Brasília. Disponível em: Morre professora da UnB Lourdes Maria Bandeira, conhecida por pesquisas sobre feminicídio e violência contra a mulher | Distrito Federal | G1 (globo.com). Acesso em 20 jun 2023.

Lourdes Maria Bandeira. Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UnB. Disponível em: LOURDES MARIA BANDEIRA – PPGSol (unb.br). Acesso em 20 jun 2023.

TORRES, Thaíse. Morre professora emérita Lourdes Bandeira aos 72 anos. UnB Notícias: Brasília, 2021. Disponível em: UnB Notícias – Morre professora emérita Lourdes Bandeira aos 72 anos. Acesso em 20 jun 2023.

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