• Mãe Beata de Yemanjá (1931 – 2017)

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13 de maio de 2024 por 

Líder espiritual, escritora e ativista social e política  

Beatriz Moreira Costa, mais conhecida como Mãe Beata de Yemanjá, nasceu em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira de Paraguaçu, na Bahia. Em seu nascimento, Tia Afalá, uma idosa africana, que era parteira do engenho, pressentiu que Mãe Beata de Yemanjá era filha de Exu e Yemanjá desde o seu surgimento. Na ocasião, sua mãe, Maria do Carmo, havia dado a luz a Mãe Beata em uma encruzilhada, após a bolsa ter estourado quando ela estava no rio pescando para saciar seu desejo.

Ainda menina, na década de 1940, Beata muda-se para a Salvador, capital do estado. Nesta cidade foi iniciada no terreiro de Dona Olga do Alaketu, uma das figuras mais expressivas do candomblé no Brasil e casou-se com Apolinário Costa, com quem teve quatro filhos: Ivete, Maria das Dores, Adailton e Aderbal.

Em 1969 veio ao Rio de Janeiro, convidada por Tião do Irajá, para participar de seus rituais, oportunizando, assim, vários contatos com sacerdotisas e sacerdotes da religião afro-brasileira local. Encantada com os vínculos estabelecidos, um ano depois, juntamente com os filhos deixa a Bahia para viver em terras fluminenses. Mãe Regina Bambochê, Miguel Grosso, Tia Davina e Joãozinho da Goméia são alguns dos pais e mães de santo que fazem parte da história do candomblé carioca e que Mãe Beata manteve contato frequente, acompanhando as celebrações ocorridas nesses terreiros. Seu carisma e dinamicidade fez com que muitas casas tradicionais de candomblé a convidassem para participar de obrigações internas e perceberam nela uma pessoa capaz de dar continuidade ao saber da tradição.

Em 21 de abril de 1980, mãe Beata abre o seu próprio terreiro: o Ilê Omi Ojuarô, localizado em Miguel Couto, na Baixada Fluminense. É como sacerdotisa que Beata de Yemanjá desenvolve várias ações sociais paralelas às atividades religiosas que marcam sua trajetória de vida. 

Mãe Beata faz parte de uma linhagem de ialorixás que conseguiram através de sua sabedoria unir tradição e modernidade sem perder a essência e os valores repassados pelos seus ancestrais. Sua participação nos movimentos pela valorização da religiosidade afro-brasileira, na luta pela cidadania do povo negro, no intercâmbio das mulheres dos terreiros com o movimento feminista, nos trabalhos de promoção da saúde permitiu dar visibilidade aos terreiros e conquistar o apoio de outros segmentos da sociedade. Reconhecida como uma grande liderança pela sua capacidade de articulação com os movimentos sociais e com o governo, participou como convidada de vários eventos nacionais e internacionais.

Mãe Beata de Yemanjá recebeu no dia 07 de março o diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutzde 2007, do Senado Federal, em sessão solene do Congresso Nacional. Tornou-se presidente de honra do grupo Crioula, uma das mais importantes organizações de mulheres negras do Rio de Janeiro. Trabalhou em favor de soropositivos e doentes de AIDs, pessoas que até hoje sofrem com o brutal estigma da sociedade, mesmo após anos de desenvolvimento médico e conscientização sobre o vírus HIV. Mãe Beata também foi consenheira do MIR – Movimento Inter-Religioso, membro da Unipax e integrante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do Rio de Janeiro.

Fruto de uma vida inteira ouvindo histórias de seu povo, Mãe Beata de Yemanjá se tornou uma contadora de histórias ímpar, inclusive publicando livros para preservar esta memória coletiva. Seus livros Caroço de Dendê: a sabedoria dos terreiros, de 1997, e Histórias que minha avó contava, de 2004, demostram que a autora e líder político-religiosa se preocupava em preservar as tradições e heranças da cultura africana em suas obras.

Em 27 de maio de 2017, Mãe Beata de Yemanjá faleceu. No mês seguinte ela seria homenageada pela Assembleia Legislativa, através de um projeto do então deputado Marcelo Freixo, com a entrega da Medalha Tiradentes. Possivelmente sentindo que partia, Mãe Beata compartilhou um importante ensinamento em entrevista, poucos dias antes da data de sua despedida: “Nós não morremos. Há uma continuidade de outra vida mais plena, com mais sabor, com mais serenidade. Nós somos como um vidro de perfume. Se uma grande essência cair, se quebrar, fica aquele aroma delicioso, de capim, de rosa, sem você saber… Nós somos espíritos, somos os eguns, porque os nossos antepassados estão ali conosco.”

Hoje, Mãe Beata de Yemanjá segue sendo celebrada. Em 2023, Jefferson Barbosa lançou uma biografia de nossa heroína, A mãe do mundo: vidas e lutas de Mãe Beata de Yemanjá. Ainda em 2023, a Flup – Feira Literária das Periferias decidiu homenagear a Mãe Beata na sua 13ª edição, ao lado de Machado de Assis. Já agora em 3 de abril 2024, a Quiprocó Filmes recebeu a homenagem Mãe Beata de Yemanjá, no Palácio Tiradentes, reconhecendo as contribuições fundamentais da líder político-religiosa. A iniciativa fez parte do Abril Verde, projeto que propõe diversas ações de enfrentamento, prevenção e sensibilização para criar uma política permanente de conscientização da sociedade fluminense acerca do racismo religioso e da intolerância religiosa. Abril Verde é um projeto de autoria da deputada estadual Renata Souza.

Para saber mais sobre a trajetória dessa sacerdotisa podemos visitar algumas produções, como CULTNE – Mãe Beata de Iemanjá – Tributo, disponível no YouTube. Também podemos assistir A última entrevista de Mãe Beata de Iemanjá, aquela entrevista na qual ela nos ensina que somos como perfume, permitindo assim ativar nossas memórias afetivas, de forma que num texto ou vídeo, possamos sentir o seu perfume, como ela nos ensinou, basta notarmos a bela fragrância de seu estonteante espírito.

Texto escrito por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

Palavras-Chave/TAG: #candomble #religioesafrobrasileiras #mulheresnegras #racismo #classismo #antirracismo #lutadeclasse #espiritualidade #religião #ativismo

REFERÊNCIAS:



      Produções acadêmicas:


SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Senac Editora: Rio de Janeiro, 2006.


      Sites

A última entrevista de Mãe Beata de Iemanjá. AFP Português: 30 de maio de 2017. Disponível em: (467) A última entrevista de Mãe Beata de Iemanjá – YouTube. Acesso em 13 mai 2024.

CULTNE – Mãe Beata de Iemanjá – Tributo. Cultne, YouTube: 8 de julho de 2022. Disponível em: CULTNE – Mãe Beata de Iemanjá – Tributo – YouTube. Acesso em 13 mai 2024.

CRUZ, Cíntia. Mãe Beata de Iemanjá, ialorixá, escritora e militante social, morre aos 86 anos. Extra: 27 de maio de 2017. Disponível em: Mãe Beata de Iemanjá, ialorixá, escritora e militante social, morre aos 86 anos (globo.com). Acesso em 13 mai 2024.

Jefferson Barbosa lança biografia de ialorixá, ativista social Mãe Beata de Iemanjá. Rota Cult: 15 de novembro de 2023. Disponível em: Jefferson Barbosa lança biografia de ialorixá, ativista social Mãe Beata de Iemanjá (rotacult.com.br). Acesso em 13 mai 2023.

Mãe Beata de Yemonjá. Literafro: 10 de maio de 2022. Disponível em: Mãe Beata de Yemonjá – Literatura Afro-Brasileira (ufmg.br). Acesso em 13 mai 2024.

Quiprocó Filmes receberá a homenagem ‘Mãe Beata de Yemanjá’, dia 3 de abril, no Palácio Tiradentes. Sopa Cultural: 28 de março de 2024. Disponível em: Quiprocó Filmes receberá a homenagem ‘Mãe Beata de Yemanjá’, dia 3 de abril, no Palácio Tiradentes (sopacultural.com). Acesso em 13 mai 2024.

‘Somos como perfume’, diz Mãe Beata de Iemanjá à AFP, dias antes de morrer. AFP, Istoé: 30 de maio de 2027. Disponível em: ‘Somos como perfume’, diz Mãe Beata de Iemanjá à AFP, dias antes de morrer – ISTOÉ Independente (istoe.com.br). Acesso em 13 mai 2024. ZACARI, Lucas. Quem é a Mãe Beata de Iemanjá, homenageada na Flup. Nexo: 12 de maio de 2023. Disponível em:Quem é a Mãe Beata de Iemanjá, homenageada na Flup – Nexo Jornal. Acesso em 13 mai 2024.

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