Trabalhadora rural e líder sindical
Maria da Penha Nascimento Silva, conhecida como Penha, nasceu na cidade de Alagoa Grande (PB), em 1949. Filha da camponesa Angélica José do Nascimento e de pai alemão desconhecido, viu o início de sua infância ser marcada por grandes dificuldades de sobrevivência e pela prostituição e alcoolismo de sua mãe, que se viu sem alternativas. Penha acabou sendo criada pelos avós maternos.
Apesar de estar longe do ambiente confuso que residia anteriormente, a infância de Penha ainda estava longe de ser a ideal. Com 7 anos começou a trabalhar no campo o que impossibilitou de continuar os estudos, de modo que cursou somente até a 4ª série. Penha foi registrada apenas aos 15 anos quando se casou com o camponês José Horácio. Neste momento, adicionou quatro anos a mais em sua idade.
Aos 23 anos, convidada por Margarida Maria Alves, presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, iniciou sua carreira política, em 1972, no mesmo local onde José Horácio era secretário. É importante destacar que a luta sindical na Paraíba abriu caminhos e deu esperança aos trabalhadores rurais de um dia terem seus direitos respeitados. Junto com Margarida, Penha militou arduamente pelo fim das impunidades e restrições dos direitos trabalhistas dos camponeses.
Durante a ditadura militar, foi dado mais poder aos latifundiários e esses tiveram mais liberdade para reprimir mais ainda os trabalhadores, o que fez com que houvesse um atraso no alcance de direitos, no entanto a luta jamais pausou e já “na década de 1970 ocorre uma maior abertura dos sindicatos” (DUARTE, 2009, p. 47).
Na luta há quase 10 anos, em 1980, Penha participou da reunião nacional para a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT/PB), na qual foi dirigente. No ano seguinte, frente ao número expressivo de mulheres trabalhadoras rurais que desejavam se filiar aos sindicatos e eram impedidas pelo prefeito, Penha participou da criação do Movimento de Mulheres do Brejo (MMB), onde atuou como coordenadora, e tinha como objetivo conseguir melhorias trabalhistas, além de promover maior participação das mulheres no movimento popular e sindical.
Em sua atuação no MMB, criou vínculos com acadêmicos e organizou palestras para conscientização das mulheres sobre ocupação em ambiente político, pautas igualitárias e a importância do autocuidado e da busca por seus direitos. Como destacado por Duarte, o MMB surge em um contexto em que as mulheres trabalhadoras rurais procuravam espaços para debater gênero e se tornarem sujeitas de direitos e protagonistas em sua militância.
Em 1982, Margarida foi assassinada, intensificando a luta de Penha no combate à violência e impunidade dos latifundiários. Assim, participou da criação do Partido dos Trabalhadores (PT) em Alagoa Grande, foi candidata a vereadora e, mais tarde, a deputada federal.
Maria da Penha não exerceu apenas papel singular na conquista de melhorias trabalhistas, mas também na emancipação das mulheres. Era conhecida por sua sensibilidade e compreensão das lutas de classe em especial no que se refere a mulheres trabalhadoras rurais. Em 1991 lançou o livro Por que trabalhar com mulheres em comemoração ao Dia Internacional da Mulher em João Pessoa. Também escreveu alguns textos sobre “as ações de resistência ao latifúndio”, em especial após a morte de Margarida.
Penha exclamava e incentivava a participação de mulheres nos sindicatos como representantes com poder de decisão e não apenas sombra de seus esposos. Incentivou a luta contra o patriarcado e o autoritarismo, mostrando que as mulheres também fazem parte da história e são capazes de construí-la.
Em 15 de março de 1991, Penha faleceu junto com Beth Lobo em um acidente de carro.
Penha costumava afirmar que: “Só quem luta é que sabe a dor que a gente sente”.
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Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Brenda Matos, Schuma Schumaher e Sofia Travancas Vieira.
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
DUARTE, Emmy Lyra. Movimento de mulheres trabalhadoras da Paraíba (MMT/PB): mobilização social, trabalho e relações de gênero. Okara, João Pessoa: v. 08, n. 02, 2014.
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
- Sites:
SILVA, Janaina Vicente. Margaridas da Resistência: Movimentos de Mulheres na Paraíba (1970 A 1980). Disponível em: PDF – Janaína Vicente da Silva.pdf (uepb.edu.br) Acessado em 14/06/2022.