• Maria do Carmo Jerônimo (1871 – 2000)

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15 de maio de 2024 por 

Trabalhadora doméstica, considerada a mulher mais longeva do Brasil

Maria do Carmo Jerônimo foi uma mulher brasileira que se tornou célebre nos anos 1990 pela sua longevidade. Maria nasceu em 5 de março de 1871, 6 meses antes da promulgação da lei do Ventre Livre. Nasceu em Carmo de Minas e foi registrada e batizada na igreja matriz da cidade. Destaca-se um detalhe na certidão de nascimento de Maria do Carmo que demonstra mais um aspecto perverso do colonialismo: em sua certidão de nascimento, consta que Maria é filha da escrava Sabina e do reprodutor Jerônimo. Enfim, apenas um pouco de informação para refletirmos sobre as condições iniciais de vida de Maria, que viveu sua infância e sua adolescência em pleno regime escravocrata sob a condição legal desumana de escravizada.

Conforme a reportagem do jornal Diário do Grande ABC, de 6 de março de 2000, a família criada por Maria do Carmo teria recebido pedido da organização do Guinness World Records. No entanto, em função de exigências da própria publicação, houve desistência na classificação de Maria do Carmo enquanto mulher mais velha do mundo. Bernadete Bernardo Guimarães, criada por Maria do Carmo, informou que as exigências foram parcialmente cumpridas. Inclusive, o Poder Judiciário brasileiro declarou autenticidade do documento apresentado pela paróquia. Válido refletir sobre o comentário de Bernadete na reportagem, à luz da desconfiança da publicação em relação à veracidade dos documentos: “Antigamente só havia registros na igreja.” Lembremos que se tratava de 1871, período colonial e escravocrata.

Maria do Carmo nasceu sendo legalmente considerada escrava. Passou a ser considerada uma cidadã livre em função da Lei Áurea em 1888, aos 17 anos. Teria vivido com seus pais, Jerônimo e Sabina, até seus 15 anos de idade. Luiz José Monteiro de Noronha, homem que escravizava seus pais e Maria, teria vendido a titularidade de Maria a um fazendeiro de Baependi.  Com o fim da escravidão, Maria do Carmo teria retornado à terra natal, trabalhando enquanto empregada doméstica. Neste sentido, válido mencionar as reflexões de Lélia Gonzalez, que denuncia em seus estudos que a concepção de trabalho doméstico brasileiro é baseada na reação da burguesia à Lei Áurea: realizar a contratação dessas mulheres negras jovens a fim de explorar sua mão de obra a preços extremamente baixos. Válido mencionar que tal era uma das poucas alternativas da sociedade da época para a subsistência dessas mulheres, vivendo em uma sociedade que apenas as considerou legalmente livres após pressões internas e revoltas internas, assim como pressão internacional, sendo o último país a abolir a escravidão nas Américas.

Maria do Carmo teria se mudado para o município de Cristina aproximadamente em 1930. Já no Natal de 1942, se mudou para o município de Itajubá, tendo lá residido desde então. A família para a qual Maria do Carmo trabalhava teria realizado tais mudanças, de forma que ela os teria acompanhado. Maria do Carmo foi oficializada como Cidadã Honorária de 6 cidades, inclusive de São Paulo, capital. A edição brasileira do Guinness World Records de 1994 classificou Maria do Carmo como a mulher mais velha do mundo, ainda que não tenha publicado internacionalmente a informação. A Enciclopédia Itaú Cultural menciona Maria do Carmo enquanto “a Ex-Escrava mais Velha do Mundo”.

Conforme reportagem de Gustavo Werneck, publicada pelo Estado Minas, Maria do Carmo teria morado 58 anos com a família do historiador Bernardo Guimarães, neto do escritor Joaquim da Silva Bernardo Guimarães, autor de A Escrava Isaura. Ainda, segundo a reportagem: “Viajou de avião pela primeira vez aos 124 anos, foi condecorada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com a medalha do centenário de Zumbi dos Palmares, conheceu o mar em 1997, recebeu visitas ilustres, como do cantor compositor Roberto Carlos e do rei Pelé e, três anos antes da sua morte, realizou o maior sonho da vida, ao receber das mãos de João Paulo II uma medalha, durante a visita do papa ao Rio de Janeiro (RJ)”.

Maria do Carmo faleceu em 14 de junho de 2000, na cidade de Itajubá, aos 126 anos. Em homenagem a Maria do Carmo, houve a promulgação da Lei nº. 3.220, de 8 de dezembro de 2017, instituindo e incluindo o Dia de Maria do Carmo Gerônimo e da Mulher Negra e Índia no Calendário de Festas e Eventos do Município de Itajubá, Minas Gerais. Conforme a reportagem de 16 de janeiro de 1998, da Folha de São Paulo, Maria do Carmo teria sofrido um derrame no dia 25 de outubro de 1997, logo após conhecer o papa João Paulo 2º. Ela faleceu sob os cuidados de seus familiares.

Palavras-Chave/TAG: #mulhernegra #longevidade #escravidão #colonialidade #leidoventrelivre #mulhermaisvelhadomundo

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

  • Sites:

Diário do Grande ABC. Mulher mais velha do Brasil completa 129 anos. 6 de março de 2000. Disponível em: Mulher mais velha do Brasil completa 129 anos – 06/03/2000 | Diário do Grande ABC (dgabc.com.br). Acesso em 22 nov 2022.

Folha de S.Paulo. Mulher de 126 anos é internada no Incor. São Paulo, 16 de janeiro de 1998. Disponível em: Folha de S.Paulo – A ex-escrava Maria do Carmo chega numa maca ao Instituto do Coração – 16/01/98 (uol.com.br). Acesso em: 22 nov 2022.

LIMA, Luiz Paulo. Dona Maria do Carmo Gerônimo, 126 Anos de Idade, a Ex-Escrava mais Velha do Mundo.Enciclopédia Itaú Cultural: 1997. Disponível em: Dona Maria do Carmo Gerônimo, 126 Anos de Idade, a Ex-Escrava mais Velha do Mundo | Enciclopédia Itaú Cultural (itaucultural.org.br). Acesso em 22 nov 2022.

O Guia de Itajubá. Maria do Carmo Jerônimo. Personalidades Marcantes: Itajubá. Disponível em: Maria do Carmo Jeronimo (oguiadeitajuba.com.br). Acesso em 22 nov 2022.

WERNECK, Gustavo. Ex-escrava mineira já havia pleiteado o título de mais velha do país. Jornal Estado de Minas: Belo Horizonte, 19 de maio de 2011. Disponível em: Ex-escrava mineira já havia pleiteado o título de mais velha do país – Gerais – Estado de Minas. Acesso em 22 nov 2022.

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