Professora, escritora, primeira romancista brasileira, abolicionista.
Maria Firmina nasceu em 11 de março de 1822, na cidade de São Luís do Maranhão. Era filha de uma escravizada alforriada, Leonor Fellipa. A partir do seu nascimento, muitas lacunas se fazem presentes na sua biografia. Sabe-se que quando tinha cinco anos mudou-se para Guimarães, no mesmo estado, para morar com uma parente próxima que tinha boas condições financeiras. Além disso, Maria Firmina dos Reis teve oportunidade de estudar, o que era raro para as mulheres negras à época.
Essa escassez de informações e contradições sobre a vida advém do pouco interesse sobre a existência desta mulher negra letrada, escritora e ativista da abolição, em decorrência da invisibilidade imposta a esta mulher negra insubmissa às hierarquias raciais e patriarcais do século XIX.
Em 1847, Maria Firmina dos Reis foi nomeada para o cargo público de professora primária, em razão de aprovação em concurso público, cuja função exerceu até 1881 quando se aposentou. Nesta ocasião recusou-se, veementemente, a ser levada para um palanquim, para receber seu título, nos ombros de escravizados – prática corriqueira da época. Sobre isso, Maria Firmina dos Reis vociferou “Negro não é animal para se andar montado nele”.
Em 1859, publicou, sob o pseudônimo Uma Maranhense, o romance Úrsula, considerado o primeiro romance afro-brasileiro. Neste livro, Maria Firmina para além de tratar a questão da escravização no Brasil, denunciou os horrores do tráfico negreiro na perspectiva dos escravos por meio da narrativa em primeira pessoa da escravizada Susana e retratou as condições dos escravizados a partir das reflexões do personagem Túlio.
Numa sociedade machista e racista, a boa aceitação da obra foi atípica. No entanto, pouco tempo depois caiu no ostracismo, principalmente após sua morte, materializando o previsto pela própria Firmina no prólogo de Úrsula: “pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem”.
O esquecimento em torno da vida e obra de Maria Firmina se traduz também nas imprecisões criadas em torno de sua imagem. Em 2018, Maria Firmina dos Reis foi a homenageada na Festa Literária das Periferias (FLUP), oportunidade em que foi criado um concurso para recriar o rosto dela, com base nos relatos obtidos a partir de estudos historiográficos.
Além de Úrsula, Maria Firmina ainda escreveu 13 de maio e publicou o conto A escrava na Revista Maranhense, também denunciando a escravidão. Publicou poesias e artigos nos jornais locais e compôs músicas para folguedos populares.
Em 1880, um ano antes de se aposentar do magistério público, Maria Firmina, numa atitude pioneira e ousada para sua época, fundou em São Luís do Maranhão a primeira escola mista e gratuita para crianças pobres do estado, e uma das primeiras do país. Essa atitude causou escândalo numa época em que a igualdade de educação para as mulheres não era uma realidade, mas um ideal buscado pela luta de várias mulheres. Pouco tempo depois, a escola acabou sendo fechada.
Nunca se casou, mas, apesar dos poucos recursos, adotou várias crianças e cuidava de numerosos afilhados.
Faleceu na cidade de Guimarães (MA), no dia 11 de novembro de 1917, na casa de uma amiga, que fora escravizada. Estava cega e tinha 92 anos.
Em 2021, no aniversário de 162 anos da publicação de Úrsula, foi lançada a revista eletrônica Firminas – pensamento, estética e escrita para privilegiar a produção de mulheres negras. Esses conteúdos resgatam a memória e legado de Maria Firmina dos Reis construindo novos conteúdos que dialogam com a sua história e luta.
Palavras-Chave/TAG: #romancista #feminismo #negra #resistência #abolicionista #pioneira
Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Elaine Gomes, Schuma Schumaher e Sofia Vieira.
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
MIRANDA, Fernada; DIOGO, Luciana; CORREIA, Marília. Revista Firminas – pensamento, estética e escrita, São Paulo, vol.1 n.1. jan-jul, 2021. Disponível em https://mariafirmina.org.br/wp-content/uploads/2021/03/revista-firminas-01-10-03-2021.pdf
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres Negras do Brasil. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2007.
- Sites:
FERNANDES, Fernanda. Maria Firmina dos Reis: vida, obra e curiosidades sobre a escritora. MULTIRIO, 2020. Disponível em: Maria Firmina dos Reis: vida, obra e curiosidades sobre a escritora. Acesso em 20 jun 2023.
NEIVA, Leonardo. Com rosto ainda desconhecido, primeira escritora negra do Brasil é redescoberta após décadas de anonimato. BBC, 2020. Disponível em: Com rosto ainda desconhecido, primeira escritora negra do Brasil é redescoberta após décadas de anonimato – BBC News Brasil. Acesso em 20 jun 2023.
Portal Memorial Maria Firmina dos Reis. Página inicial. Disponível em: Memorial de Maria Firmina Dos Reis – Este sítio reúne os materiais disponíveis sobre Maria Firmina dos Reis, dispersos em vários locais, de forma que estudantes, pesquisadores e interessados em geral possam explorar a riqueza da obra dessa escritora negra brasileira.. Acesso em 27 jul 2022
FOTOGRAFIA
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