• Risoleta Tolentino Neves (1917 – 2003)

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15 de maio de 2024 por 

Matriarca da família Neves, de Minas Gerais.

Risoleta Guimarães Tolentino nasceu em 20 de julho de 1917, na cidade de Cláudio, em Minas Gerais. Ela vem de uma família tradicionalmente política, sendo filha de Quinto Alves Tolentino e Maria Inês Guimarães. Estudou em São João Del Rei, onde concluiu o curso normal e conheceu Tancredo, jovem advogado que estava iniciando sua carreira política. Eles se casaram no 25 de maio de 1938 e tiveram três filhos: Inês Maria, Maria do Carmo e Tancredo Augusto. O casamento durou quase 47 anos, até a morte de Tancredo em 1985. Seu neto mais famoso é Aécio Neves, que teria iniciado sua carreira não na política, mas como secretário de seu avô (ainda que possa ter sido, na prática, um rito de iniciação para a política formal). Prestes a se tornar a 30ª primeira dama federal, depois das eleições indiretas que elegeu Tancredo presidente, em 15 de janeiro de 1985, esse fato não aconteceu, pois, seu marido adoeceu e foi internado um dia antes da posse, em 14 de março de 1985. Entretanto, Risoleta já tinha a experiência de ser primeira dama de Minas Gerais de 1983 e 1984. Inclusive, considerando o trabalho de integração entre primeiro damismo estadual e federal, talvez Risoleta tenha contribuído também com o PRONAV, conforme esse movimento político se iniciava nos anos 1980. Ainda assim, não se localizou dados sobre essa hipótese. O que se sabe é que Risoleta é apontada como a grande mentora política da família Neves, sendo uma mulher sorridente, elegante e metódica.

A doutora Dayanny Rodrigues relembra o momento em que Tancredo Neves faleceu logo após as eleições que o tornaram presidente. Pouco antes disso, Risoleta estava ao lado de Tancredo em seu primeiro discurso no Congresso Nacional. A matéria destacava sua simpatia e firmeza, sendo a firmeza mencionada porque ela confrontou uma jornalista que havia acusado Risoleta de não receber repórteres. Na ocasião, ela relembrou que a família estava recebendo apenas equipes que gravaram um especial de televisão. Assim, a matéria veiculada seria mentira, e a repórter teria sido desonesta, nas palavras de Risoleta.

Destacamos que o filme O Paciente – Caso Tancredo Neves representa os momentos vividos pelo casal neste período, desde a chegada à presidência até os primeiros meses de viuvez de Risoleta. Sobre este momento, a reportagem A Brava Senhora, disponibilizada online pelo Senado, relembra de Dona Risoleta “abatida, tensa e cansada” em luto pelo marido. Ela teve dois pequenos desmaios desde a partida do esposo e se manteve forte o suficiente para conter até mesmo uma multidão nos jardins do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. A matéria diz que, evocando o falecido presidente, foi ouvida por toda a multidão, uma mulher que superou a própria dor para lidar com o momento vivido.

Risoleta recebeu delegação de Tancredo para seguir com a jornada política já iniciada. Contando com este capital político, porém, ela optou por não trilhar os caminhos que foram apontados. Uma alternativa seria se tornar presidente da LBA, que tradicionalmente recebia primeiras-damas como suas presidentes. Não pelo fato de ter sido simbolicamente a primeira dama por tão pouco tempo, mas sim pelo fato de que gostaria de seguir sua vida no Rio de Janeiro, Risoleta declinou o convite. A segunda alternativa apontada para ela foi ingressar na vida política para prosseguir o trabalho de seu falecido marido. Da mesma forma que não aceitou ser presidente da LBA, Risoleta prefere focar no comando da família Neves a partir do Rio de Janeiro, onde pretendia passar o maior tempo possível, segundo o Jornal do Commercio do dia 4 de maio de 1985. Assim, o plano de Risoleta foi bem-sucedido, pois outros nomes da família Neves entraram na política, como o já mencionado Aécio Neves, candidato à presidência da república em 2014.

A viúva Risoleta seguiu recebendo convites da nova primeira dama, Marly Sarney, para almoços. Marly também a visitava em Belo Horizonte, e foi também Marly quem esteve ao lado de Risoleta nas missas em nome de Tancredo Neves. Foi durante esses acontecimentos que a família Neves estrategicamente se colocou à disposição do governo Sarney. Importante lembrar que os maridos de Risoleta e Marly são antigos aliados, uma vez que Sarney era filiado ao extinto partido ARENA. A comoção pela morte de Tancredo Neves e a consequente expectativa em torno do governo de Sarney podem ter influenciado na aproximação das duas famílias, uma vez que, tradicionalmente aliadas políticas na ditadura, beneficiaram-se daquele momento histórico em que a Nova República era inaugurada.

Vale a pena mencionar a reportagem País conhece na dor grandeza de Dona Risoleta. A matéria afirma que Risoleta sempre havia dado conselhos a Tancredo Neves, inclusive ajudando a redigir seus discursos. A matéria previa que, caso fosse primeira dama por mais tempo, Risoleta exerceria um papel bem diferente dos de suas antecessoras, com raras exceções como a Sarah Kubitscheck. É dito que ela, sem exagero, governaria com o marido – não no sentido da tutela, mas sim da assessoria. A reportagem destaca que o próprio Tancredo não escondia que a opinião de Risoleta era acatada: suas falas eram objetivas, o que fazia com que fosse ouvida mesmo se contrariasse frontalmente os pontos de vistas e posições políticas de Tancredo. Os discursos do marido também eram construídos com Risoleta, que ajudou na elaboração das falas de Tancredo nas oportunidades em que foi empossado Ministro da Justiça de Getúlio Vargas, governador de Minas Gerais e presidente do Brasil. O discurso que Tancredo diria ao receber a faixa presidencial também foi elaborado com a franca ajuda de Risoleta.

Em 20 de janeiro de 1985, conforme acima mencionado, o Jornal do Brasil afirmou que a primeira dama era metódica porque ela tinha hábitos que cultivava havia 67 anos de vida, desde que morara em Cláudio. Ela invariavelmente dormia às 10h da noite e acordava às 6h da manhã. Esse detalhe nos mostra um pouco da simplicidade da mineira Risoleta. Aos 86 anos, Risoleta faleceu no Rio de Janeiro, em 21 de setembro de 2003, no Hospital Copa D’Or. Ela foi vítima de complicações decorrentes de diverticulite, doença que também matou Tancredo. O corpo de Risoleta foi enterrado ao lado de Tancredo no cemitério da Igreja de São Francisco de Assis, em São João Del-Rei.

Importante refletir sobre o legado de Risoleta que vive através do Hospital Risoleta Tolentino Neves, localizado na Regional Venda Nova, em Belo Horizonte, Minas. Segundo Regina Gonçalves Bastos et al em O papel do Hospital Risoleta Tolentino Neves no processo de produção da Regional Venda Nova em Belo Horizonte/MG, o Hospital tem um importante papel de promover a identidade belo horizontina com a criação de uma centralidade da cidade que é difundida a uma enorme área do espaço urbano.  O hospital filantrópico, 100% financiado pelo SUS, trabalha de portas abertas 24 horas por dia, sendo referência para a Região Norte de Belo Horizonte e municípios do entorno, contando com assistência de urgência e emergência, Pronto-Socorro e Maternidade, além de 420 leitos.

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

BASTOS, Regina Gonçalves; patrocínio, Winnie Parreira; SILVA, Ítalo Araújo da; SOUZA, Lan Marx de; ROQUE, Fernando Henrique da Silva, RAGGIE, Mariana Guedes. O papel do Hospital Risoleta Tolentino Neves no processo de produção da Regional Venda Nova em Belo Horizonte/MG. Belo Horizonte: Revista do Instituto de Ciências Humanas, PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, 3 de outubro de 2016. Disponível em: Vista do O PAPEL DO HOSPITAL RISOLETA TOLENTINO NEVES NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DA REGIONAL VENDA NOVA EM BELO HORIZONTE/MG (pucminas.br). Acesso em 17 ago 2023.

RODRIGUES, Dayanny Deyse Leite. “Primeiro damismo” no Brasil: uma história das mulheres na cultura política nacional (1889-2010). Goiânia: Universidade Federal de Goiás, fevereiro de 2021. Disponível em: Tese – Dayanny Deyse Leite Rodrigues – 2021.pdf (ufg.br). Acesso em 5 ago 2023.

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

  • Sites:

A BRAVA SENHORA. Senado Federal, 23 de abril de 1985. Disponível em: Neves_Tancredo_P031_R0270.pdf (senado.leg.br). Acesso em 17 ago 2023.

FÓRNEAS, Vitor. Governo federal garante que ajudará hospitais e quer zerar dívida do Risoleta. O Tempo: 4 de julho de 2023. Disponível em: Governo federal garante que ajudará hospitais e quer zerar dívida do Risoleta | O TEMPO. Acesso em 17 ago 2023.

Hospital Risoleta Tolentino Neves. Disponível em: Missão, Visão e Valores​ – Risoleta Neves (ufmg.br). Acesso em 17 ago 2023.

Morre a ex-primeira-dama Risoleta Neves. Santo André: Diário do Grande ABC, 21 de setembro de 2003. Disponível em: Morre a ex-primeira-dama Risoleta Neves – 21/09/2003 | Diário do Grande ABC (dgabc.com.br). Acesso em 17 ago 2023.

O PACIENTE – RISOLETA NEVES. Fashionistas de Plantão, 26 de setembro de 2018. Disponível em: O Paciente – Risoleta Neves (fashionistasdeplantao.com). Acesso em 17 ago 2023.

País conhece na dor grandeza de Dona Risoleta. Senado Federal. Disponível em: Neves_Tancredo_P029_R0049.pdf (senado.leg.br). Acesso em 17 ago 2023.

Risoleta Guimarães Tolentino Neves. Geni, 3 de junho de 2021. Disponível em: Risoleta Guimarães Tolentino Neves (Guimarães Tolentino) (1917 – 2003) – Genealogy (geni.com). Acesso em 17 ago 2023.

Superlotação e desequilíbrio financeiro comprometem atendimento no Hospital Risoleta Neves. CES/MG – Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais, 16 de junho de 2023.

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