• Tia Maria do Jongo (1920 – 2019)

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12 de setembro de 2023 por 

Maria de Lourdes Mendes, também conhecida como Tia Maria do Jongo, foi uma das figuras mais relevantes da história do samba e do jongo na cidade do Rio de Janeiro. Nasceu em 30 de dezembro de 1920, no Morro da Serrinha, em Madureira, Rio de Janeiro. Seus pais, Etelvina Severo de Oliveira e Francisco José de Oliveira, músicos, teriam nascido em Minas Gerais, vindo ao Rio de Janeiro para se estabelecer – alguns filhos nasceram em Minas, enquanto outros, incluindo Maria de Lourdes, nasceram no Rio. A página Sim à Igualdade Racial esclarece que Tia Maria do Jongo, seus 9 irmãos e seus pais Zacarias e Etelvina fundaram a Império Serrano em 1947. Tia Maria foi a última fundadora viva da escola. Casou-se aos 20 anos com Ivan Mendes, tendo o casal gerado 2 crianças.

Em 1977, Mestre Darcy convidou Tia Maria para integrar o grupo do Jongo da Serrinha. Nos termos de Carolina Abreu Accioli e Jessica Gonçalves Lima em “A força da mulher no Jongo da Serrinha”, de 2013: “Hoje o Jongo da Serrinha é liderado por Tia Maria do Jongo, uma figura única que mantêm viva a tradição do jongo através do Grupo Artístico Jongo da Serrinha e da ONG Grupo Cultural da Serrinha. A atual matriarca é considerada uma das jongueiras mais importantes do Brasil. Sendo a raiz direta de Mestre Darcy e Vovó Maria Joana, é ela o patrimônio vivo da história do Jongo.”

Conforme ensina Monique Pereira da Silva em “Ah, eu sou jongueiro cumba! Negociação e resistência do Jongo hoje”, há a compreensão errônea de que o jongo e a umbanda seriam uma única religião afrobrasileira. Segundo a autora, tal má compreensão seria reflexo de que “geralmente, no jongo há líderes espirituais, quase sempre ligados à umbanda, por ser uma cultura de referencia banto.” Similarmente, ela pontua: “A liderança espiritual é importante para a manutenção de certas tradições do jongo, para que os mistérios indissociáveis a essa manifestação se mantenham.” De todo modo, não era o caso de Tia Maria. Confundida por alguns como mãe de santo do Jongo da Serrinha, mas Tia Maria se considerava católica desde criança. Tal não significava desrespeito a religiosidades afro-brasileiras, tendo em vista a descrição de sua experiência: “eu dançava dentro do gongá, saudava o santo, beijava o santo, sempre respeitando.”

Destaca-se que historicamente os cargos de liderança do Jongo da Serrinha são ocupados por mulheres, tendo suas decisões de interesse coletivo sido tomadas por elas. Tal é a conclusão de Aline Oliveira de Sousa em “Tia Maria do Jongo: memórias que ressignificam identidades das atuais lideranças jongueiras do grupo Jongo da Serrinha”. A autora também menciona que o Jongo da Serrinha tem a tradição de servir comida e bebida aos convidados, por parte de quem “dá” a roda. A festa geralmente se iniciava com uma ladainha ao santo do dia, acontecendo o jongo à meia-noite. Tal faz referência a dados coletados por Edir Gandra na década de 1980. Nesse sentido, a autora destaca que na década de 1980 “o jongo já não era mais um evento restrito aos convidados do grupo e passou a ser frequentado por um público mais amplo, como artistas e jornalistas convidados na intenção de divulgar o jongo”

Segundo expõe Aline Oliveira de Sousa, Tia Maria assumiu o cargo de matriarca do Jongo da Serrinha após a morte de sua avó, Vovó Maria Joana. Sendo a mais velha à época, Tia Maria já era reconhecida como a matriarca do grupo. Reflexo do amor pela matriarca, a autora expôs: “o show criado para lançar o CD Vida ao Jongo teve as memórias de Tia Maria como fio condutor. Foi um espetáculo onde as pessoas assistiram Tia Maria contando muitas histórias, valorizando mais sua fala e sua trajetória no jongo.” Tia Maria do Jongo foi entrevistada por jornalistas e pesquisadores diversas vezes em sua vida, dada a relevância da líder para o jongo, o samba e toda a diáspora africana.

Maria de Lourdes faleceu aos 98 anos na manhã do sábado dia 18 de maio de 2019. Ela havia acabado de ser homenageada no Prêmio Sim à Igualdade Racial, na categoria Arte em Movimento, concorrendo com o ator Fabrício Boliveira e o rapper Djonga. Na ocasião, convidava todos a conhecer a Casa do Jongo, sede do Jongo da Serrinha criada em 2015 em espaço doado pelo Município do Rio de Janeiro. Importante lembrar que o jongo é ritmo musical tombado pelo Iphan como patrimônio imaterial brasileiro em 2005. Similarmente, mencionamos que Tia Maria é patrona da Creche Municipal Tia Maria do Jongo, em Madureira, fundada em 2002. Todo o exposto acima é reflexo da vida, do amor e da obra de Tia Maria. Fruto de sua organização ao lado de irmãs e irmãos de todas as gerações, o jongo tem se popularizado, alcançado cada vez mais corações, continuando a unir pessoas.

BIBLIOGRAFIA:

CorrigidaAlineOliveira.pdf (usp.br)

Tia Maria do Jongo  – Prêmio Sim à Igualdade Racial 2019 (simaigualdaderacial.com.br)

forca da mulher no jongo da serrinha_carolina abreu accioli.pdf (udesc.br)

O Jongo e a vida de Tia Maria dedicada à sua cultura – CTE – Centro de Tecnologia Educacional da UERJ

1402012907_ARQUIVO_CasadeJongo.pdf (abant.org.br)

Microsoft Word – PRE-TEXTUAL.doc (ufrj.br)

Patronos das Escolas Municipais – Tia Maria do Jongo e a conservação da cultura ancestral (multirio.rj.gov.br)

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