• Vanuíre ( ? – 1918)

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12 de setembro de 2023 por 

Indígena Kaingang

Por se tratar de uma mulher indígena, a história da “velha Vanuíre” é cheia de silenciamentos, distorções e lacunas, tanto que não se sabe ao certo quando e onde ela nasceu. Sabe-se que faleceu em 1918, em Icatu (SP), aldeia onde viveu seus últimos dias.

No início do século XX, por volta de 1910, a velha indígena Vanuíre, que fazia parte dos povos Kaingang, habitava o oeste paulista. Ela ganhou o apelido de “a pacificadora”, pois intermediou (ou foi levada a intermediar) o diálogo entre brancos e indígenas das etnias Kaingang no oeste paulista. No entanto, esse título deve ser problematizado no sentido de se combater a ideia negativa que se tinha dos kaingang, o apagamento de sua história de resistência e a instrumentalização das lideranças indígenas para os propósitos colonizadores.

No início do século, os kaingang habitavam um importante local de resistência indígena

no vale do Rio Feio, conhecido como Aguapeí. O cacique Iacri chefiava os Kaingang, povo indígena da região, e não queria dialogar com os homens brancos. Com a construção de uma estrada de ferro, o conflito entre brancos e indígenas se intensificou. Nesse contexto, contava-se que a velha indígena Vanuíre atuou no sentido de salvar os que restavam do povo em busca de pacificação, evitando seu extermínio. De fato, Vanuíre é a responsável pela sobrevivência de seu povo até os dias atuais. Segundo historiadores, sua perseverança e esforço refletiam sua convicção de que aquela seria a salvação das últimas relíquias de seu povo. E a anciã Vanuíre estava certa.

Vanuire, apesar de falar mal português, possuía a importante função de contar as lendas, cantos e histórias da aldeia. De acordo com as lendas, diariamente, Vanuíre subia em um tronco de jequitibá de dez metros de altura e cantava cânticos de paz. Os homens brancos passaram a deixar presentes na borda da floresta com o objetivo de atrair a confiança dos Kaingang. Depois de meses, os indígenas Kaingang começaram a se aproximar e demonstrar gestos de diálogo. Em seguida, o chefe Iacri e outros indígenas foram ao acampamento e firmaram um acordo de paz.

Apesar das lacunas sobre a história da velha Vanuíre, conta-se que, de fato, foi o coronel Cândido Mariano Rondon, fundador do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que buscou auxiliar um grupo de kaingangs “pacificados” que trabalhavam em uma Fazenda como escravos, a despeito da abolição da escravatura formal em 1888. Foi nesse contexto que a velha indígena Vanuíre foi deslocada para atuar como mediadora e intérprete no auxílio do SPI em seu objetivo de aldear os kaingang.

De qualquer forma, é consenso de que a presença da velha indígena Vanuíre resultou no fim dos conflitos e no aldeamento dos kaingang em 1912, em duas aldeias, hoje conhecidas como Terras Indígenas de Vanuíre e Icatu, localizadas entre as cidades de Arco-íris e Braúna, no Oeste Paulista.

Atualmente, a Aldeia Vanuíre é uma área indígena habitada por indivíduos de vários grupos indígenas diferenciados, em sua maioria de ascendência de duas etnias, kaigang e krenak. Conta com uma população de cerca de 177 indígenas (ISA-Instituto Socioambiental). O Serviço de Proteção ao Índio prestou uma homenagem à Vanuíre ao colocar seu nome em um posto indígena. Também é considerada heroína na cidade de Tupã (SP), onde está localizado o Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre.

Palavras-Chave/TAG: #indígena #pacificadora #povokaygang

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Ana Laura Becker, Elaine Gomes e Sofia Vieira.

REFERÊNCIAS

  • Produções acadêmicas:

PINHEIRO, Níminon S. Os nômades: etnohistória Kaingang e seu contexto: São Paulo 1850-1912Assis: UNESP, 1992. : São Paulo, 1850-1912. Assis: UNESP, 1992. Dissertação de Mestrado.

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

● Sites:

FERRARI, Rodrigo. Vanuíre, a heroína da pacificação. ICNET. Disponível em: Vanuíre, a heroína da pacificação (sampi.net.br). Acesso em 25 jul 2022.

Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre. Tupã: Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Disponível em: O Museu – Museu India Vanuíre (museuindiavanuire.org.br). Acesso em 25 jul 2022.

Museu Histórico e Pedagógico da Índia Vanuire posts relacionados. Tupã: ACAM Portinari, Organização Social de Cultura. 17 de fevereiro de 2022. Disponível em: Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre – ACAM Portinari. Acesso em 25 jun 2023.

Terra Indígena Vanuíre. Disponível em: Terra Indígena Vanuire | Terras Indígenas no Brasil (terrasindigenas.org.br). Acesso em 25 jul 2022.

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