Terceira engenheira agrônoma do Brasil.
Cândida Helena Teixeira Mendes foi a terceira agrônoma da história do Brasil, e a segunda da história de São Paulo. Cândida era filha de Carlos Teixeira Mendes, formado pela ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” em 1908. Isto reflete uma tendência comum naquele tempo: a influência familiar na escolha da carreira. Esta cultura fica ainda mais evidente pelo fato de que Cândida cursou engenharia agrônoma também na ESALQ. Assim como outras mulheres desse período, Cândida foi motivada não apenas pelo interesse pessoal, mas também pelo ambiente familiar que valorizava a educação e a ciência – a ponto de superar as expectativas sociais da época, incentivando os estudos de meninas daquele período. A exemplo, sua colega, Victoria Rossetti – que foi a primeira engenheira agrônoma de São Paulo, e a segunda do país – também era filha de um engenheiro agrônomo, e teve apoio familiar para perseguir seus sonhos.
A pioneira desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do melhoramento do amendoim no país. Nas décadas de 1950 e 1960, Cândida realizou um trabalho pioneiro no IAC – Instituto Agronômico de Campinas. Foi no IAC que Cândida acumulou um vasto conhecimento sobre o amendoim cultivado e espécies silvestres relacionadas. Seu trabalho foi essencial para os programas de melhoramento genético do amendoim, contribuindo para a identificação de resistência a doenças comuns na cultura. Essa contribuição foi especialmente relevante em um período em que a agricultura brasileira buscava aumentar a produtividade e a qualidade dos seus produtos. Neste sentido, importa mencionarmos que Cândida publicou o artigo Auto-esterilidade, apresentando um resumo do comportamento das plantas dipióides (aquelas que possuem dois conjuntos de cromossômicos), com relação à autoesterilidade, objetivando tornar compreensível a orientação de pesquisas nas espécies do gênero Coffea.
A história de Cândida Helena Teixeira Mendes destaca não apenas suas contribuições científicas, mas também a importância da persistência e do apoio familiar em um período em que as mulheres ainda enfrentavam muitas barreiras no acesso à educação e ao mercado de trabalho. Não à toa, Jéssica Bley da Silva Pina menciona Cândida em sua dissertação de mestrado, que versa sobre a inserção feminina na comunidade científica brasileira entre 1948 e 1958. Cândida é mencionada em no Anexo I – Lista completa do nome das 170 mulheres cientistas localizadas em Ciência e Cultura (1949-1958). A pesquisadora realiza algumas reflexões sobre Cândida e as demais mulheres descritas: “Quem são elas? Quais suas áreas de atuação? Em que grupos de pesquisa circulam e colaboram? Com quem trabalham e publicam? Como articulavam com a comunidade científica nacional e internacional? Essas são as perguntas que o último capítulo tentará responder, não acerca de todas as 170 pesquisadoras, mas relativo ao grupo que elas representam e no estudo de caso que se apresenta”. A trajetória de Cândida, assim como as trajetórias de diversas cientistas de sua época, inspira e reforça a importância de reconhecer e celebrar as pioneiras que abriram caminho para as futuras gerações de intelectuais no Brasil.
Texto escrito por: Emilson Gomes Junior
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REFERÊNCIAS:
- Produções acadêmicas:
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MENDES, Candida Helena Teixeira. Auto-esterilidade. Revista de Agricultura: Campinas. Disponível em: Fealq. Acesso em 30 ago. 2024.
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- Sites:
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