• Eloína dos Leopardos (1937 – presente)

  • Voltar
15 de maio de 2024 por 

Atriz, produtora cultural, coreógrafa e travesti

Eloína de Souza, mais conhecida como Eloína dos Leopardos, é uma atriz, coreógrafa e produtora carioca de renome internacional. Ela ganhou destaque pela peça de sucesso que levou seu nome, solidificando sua posição como uma figura icônica no cenário artístico, tendo sido a primeira rainha de bateria da história do carnaval carioca.

Nasceu em 13 de janeiro de 1937 e cresceu no Rio de Janeiro, no Catumbi. Eloína trabalhava enquanto camareira de vedetes em teatro carioca desde seus 14 anos. Já em 1966 teria sido convidada para sambar em casas noturnas de Copacabana. Nesta fase de sua carreira, teria sido uma das introdutoras do naturismo no Brasil através da peça intitulada “Luz Del Fuego”, em homenagem à homônima artista brasileira que se destacou entre 1940 e 1960 por ser pioneira na implementação do naturismo no Brasil.

Em 1976, foi a primeira mulher a desfilar como rainha de bateria de uma escola de samba, pela Beija-Flor de Nilópolis. Conforme revelado por Eloína no documentário Memória da Diversidade Sexual| Eloína dos Leopardos, produzido pelo Museu da Diversidade Sexual – APAA, a oportunidade surgiu através do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, por um convite do artista plástico e carnavalesco Joãozinho Trinta, após sugestão do figurinista Viriato Ferreira. Eloína afirma não ter dado continuidade à atuação enquanto rainha de bateria em função de tentativas de ridicularização contra ela durante a experiência.

Em 1972, Eloína trabalhou enquanto artista performática em Paris, França. Chegou lá sem saber francês, buscando iniciar sua vida na cidade, cujo endereço da hospedagem que levou do Brasil era de um hotel onde outras travestis já haviam passado. Tal representa a rede de mulheres transexuais que permitia o fluxo migratório facilitado com o apoio mútuo, em efetiva sororidade. Segundo Thiago Barcelos Soliva, “Não somente Eloína foi beneficiada com essa rede, mas também Jane Di Castro e Marquesa. Todas elas migraram para o exterior, seguindo a trilha deixada por ‘travestis’ que já trabalhavam em algum estabelecimento na cidade, facilitando assim a chegada num mundo desconhecido e abrindo caminho para o tão sonhado emprego em algum dos cabarés.”

Em relação aos cabarés, possível compreender que tais espaços representavam tanto uma forma digna de construção de suas carreiras artísticas quanto uma possibilidade para construção de laços de afeto. Segundo Thiago Barcelos Soliva: “Mais do que um nicho de mercado para as “travestis”, os cabarés como o Carrousel e o Madame Arthur constituíam uma rede de solidariedade entre essas pessoas. Eram nesses espaços que muitas encontravam uma ‘família de escolha’, composta por outras iguais com histórias de vida semelhantes, na qual era possível depositar expectativas de cooperação e lealdade.”

Durante seus anos na Europa, Eloína encontrou reconhecimento profissional e a oportunidade de existir como mulher trans ou travesti. No entanto, a maior parte do dinheiro que ganhava com seu trabalho artístico era destinada à subsistência, custos do ofício e procedimentos estéticos necessários para a saúde e suas jornadas individuais em busca de aspirações. Embora a estada europeia tenha contribuído para a construção de seu capital social e simbólico, como aponta Thiago Barcelos Saliva, a viagem trouxe pouca ascensão econômica para algumas dessas artistas. Na Europa, Eloína e suas contemporâneas investiam em suas transformações corporais e em um guarda-roupa sofisticado, essenciais para dar continuidade às suas carreiras e desenvolver o “talento de ser fabulosa”.

De volta ao Brasil, nos anos de 1980, Eloína dos Leopardos colocou em cartaz um dos mais duradouros espetáculos da história brasileira, “A Noite dos Leopardos”. Ela encerrou o espetáculo em 1997, quando estava no auge. Tratava-se de uma performance de dança erótica realizada por um grupo de pessoas nus. Dentre os artistas que a prestigiaram, constam Caetano Veloso e diversos artistas globais, além de Liza Minelli e Madonna. Em relação à última, destaca-se que o Jornal Nacional realizou o furo de reportagem, transmitindo a todo o território nacional que Madonna assistiria ao espetáculo. Tal teria causado um enorme tumulto nas imediações da apresentação.

No documentário do Museu da Diversidade Sexual, Eloína dos Leopardos também não esconde o fato de que foi uma das pioneiras em relação ao estabelecimento e manutenção de saunas no Brasil. Possível compreender como sua produção artística viabilizou a satisfação do público LGBTQIA+, através das décadas. Inclusive, a própria deixa claro que a popularização do modelo se deu especialmente a partir dos anos 1990. Frente à multiplicação de novas saunas e espaços de performance erótica, Eloína tomou sua decisão de descontinuar a Noite dos Leopardos – ao menos nos moldes e regularidade anteriores.

Em relação a seus trabalhos mais recentes, Eloína dos Leopardos participou do espetáculo musical Divinas Divas, no Teatro Rival. A peça esteve em cartaz entre 2004 e 2014, também estrelando Rogéria, Divina Valéria, Camille K, Marquesa Brigitte de Búzios e Fujika da Hallyday. Nas palavras de Marcelo Saldanha das Neves em “Performance, porrada e purpurina: histórias e memórias LGBT+ em recentes documentários brasileiros”, de 2019, as protagonistas “formaram um grupo de teatro musical na década de 70 que testemunhou o auge da vida cultural da Cinelândia, tendo como ponto de seus espetáculos, o Teatro Rival.”

Posteriormente, Divinas Divas tornou-se o documentário homônimo, lançado em 2017, dirigido por Leandra Leal. O documentário foca na pioneira e renomada geração de artistas travestis brasileiras, notórias nos anos 1960. Todo o elenco original estrela o documentário. Digno de nota que o Teatro Rival, então dirigido por Américo Leal, avô de Leandra Leal, foi um dos primeiros palcos a apresentar performances de artistas travestis no Brasil. Conforme descrito por Marcelo Saldanha das Neves: “O documentário acompanha o reencontro dessas artistas para montagem de um novo espetáculo nos anos 2000 que recupera as memórias de uma geração que revolucionou o comportamento sexual e desafiou a moral da época.”

Em 2017, na Parada Gay de São Paulo, o longa-metragem Divinas Divas ganhou um trio elétrico para desfilar com todo glamour pela capital paulista. Já em 2020, Eloína dos Leopardos se apresentou pela primeira vez no Teatro Municipal de São Paulo com o espetáculo Divinas Divas – Verão Sem Censura, ao lado de Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Marcia Dailyn e Divina Núbia. Em 2021, Eloína recebeu o Prêmio Cláudia Wonder no encerramento da 9ª edição da SP TransVisão. As demais vencedoras do prêmio na edição são as personalidades transexuais Erika Hilton, Mariana Munhóz e Léo Paulino, além das instituições Casa Florescer e Casa Chama.

Palavras-Chave/TAG: #transexual #rainhadebateria #mulhernegra #travesti #musicaldeteatro #cinema #coreografia

Elaboração: Emilson Gomes Junior

Revisão: Schuma

REFERÊNCIAS

SOLIVA, Thiago Barcelos. Internacionais e glamorosas: sobre a carreira das “travestis profissionais”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis. 2019. Disponível em: 1806-9584-2019v27n253423.pmd (scielo.br)

#CulturaEmCasa. Memória da Diversidade Sexual | Eloína dos Leopardos. Associação Paulista dos Amigos da Arte (APAA). 2017. Disponível em: MEMÓRIA DA DIVERSIDADE SEXUAL | Eloína dos Leopardos – #CulturaEmCasa

Centro de Formação das Artes do Palco. Prêmio Claudia Wonder encerra 9 ª Transvisão em noite de homenagens emocionantes. 2021. Disponível em: Prêmio Claudia Wonder encerra 9 ª Transvisão em noite de homenagens emocionantes – SP Escola de Teatro

ARAM, André. Eloína dos Leopardos: A musa dos felinos da noite gay carioca. Scruff Gay Blog. Disponível em: Eloína dos Leopardos: A musa dos felinos da noite gay carioca

Observatório G. Divinas Divas terão trio elétrico na Parada do Orgulho LGBT de SP. 2016. Disponível em: Divinas Divas terão trio elétrico na Parada LGBT de SP (uol.com.br)

Theatro Municipal de São Paulo. Divinas Divas – Verão Sem Censura. Programação. 2020. Disponível em: Complexo TMSP (theatromunicipal.org.br)

Links:

1806-9584-2019v27n253423.pmd (scielo.br)

MEMÓRIA DA DIVERSIDADE SEXUAL | Eloína dos Leopardos – #CulturaEmCasa

Prêmio Claudia Wonder encerra 9 ª Transvisão em noite de homenagens emocionantes – SP Escola de Teatro

Eloína dos Leopardos: A musa dos felinos da noite gay carioca

Emoção e talento artístico marcam abertura da 9ª SP TransVisão com colaboradoras da escola – SP Escola de Teatro

Divinas Divas terão trio elétrico na Parada LGBT de SP (uol.com.br)

Complexo TMSP (theatromunicipal.org.br)

Parada Gay é marcada por animação e talento de Daniela Mercury – Setor VIP

Eloína – A heroína do arco-íris (srzd.com)

Categoria: Biografias - Comentários: Comentários desativados em Eloína dos Leopardos (1937 – presente)