• Feminicídios: crimes de ódio no cenário de guerra do patriarcado contra as mulheres

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15 de abril de 2024 por 

Ana Liési Thurler

Publicado originalmente no Jornal Brasil Popular/DF em 29 de março de 2023, https://www.brasilpopular.com/artigo-feminicidios-crimes-de-odio-no-cenario-de-guerra-do-patriarcado-contra-as-mulheres/

As mortes violentas de mulheres não saem de cena nem no Distrito Federal e Entorno, nem no Brasil. Diante de casos espantosos – em perversidade e em número – em dezembro de 2020, as mulheres decidimos nos organizar. Assim, surgiu o Levante Feminista Contra o Feminicídio lançado nacionalmente em 25 de março 2021, pensado inicialmente como uma Campanha. Neste mês, combativo, forte com infinidade de atividades, o Levante se revela muito mais uma Rede Nacional de Resistência permanente diante de feminicídios. 

Nós do Levante declaramos ser imprescindível romper todos os silêncios – social, governamental – em torno das mortes violentas das mulheres, denunciando incansavelmente, pois feminicídios são escândalos. Declaramos ser imprescindível desconstruir interpretações sustentadas pelo patriarcado, usadas como atenuantes desse crime: feminicídio não é crime passional, feminicídio não é crime em defesa da honra, muito menos gesto irracional de quem “ama demais”. O Levante Feminista Contra o Feminicídio trabalha para levar a sociedade e o Estado à interpretação real do feminicídio: feminicídio é crime de ódio, crime de poder, que as lutas feministas conseguiram colocar na condição de crime hediondo desde a aprovação da Lei do Feminicídio em 2015. 

Estimativas apontam que no período de caça às bruxas na Europa, quando se espalhou o terror e mulheres foram condenadas à fogueira – entre os séculos XV e XVIII -, cerca de mil mulheres foram levadas à fogueira, por exemplo, na Diocese de Como. Lá onde está o belo lago com o mesmo nome, sobre os Alpes italianos. Muitos historiadores sustentam que, ao longo desses três séculos, entre quarenta e cinquenta mil mulheres morreram nas fogueiras. A estimativa mais alta é apresentada por Marilyn French (1929-2009), feminista estadunidense: nesses três séculos, cem mil mulheres teriam perdido a vida nas fogueiras. É o horror e esses números estão são apresentados porque no Brasil, em um período não de três séculos, mas de pouco mais de três décadas – entre 1980 e 2013 -, 106.093 mulheres foram assassinadas por maridos, namorados, ex (Mapa da Violência.Flacso, 2015). O quadro de feminicídios foi agravado com a ascensão do neonazismo brasileiro – golpe em 2016, vitória da extrema-direita nas eleições de 2018 -, e com a pandemia – início de 2020. 

No Distrito Federal o quadro também é grave. Exemplificando: tivemos em 2022, 24 mulheres mortas por   feminicídio. O 1º trimestre de 2023 ainda não acabou e já temos 12 mulheres vítimas de crimes violentos na capital do país, indicadas a seguir:

Fernanda Letícia da Silva, Miriam Nunes, Odineia Felix Salgueiro, Isis Tabosa, Jeane Sena da Cunha Santos, Giovana Camily Evaristo Carvalho, Jaqueline Souza Paiva, Isabel Guimarães, Simone Sampaio de Melo, Letícia Barbosa Mariano e Rayane Ferreira de Jesus Limaalém de uma mulher que não teve o nome divulgado. 

tentativas de feminicídio são recorrentes. Dia 23 de março, tivemos três ocorrências desse tipo. Em Vicente Pires, um homem esfaqueou, gravemente, a ex-mulher com 21 anos; em Ceilândia, um homem de 35 anos, seguiu a ex e disparou a espingarda de 12 mm. e, no Gama, um homem com 21 anos feriu com um canivete um casal de adolescente com 15 anos, sendo detido suspeito de tentativa de homicídio e de feminicídio. 

*Ana Liési Thurler, socióloga, autora de Em Nome da mãe. O não-reconhecimento paterno no Brasil e Pós-patriarcado. Um tempo em construção.

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