Líder comunitária, quilombola
Francisca Ferreira, ou Chica Ferreira, foi uma das fundadoras do Quilombo Conceição das Crioulas, em Pernambuco. No início do século XIX, Chica, sua irmã, Mendecha Ferreira, e outras quatro mulheres saíram do Quilombo de Palmares, a fim de construir uma comunidade independente. Em sua nova terra, as seis mulheres colhiam, fiavam, teciam e comercializavam algodão com o intuito de um dia conseguirem comprar esse terreno. Em 1802, conseguiram comprar as terras do Quilombo Conceição das Crioulas, se instalando oficialmente no território.
Segundo a memória da comunidade e documentos históricos, a função de Francisca Ferreira era a de liderar o quilombo e expandir o território, construindo fortes relações dentro e fora da comunidade. Chica liderou inúmeras mulheres, construindo um espaço seguro para as vidas dos quilombolas. Atualmente, é considerada a matriarca ancestral de Conceição das Crioulas, além de “mãe fundadora”, “guerreira” e “guia” do quilombo em função de seu papel na fundação e gestão da comunidade, ao lado de suas irmãs quilombolas.
A devoção de Francisca Ferreira e suas companheiras a Nossa Senhora da Conceição é perceptível através da construção de uma capela em sua homenagem e de doação de parte das terras feita à padroeira.
No dia 1º de novembro de 2006, a comunidade fundou o Centro de Produção Artesanal Casa Comunitária Francisca Ferreira. À época da fundação, o Centro tinha capacidade para receber 80 artesãos para o desenvolvimento de trabalhos que contribuam com a herança cultural do local. Francisca Ferreira foi uma das onze homenageadas com bonecas de caroá, confeccionadas por artesãs e artesãos do Quilombo Conceição das Crioulas. Conforme a embalagem: “Cada uma representa uma personagem marcante da história desse povo que soube a partir da união vencer grandes desafios e que continua forte e atuante na luta das comunidades quilombolas”. A embalagem da boneca conta com a seguinte descrição da fundação do quilombo: “arrendaram e adquiriram a posse da terra que hoje é conhecida como Conceição das Crioulas”.
A despeito de históricas tentativas de expulsão do Quilombo Conceição das Crioulas de seu território, atualmente a comunidade colhe frutos de sua resistência contínua frente aos sistemas colonial e pós-colonial. Desde o início de sua trajetória, apesar de algumas invasões bem sucedidas, houve (i) a reconquista de parte das terras reivindicadas, (ii) a construção da primeira Biblioteca Afro-indígena do Brasil, (iii) de um posto de saúde, (iv) de um cemitério, (v) de correios, (vi) de um mercado público e (vii) de quadras esportivas. O documento de compra das terras foi realizado em nome de Francisca Ferreira, sendo passado através das gerações para a titularidade dos novos líderes escolhidos a cada geração.
Não há informações a respeito da morte de Francisca Ferreira. No entanto, o legado de Francisca Ferreira e suas irmãs quilombolas continua vivo e pulsante através de todos que vivem no território conquistado por essas mulheres em uma época com regime colonial escravocrata. Cabe ressaltar que atualmente há várias lideranças femininas em Conceição das Crioulas: benzedeiras, parteiras, presidentes de associações e partidos políticos, professoras e sindicalistas que lutam pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.
Palavras-Chave/TAG: #mulhernegra #quilombo #liderança #matriarca
Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Emilson Gomes Junior, Schuma Schumaher e Sofia Vieira.
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas
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