• Maria de Lima das Mercês (1800 – 1864)

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11 de setembro de 2023 por 

Professora e ativista política contra a fome e a favor da educação de todas as crianças.

Maria de Lima das Mercês foi uma importante educadora e filantropa em Salvador, Bahia, no século XIX. Schuma Schumaher e Erico Vital Brazil em Dicionário Mulheres do Brasil refletem sobre sua trajetória: “Negra, pobre e sem família, vivia em Salvador (BA), onde teve que enfrentar as dificuldades de sua condição social e étnica. Desde menina, ficava extremamente penalizada vendo outras crianças, pobres e órfãs como ela, abandonadas, perambulando pelas ruas. Essa preocupação a acompanhou até a vida adulta, quando a compartilhou com o pároco, padre Francisco Gomes de Sousa, que, diante da disposição e dedicação de Maria, envidou todos os esforços para a criação do abrigo com que ela sonhava. Fundaram então a casa abrigo, e a direção foi confiada a Maria. Em 1850, com a morte do pároco, ela solicitou ao governo auxílio para sua manutenção, levando o presidente da província a dar-lhe total apoio e nomeando-a oficialmente diretora. Após sua morte, o abrigo ficou sob os cuidados das irmãs de São Vicente de Paula.”

Sobre sua trajetória, Daniel Jorge Marques Filho publicou em sua página do Facebook Brazil Imperial o texto intitulado A Esquecida Protetora dos Órfãos de Salvador, apresentando foto da professora com uma das crianças de seu abrigo, produzida por Hermann Kummler em 1862. O autor da postagem viral afirma que Maria havia recebido pouca instrução formal e nos revela: “Era conhecida pelo povo como a “Virtuosa Maria de Lima das Mercês” pois sacrificou sua vida humilde pela caridade de quem era ainda mais miserável. Um periódico da época descreveu que: ‘Maria recebia inúmeras crianças, umas brancas como os jasmins, outras negras como a noite sem estrellas, aquellas, a rir, a brincar despreoccupadas, olhar limpido como a sua consciencia, ou languido pela febre, das urgentes necessidades, que conduzem a mais das vezes a podridào do vicio e do vicio á cadeia e de la aos prezidios’”. Segundo a reportagem O anjo bom que a Bahia apagou da memória: conheça Maria de Lima das Merces, de João Gabriel Galdea, que menciona o texto de Daniel Jorge Marques Filho, o trecho foi retirado do livro Mulheres Illustres do Brazil, de Ignez Sabino, publicado em 1899.

Sobre o livro de Ignez Sabino, a reportagem de Daniel Jorge Marques Filho nos ensina: “Na obra, ela perfila várias personagens importantes da história do país até então — inclusive outras conterrâneas que tiveram merecidos reconhecimentos, como Maria Quitéria e Ana Nery. Ignez Sabino quase não fora contemporânea de Maria de Lima das Mercês [que nasceu e morreu dentro do período da escravidão no país, só abolida em 1888], mas não fosse a luta dessa poetisa e biógrafa pelos direitos das mulheres, a história da filantropa ignorada estaria completamente apagada.” Isso nos faz refletir sobre como o reduzido número de fontes oficiais sobre esta formidável educadora pôs em risco a preservação de sua memória. Felizmente, nota-se, através dos textos aqui mencionados e deste aqui produzido, há esforços na preservação da história dessa mulher brilhante que fez bem a tantos que precisaram, promovendo acesso à educação e a segurança física, psicológica, espiritual e alimentar a centenas de pessoas.

Importa trazermos aqui um trecho doce do livro de Ignez, apresentado na reportagem de João Gabriel Galdea, demonstrando a visão das crianças sobre Maria: “Os pequeninos achavam nella os melindres do amor materno. Pois não era ella mulher. Desse punhado de orphãas que gratas a sua protectora, cobriam de affagos a quem soube educar homens para o trabalho e mulheres honestas para o exercicio util da vida pratica.” Tal demonstra que praticou seu ofício com sucesso, se conectando verdadeiramente com aquelas crianças enquanto cuidava delas e de suas educações.

João Gabriel Galdea expõe que Ignez, ao final de seu texto, menciona que a “ingratidão humana” levou Maria ao esquecimento, não lhe restando sequer o retrato (no caso, lembramos que foi localizado apenas um retrato de Maria, produzido por Hermann Kummler em 1862). O repórter também menciona a visão da professora Denise Santos, mestra em História da Cultura Africana e Afro-brasileira: “A narrativa dominante, uma das características da colonialidade, tem suas raízes em atingir, nos âmbitos físico e mental, violentamente as populações negras. Essa narrativa invisibiliza, ridiculariza, despreza e desumaniza a história de mulheres e homens que tiveram contribuições significativas ao nosso país. Infelizmente é o que aconteceu com Maria de Lima das Mercês que teve a sua história massacrada pela visão colonizadora eurocêntrica, racista, misógina e patriarcal.”

Segundo Daniel Jorge Marques Filho e João Gabriel Galdea, Maria faleceu em 1864. Preservando sua memória, a página virtual Mulher 500 anos atras dos panos apresenta gratuitamente o texto Maria de Lima das Mercês. Já a Wikipedia descreve a vida e obra da autora disponibilizando também fácil acesso a duas publicações mencionando a vida e a obra de Maria. A primeira e o texto Mulheres celebres – Um anjo de caridade, de D. Jayme para o Seminário Alegre, Político, Critico e Esfuziante, de 1937, Rio de Janeiro. D. Jayme afirma: “Até o anno de 1850 conseguiu sustentar o pequeno asylo que fundàra; mas a idade não lhe permitia mais trabalhar como dantes. Felizmente, o governo da Provincia veiou em seu auxilio e tomou conta do estabelecimento, conservando-a no cargo de sua diretora até morrer.” A segunda é a publicação Brasileiras Célebres, de 1924. A publicação resume: “Na Bahia, MARIA DE LIMA DAS MERCÊS, de condição humilde, funda, auxiliada por um padre, um asylo para creanças desvalidas da sorte. Este asylo esteve sob a sua direção até o anno de 1850, passando depois, com a sua morte, a ser dirigido pelas irmãs de S. Vicente.” Ambos os documentos estão contidos na Biblioteca Nacional Digital do Brasil, da Fundação Biblioteca Nacional.

Texto Adaptado do verbete contido no Dicionário Mulheres do Brasil por: Emilson Gomes Junior e Schuma Schumaher.

Palavras-Chave/TAG: #racismo #classismo #antirracismo #lutadeclasse #assistenciasocial

REFERÊNCIAS:

  • Produções acadêmicas:

JAYME, D. Mulheres celebres – Um anjo de caridade. Semanario Alegre, Politico, Critico e Espusiante: Rio de Janeiro, 1937. Disponível em: Fon Fon : Semanario Alegre, Politico, Critico e Espusiante (RJ) – 1907 a 1958 – DocReader Web (bn.br). Acesso em 07 dez 2022.

Nação Brasileira. Brasileiras célebres. Ano II, nº. 2: Rio de Janeiro, agosto de 1924. Disponível em: Nação Brasileira (RJ) – 1923 a 1947 – DocReader Web (bn.br). Acesso em 07 dez 2022.

SABINO, Ignez Sabino. Mulheres Ilustres Do Brasil. Hardpress Publishing: 16 de fevereiro de 2020. Disponível em: Mulheres Ilustres Do Brasil | Amazon.com.br. Acesso em 07 dez 2022.

SCHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Dicionário Mulheres do Brasil, de 1500 até a atualidade: biográfico e ilustrado. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

  • Sites:

FILHO, Daniel Jorge Marques. Uma Esquecida Protetora dos Órfãos de Salvador. Facebook, Brazil Imperial: 3 de fevereiro de 2022. Disponível em: (9) Facebook. Acesso em 07 dez 2022.

GALDEA, João Gabriel. O anjo bom que a Bahia apagou da memória: conheça Maria de Lima das Mercês.  Correio: Salvador, 22 de fevereiro de 2022. Disponível em:  O anjo bom que a Bahia apagou da memória: conheça Maria de Lima das Mercês – Jornal Correio (correio24horas.com.br). Acesso em 07 dez 2022.

REDEH – Rede de Desenvolvimento Humano. Mulher 500 anos atrás dos panos. Maria de Lima das Mercês. Rio de Janeiro. Disponível em: Maria de Lima das Mercês (1800-?) – Mulher 500 Anos Atrás dos Panos. Acesso em 07 dez 2022.

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