Atriz, travesti e ativista política.
Rogéria foi uma atriz, cantora e maquiadora que desenvolveu sua carreira principalmente no teatro, no cinema e na teledramaturgia do Brasil e da Europa. Nasceu, em 25 de maio de 1943, no município de Cantagalo, Rio de Janeiro e foi batizada pelo nome de Astolfo Barroso Pinto. Iniciou sua carreira enquanto maquiadora na TV Rio, canal televisivo da época. A partir deste momento, inaugurou sua relação profissional com o ramo do entretenimento. É famosa por se autoproclamar a “travesti da família brasileira”, em função de ter sido uma das mais reconhecidas artistas travestis da história do país.
Rogéria foi uma das primeiras travestis no Brasil a construir carreira artística e ganhar notoriedade por seu ofício. Após anos se apresentando no país, Rogéria fez seu début internacional em Luanda, Angola, lá permanecendo por uma temporada de 1 ano e 2 meses. No entanto, obteve sucesso internacional apenas após viajar a Barcelona. Após 6 meses na Espanha, com a ajuda de Coccinelle, viajou a França com uma carta de recomendação para apresentar a Monsieur Marcel, proprietário do Carrousel de Paris. No entanto, foi com seu talento, sem a necessidade de apresentar a carta, que Rogéria passou a se apresentar na casa de espetáculos parisiense.
Rogéria e outras travestis brasileiras compuseram uma rede internacional de apoio a travestis e mulheres trans. Desta forma, facilitavam a circulação dessas mulheres por todo o mundo, bem como auxiliavam o crescimento profissional dessas jovens. Destaca-se que a transfobia da época podia ser vista a partir do fato e que muitas dessas mulheres corriam risco de vida em suas terras natais. Similarmente, o mercado de trabalho da época não facilitava a entrada e permanência de mulheres trans e travestis em postos formais, excluindo-as de segurança alimentar e do mercado de trabalho, bem como inviabilizando a experiência de direitos trabalhistas como aposentadoria, por exemplo. Inclusive, o fato de que Rogéria e outras serem uma exceção a travestis na pobreza, bem como o fato de que mulheres trans e travestis da época conseguiam se manter principalmente através da arte ou da prostituição, demonstram as limitações da sociedade a elas.
Ainda, destaca-se que a rede de travestis e mulheres trans da qual Rogéria fazia parte facilitava o acesso a tratamentos estéticos, com o intuito de viabilizar as realizações dos ideais corporais que cada uma daquelas irmãs pudesse ter. Neste sentido, a partir dos espaços seguros que criavam, tais mulheres também refletiam sobre vida, gênero, sexualidade, arte. A exemplo, Rogéria publicamente se referenciava com artigos feminino e masculino, bem como compartilhava suas reflexões sobre como ela, em particular, e todas as travestis, em geral, se sentem e se percebem enquanto travestis.
Dentre os reconhecimentos profissionais de Rogéria, destaca-se que foi vencedora do Troféu Mambembe, criado pelo Ministério da Cultura do Brasil (MinC) em 1977, na categoria de Melhor Atriz. Ainda, Rogéria foi coreógrafa e dançarina da comissão de frente do Grêmio Recreativo Escola de Samba São Clemente, em 2008. Através do enredo O Clemente João VI no Rio: a redescoberta do Brasil…, Rogéria representou Dona Maria I, apelidada de “a Piedosa” e “a Louca”. Rogéria também realizou diversas aparições na televisão brasileira, em programas apresentados por Chacrinha, Jô Soares e Luciano Huck, dentre outros. Ainda, mencionamos alguns dos filmes dos quais Rogéria participou: Enfim Sós… Com o Outro, de 1968; O Gigante da América, de 1978; A Causa Secreta, de 1994; e Copacabana, de 2001.
Rogéria também lançou em 2016 uma biografia chamada Rogéria – Uma mulher e mais um pouco, escrita por Marcio Paschoal. No mesmo ano, estreou o longa-metragem Divinas Divas. O documentário mostra os bastidores do espetáculo de teatro homônimo, apresentado no Teatro Rival. Dirigido por Leandra Leal, neta de Américo Legal, dono do teatro à época em que Rogéria e outras iniciavam suas carreiras, o filme revela que o Teatro Rival foi o primeiro a abrir as portas para espetáculos realizados por aquelas mulheres trans e travestis. O filme também retrata aquelas atrizes na atualidade, enquanto preparam o espetáculo teatral homônimo, compartilhando com o público reflexões sobre suas vidas, o Brasil, amor e arte. Em função do sucesso do espetáculo teatral e do documentário, Rogéria e suas companheiras viajaram pelo Brasil e realizaram diversos eventos. Dentre eles, menciona-se que Divinas Divas teve um trio elétrico na Parada LGBT de São Paulo, em 2017.
Rogéria faleceu em 4 de setembro de 2017, após uma série de internações em função de infecções que teve durante o ano. Faleceu em decorrência de um choque séptico, após uma crise convulsiva. Em 2019, o Canal Brasil lançou o documentário Rogéria – Senhor Astolfo Barroso Pinto, em homenagem à artista que foi uma das mais célebres e inesquecíveis da televisão brasileira.
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Elaborado por: Emilson Gomes Junior
REFERÊNCIAS
- Produções acadêmicas:
SOLIVA, Thiago Barcelos. Internacionais e glamorosas: sobre a carreira das “travestis profissionais”. Artigo. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Centro de Ciências da Saúde. Santo Antônio de Jesus, Bahia. 2018.
- Sites:
AdoroCinema. Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto. 2018. Disponível em: Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto – Filme 2018 – AdoroCinema. Acessado em 22 nov 2022.