O Dia Nacional da Escritora e do Escritor foi instituído no Brasil em 1960, em celebração à realização do I Festival do Escritor Brasileiro, ocorrido em 25 de julho daquele ano. A criação da data foi uma iniciativa da União Brasileira de Escritores (UBE), entidade que, à época, tinha como presidente João Peregrino Júnior e como vice-presidente o renomado Jorge Amado. O objetivo era valorizar e homenagear os escritores brasileiros, reconhecendo sua contribuição à cultura, à educação e à identidade nacional. A UBE segue até hoje incentivando escritores e leitores em todo o território nacional, por meio de premiações, publicação de jornais e manifestações em prol da literatura.
Coincidentemente, décadas depois, o dia 25 de julho foi escolhido como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Esta data remete ao 1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado em 1992. No Brasil, em 2014, o dia foi oficialmente reconhecido como o Dia Nacional de Teresa de Benguela e da Mulher Negra. Nesse contexto, é fundamental destacar a presença das escritoras negras brasileiras, integrando as celebrações do dia 25 de julho com a iniciativa do “Julho das Pretas”, um período dedicado à visibilidade das mulheres negras e à luta por igualdade racial e de gênero.
A celebração do Dia Nacional da Escritora e do Escritor também nos convida a refletir sobre a presença das mulheres na literatura, que historicamente enfrentaram dificuldades para obter reconhecimento e espaço nas publicações. Durante séculos, muitas escritoras foram obrigadas a publicar sob pseudônimos masculinos para serem levadas a sério pela crítica e pelo público. Assim, este dia representa uma oportunidade para celebrar e homenagear as escritoras brasileiras, bem como discutir os desafios ainda existentes, como a desigualdade de oportunidades e a sub-representação no cânone literário nacional, buscando romper as barreiras de gênero e raça.
Diversas autoras brasileiras têm sido fundamentais para a literatura nacional e mundial, trazendo diversidade de vozes, estilos e perspectivas. Entre elas, podemos destacar:
- Clarice Lispector, considerada uma das maiores escritoras brasileiras, com obras marcadas pela sensibilidade e introspecção, como A Hora da Estrela;
- Carolina Maria de Jesus, escritora reverenciada internacionalmente, conhecida por obras como Quarto de Despejo, que revela com profundidade a vida nas favelas brasileiras, sendo dela a frase emblemática: “Quem inventou a fome são os que comem”;
- Conceição Evaristo, uma das maiores escritoras contemporâneas, que cunhou o conceito de escrevivência, uma escrita que transcende as normas cultas e valoriza a cultura popular e as memórias afro-brasileiras. Em 2024, foi eleita Imortal da Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira de nº 40;
- Cora Coralina, mineira, poetisa e contista brasileira. Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965, quando já tinha quase 76 anos de idade, apesar de escrever seus versos desde a adolescência;
- Cecília Meireles, poeta e educadora, autora de Romanceiro da Inconfidência, uma das mais relevantes obras da literatura brasileira;
- Maria Firmina dos Reis, mulher negra, considerada a primeira romancista brasileira. Autora de Úrsula, publicado em 1859, sendo o primeiro romance a abordar a questão abolicionista no Brasil.
- Enfim, são tantas escritoras que seria impossível mencionar todas aqui, mas destacamos as que conseguimos realizar o verbete biográfico em nosso Portal da Memória Feminista Antirracista: Maria Beatriz Nascimento (1942 –1995); Eliane Potiguara ( Escritora e Liderança Índigena); Lenira Maria de Carvalho (1933 – 2021) ; Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 – 1885) ; Mãe Beata de Yemanjá (1931 – 2017) ; Sueli Carneiro (1950 – atualmente) ; Rachel de Queiroz (1910-2003) ; Pagu (1910 – 1962); Nélida Cuiñas Piñon (1937 – 2022) ; Narcisa Amália de Campos (1852 – 1924); Lydia Bomílcar Besouchet (23 de maio de 1908 – 14 de janeiro de 1997) ; Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934); Fátima de Oliveira (1954 –2017) ; Eunice Mafalda Michiles (1929 – atualmente ); Eunice Peregrina de Caldas (1879 –1967) ; Heleieth Saffioti (1934 – 2010) ; Damiana da Cunha Meneses (1779 – 1831) ; Cecília Prada (23 de novembro de 1929 – atualmente); Carlota Pereira de Queirós (1892 – 1982) ; Antonieta de Barros (1901 – 1952) ; Ana Cristina César (1952 – 1983) ; Alzira Rufino (1949 – 2023) ; Rose Marie Muraro (1930 – 2014) ; Luiza Bairros (1953-2016) ; Bertha Lutz (1894 – 1976); além de nossa querida Schuma Schumaher, idealizadora deste portal.
Essas escritoras, ao lado de figuras como Machado de Assis, Ariano Suassuna e Guimarães Rosa, moldam a identidade literária do Brasil. É essencial que mantenhamos vivos os legados dessas mulheres formidáveis, bem como de todas as escritoras brasileiras, em respeito à memória nacional e às inúmeras gerações impactadas por suas obras.
Neste Dia Nacional da Escritora e do Escritor, celebremos não apenas as conquistas literárias, mas também o papel da literatura na construção de uma sociedade mais justa, plural e inclusiva.
Texto escrito por: Ana Laura Becker e Emilson Gomes Junior
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REFERÊNCIAS:
- Produções acadêmicas:
FRUTUOSO, Maria Fernanda Petroli; VIANA, Cássio Vinícius Afonso. Quem inventou a fome são os que comem: da invisibilidade à enunciação – uma discussão necessária em tempos de pandemia. Interface: 2021. Disponível em: SciELO – Brasil – Quem inventou a fome são os que comem: da invisibilidade à enunciação – uma discussão necessária em tempos de pandemia Quem inventou a fome são os que comem: da invisibilidade à enunciação – uma discussão necessária em tempos de pandemia. Acesso em 31 jul 2024.
- Sites:
CAMPOS, Tomaz. 25/07 – DIA NACIONAL DA ESCRITORA E DO ESCRITOR. Sinpro/DF – Sindicato dos Professores do Distrito Federal: 25 de julho de 2024. Disponível em: 25/07 – Dia Nacional da escritora e do escritor – SINPRO-DF (sinprodf.org.br). Acesso em 31 jul. 2024.
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CONCEIÇÃO EVARISTO É ELEITA A NOVA IMORTAL DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS. Academia Mineira de Letras: Belo Horizonte, 15 de fevereiro 2024. Disponível em: CONCEIÇÃO EVARISTO É ELEITA A NOVA IMORTAL DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS | Academia Mineira de Letras. Acesso em 31 jul 2024.
ILHÉU, Taís. Estudante cita Carolina Maria de Jesus e tira mil na redação do Enem. Guia do Estudante: 31 de janeiro de 2024. Disponível em: Estudante cita Carolina Maria de Jesus e tira mil na reda… | Guia do Estudante (abril.com.br). Acesso em 31 jul. 2024.
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O Dia Nacional do Escritor é celebrado nesta segunda-feira. MT – Ministério do Turiso: Brasília, DF, 25 de julho de 2022. Disponível em: O Dia Nacional do Escritor é celebrado nesta segunda-feira — Ministério do Turismo (www.gov.br). Acesso em: 31 jul. 2024.